por Roberto Goldkorn
Tudo faz sentido. Quando não faz é por que não sabemos o suficiente para fazermos as conexões certas, ou o tempo não escoou o bastante para que, olhando para trás, possamos ver essa cadeia de elos interligados.
Estudar a História pode ser um exercício preciso para entender essa rede invisível que nos conecta verticalmente no espaço e horizontalmente através do tempo.
Costumava citar duas histórias conectadas para justificar a minha crença de que estamos sim evoluindo, lentamente.
Na Europa medieval existia um costume chamado de jus primae noctis em latim, "direito a primeira noite em português, com o qual o senhor dos escravos (no caso da Idade Média dos servos da gleba) podia reivindicar o direito de passar a noite de núpcias de seus servos com a noiva, no lugar do marido legítimo. Tudo indica que de uma forma mais informal esse direito tenha sido invocado por senhores de escravos brasileiros nos tempos mais modernos. Mas lendo sobre mitos bem antigos, como os sumerianos e babilônicos, encontro um verso no clássico Gilgamesh que diz o seguinte:
"Quando o rei Gilgamesh era um tirano para o seu povo
Exigia como seu direito de nascença,
O privilégio de dormir com as noivas,
Antes que fosse permitido aos maridos".
Os estudiosos datam esse texto em cerca de 1000 a 700 a.C. ou seja uma bagatela de quase 3 mil anos atrás!
Foi dessas terras distantes e desse tempo ainda mais distante que descobrimos o bizarro, para nossos padrões, costume de enterrar o rei junto com as suas mulheres, servos, riquezas e até os animais de estimação. Isso acontecia no antigo Egito, na Pérsia, na Babilônia etc. Mas recentemente (na década de 80) foi descoberto no Peru, um senhor da nobreza enterrado junto com uma mulher, crianças, e até cachorro, no que os arqueólogos concordam em se tratar de um costume muito antigo onde o chefe era sepultado junto com a sua entourage (círculo de amizades ou familiar) para que lhe servissem no pós-morte.
Um amigo foi contratado pelos descendentes de um senhor de escravos no interior da Bahia, que segundo diziam, se fez enterrar com seu tesouro e doze escravos aos quais foram cortados os pés "para que não fugissem", para tentar encontrar esse túmulo e desenterrar o "tesouro". Segundo os descendentes, isso havia acontecido por volta de 1860. Ele não conseguiu chegar ao local "amaldiçoado".
Esses compartilhamentos de usos e costumes de tempos tão recuados e lugares que aparentemente não tiveram comunicação entre si, levanta algumas questões. A mais intrigante é: existiu um passado comum a toda humanidade? Um passado onde alguns mitos foram comungados antes que as culturas se dispersassem pelo planeta? Se isso é verdade por que não temos registros desse passado comum?
Outra possibilidade, caso a teoria do passado comum não se sustente. Essa universalização de alguns conhecimentos, mitos e costumes, pode ser devida a um ancestral comum?
Seriam eles alienígenas?
Alguém que tenha "rodado pelo planeta" impondo a sua cultura e suas regras?
Se isso for verdade, as lendas e mitos antigos sobre deuses que vieram à Terra para ensinar os humanos, podem esconder a existência com seres de outros planetas tomados por deuses pelos nossos ancestrais primitivos?
Aliás, em muitos mitos de criação, tanto no Oriente, quanto no Ocidente, vamos encontrar referências a seres sobre-humanos que desceram dos céus para ensinar desde agricultura, à metalurgia, e mais, suas narrativas são impressionantemente similares apesar da possibilidade de comunicação entre essas culturas ser praticamente zero.
Sei que esse debate não enche barriga de ninguém, mas acho que essa curiosidade sadia faz parte da eterna busca (de alguns) humana pelas suas origens, da mesma forma que nas novelas televisivas atuais o tema da busca do verdadeiro pai é constante e praticamente obrigatório.
Existe uma lacuna na nossa origem, um elo perdido, um exame de DNA que ainda não foi feito para sabermos quem são nossos verdadeiros pais ou como tudo começou.
A ciência não tem respostas porque procura pistas concretas que possam ser pesadas, medidas e analisadas, e talvez nosso passado esteja aquém dessas sobras do tempo. Mas existe uma fonte de buscas e apreensão: os mitos. Ler os mitos antigos, apreciar a sua beleza, encontrar nas entrelinhas informações e dicas sobre os povos que os criaram (ou foram criados por eles) é uma viagem fascinante que a meu ver vale a pena empreender.
Para terminar uma mensagem bela de um cientista que tem um pezinho nas estrelas:
"Ainda não os deparamos com os nossos ancestrais esquecidos, mas começamos a sentir a sua presença no escuro. Reconhecemos as suas sobras aqui e ali. Eles já foram tão reais quanto somos hoje. Não estaríamos aqui se não fossem eles. Nossa natureza e a deles possuem uma ligação indissolúvel, não obstante os éons que nos separam. A chave para sabermos quem somos nos aguarda nessas sombras.
Carl Sagan e Ann Druyan (citado por Kenneth C. Davies em Tudo o que Precisamos Saber -e nunca aprendemos- sobre Mitologia, editora Difel, Rio de Janeiro, tradução Maíra Blur.