por Jocelem Salgado
Hoje meu “artigo” vai ser diferente… Achei interessante responder aos meus leitores a respeito de alimentos funcionais, o papel deles no organismo, e como atuam para prevenir e reduzir o risco de doenças, principalmente crônico-degenerativas como: câncer, diabetes, osteoporose, doenças cardiovasculares, Alzheimer, Parkinson, depressão entre outras.
Vamos às perguntas:
1. O que são alimentos funcionais e qual o papel deles na nossa alimentação?
Resposta: Para ser considerado alimento funcional, o produto deve conter componentes/ingredientes capazes de nutrir e também de prevenir/reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis tais como as cardiovasculares, o câncer, diabetes, entre outras. A eficácia e segurança desses alimentos devem ser asseguradas por estudos científicos.
Ao contrário dos remédios, os alimentos funcionais não curam doenças. Eles apresentam componentes ativos capazes de prevenir doenças ou reduzir o risco de certas doenças. Quando consumidos em sua forma natural, ou seja, na forma de alimento, não apresentam contraindicações e podem ser consumidos com tranquilidade, sem prescrição médica. Já os princípios ativos isolados em cápsulas, devem ser prescritos por profissionais de saúde, uma vez que existe uma dosagem limite que deve ser considerada para que não haja danos à saúde.
2. Quais os principais alimentos funcionais pesquisados no Brasil e no mundo?
Resposta: São inúmeros os alimentos e as substâncias ativas pesquisadas. Entre as principais, destaco a soja, peixes e óleos marinhos, tomate e goiaba vermelha, frutas vermelhas e roxas como amora, uvas, morango, mirtilo, framboesa, as frutas cítricas, as crucíferas (brócolis, repolho, couve-flor, couve de bruxelas), alho e cebola, chá verde, cereais integrais como aveia e centeio, vinho tinto, probióticos (alimentos que contém micro-organismos vivos) entre outros…
3. Como a senhora vê a alimentação do brasileiro? Ela é adequada do ponto de vista nutricional?
Resposta: Infelizmente a alimentação do brasileiro já não é mais como antigamente. Por conta da industrialização crescente e do lançamento de produtos atraentes pela indústria, a nossa população vive hoje um processo que denominamos de transição nutricional. Diminuímos o consumo de alimentos ricos em fibras e pobres em gorduras como os cereais integrais, frutas e hortaliças, e aumentamos o consumo de alimentos ricos em açúcar, sal e gorduras, principalmente de origem animal. Essa alteração no padrão alimentar gerou ao que chamamos de transição epidemiológica, ou seja, deixamos de sofrer com as doenças infecciosas (comuns até a metade do século passado) e passamos a ter problemas seríssimos com as doenças não transmissíveis como cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, hipertensão etc
4. Quais alimentos podem ter um papel importante na redução do risco de doenças cardiovasculares? Como eles agem?
Resposta: Proteínas de soja e isoflavonas: a principal função desses dois componentes é reduzir o risco de doenças cardiovasculares, osteoporose e aliviar ondas de calor em mulheres na fase de menopausa. Estudos têm mostrado que as isoflavonas são também capazes de reduzir o risco de câncer de mama e de próstata.
• Ácidos graxos ômega 3: componentes encontrados em peixes e óleos de peixes marinhos, são capazes de reduzir doenças cardiovasculares e processos inflamatórios. Estudos recentes têm mostrado resultados positivos para doenças ligadas ao sistema nervoso como depressão, Alzheimer, entre outras. Eles podem ser encontrados em cápsulas ou em leites e iogurtes enriquecidos.
• Fitosterol: ingrediente extraído de óleos vegetais com ação positiva sobre as doenças cardiovasculares. Atualmente existe uma margarina no mercado com adição de fitosterol. No entanto, vale lembrar que tanto a manteiga como margarina são “gorduras” e quando consumidas em excesso aumentam a incidência do risco de doenças cardiovasculares.
• Fibras: advinda de fontes como aveia, centeio, farelos em geral, gomas, etc também proporcionam um bom funcionamento intestinal, reduzindo o risco de constipação (intestino preso), diverticulite e doenças mais graves como o câncer de cólon. Elas têm sido utilizadas para dar saciedade no tratamento da obesidade e reduzir o risco de doenças cardiovasculares e diabetes. São utilizadas em inúmeros alimentos e em quantidades variadas. Do meu ponto de vista, para funcionar bem, o alimento deve, no mínimo, conter mais de 5g de fibras por porção.
5. Os alimentos podem retardar o processo de envelhecimento, ajudando a prolongar a vida de uma pessoa?
Resposta: Os estudos científicos mostram que dentre vários fatores, a nutrição é a que mais está ligada à qualidade de vida e a longevidade do ser humano, sendo que várias mudanças decorrentes do processo de envelhecimento podem ser atenuadas com uma alimentação adequada e balanceada nos aspectos dietético e nutritivo. O consumo excessivo de alimentos ricos em gordura, sal, carboidratos simples (produtos refinados como açúcar) e o consumo exagerado de bebidas alcoólicas ao longo da vida, são hábitos amplamente relacionados com as alterações físicas e doenças ligadas ao envelhecimento. Ao contrário, a ingestão de alimentos ricos em fibras, vitaminas, minerais e fitoquímicos presentes em frutas, hortaliças, cereais integrais, nozes e castanhas variadas, está relacionada ao retardo do envelhecimento e redução de doenças relacionadas à idade.
6. Como deve ser a alimentação de uma pessoa que já passou dos 50 anos?
Resposta: A dieta deve incluir os seguintes alimentos:
– Cereais integrais (aveia, centeio, cevada, trigo, arroz etc) = ricos em fibras, vitaminas e minerais;
– Peixes marinhos (atum, sardinha, salmão, anchova, cavalinha, arenque) = ricos em um tipo de gordura que faz bem para o coração (ômega-3);
– Carnes magras/frango sem pele = fontes de proteínas com pouca gordura, vitaminas e minerais, principalmente vitamina B12 e ferro;
– Laticínios desnatados = ricos em proteínas e cálcio;
– Frutas e hortaliças variados = ricas em fibras, vitaminas, minerais e compostos fitoquímicos com ação antioxidante. Neste grupo destaco vegetais como brócolis, repolho (roxo é melhor), couve-flor, couve de Bruxelas, couve, rúcula, agrião, tomate bem vermelho e frutas como as cítricas (laranja, tangerina, limão etc), maçã e goiaba vermelha com casca, uvas roxas, amora, morango, framboesa, mirtilo, acerola, manga Tommy;
– Frutas secas: 1 castanha do Pará, 2 amêndoas, 1 damasco seco e algumas uvas passas/dia = chamo isso de coquetel da juventude, por ser rico em substâncias antioxidantes que retardam o envelhecimento precoce;
– Soja e derivados: fonte de proteínas, fibras e isoflavonas;
– Água: consumo de pelo menos 8-10 copos/dia. A inadequada ingestão de água pelos idosos leva a uma desidratação rápida e a problemas associados com hipertensão, elevação na temperatura corporal, constipação, náuseas e vômito, secura das mucosas, diminuição da excreção da urina e confusão mental;
– Suplementos alimentares: são necessários quando o indivíduo apresenta deficiências nutricionais causadas por hábitos alimentares inadequados. Isso se faz ainda mais necessário quando as alterações fisiológicas peculiares ao envelhecimento vêm associadas a múltiplas patologias. Nesse caso recomendo o uso de alimentos enriquecidos como o Suprinutri Senior.
7. É verdade que a soja pode beneficiar a saúde da mulher que está na menopausa? E quanto à saúde dos homens?
Resposta: Os estudos mostram que o consumo diário de proteína de soja por homens e mulheres reduz a incidência de doenças cardiovasculares, ao diminuir as taxas de colesterol, triglicérides, LDL-colesterol, bem como aumentar o colesterol bom, o HDL-colesterol. As pesquisas mostram também que, ao contrário das proteínas animais, que em geral exercem um efeito calciúrico (cada grama consumida corresponde a 1mg de cálcio na urina), as proteínas da soja favorecem a massa óssea, não comprometendo o cálcio do organismo.
Em mulheres, os estudos mostram que o consumo desde a puberdade favorece a redução do risco de câncer de mama até a vida adulta. E para aquelas que já se encontram na menopausa, as pesquisas têm se voltado para os efeitos do alimento sobre o alívio dos sintomas da menopausa, melhora da função cognitiva (memória, concentração etc.) e prevenção do Mal de Alzheimer. Para os homens, ensaios com animais experimentais estão demonstrando que o consumo de soja é capaz de reduzir a incidência de displasia prostática, uma lesão considerada pré-cancerígena. O uso dos fitoestrógenos da soja também tem sido capaz de proporcionar efeitos positivos em pacientes com tumores na próstata em fase de iniciação e promoção da doença.
8. O que a senhora diria para uma pessoa que precisa perder peso e está cansada de seguir fórmulas e dietas restritivas, sem ter sucesso? Existe algum alimento funcional que possa ajudar nesse caso?
Resposta: Sou completamente contra dietas radicais e restritivas. Dietas que reduzem ou privam um grupo inteiro de alimentos, sejam eles carboidratos, proteínas ou gorduras. Elas são perigosas e não devem ser seguidas. Em algum momento o organismo sentirá falta daquilo que lhe foi retirado. Parto do princípio que todos os alimentos e seus nutrientes são importantes para nossa saúde e desde que consumidos de forma equilibrada e harmoniosa, promovem peso corporal adequado que pode ser mantido por toda vida. A reeducação alimentar, do meu ponto de vista, é a melhor arma para aqueles que querem aliar perda de peso e saúde.
Para facilitar a reeducação alimentar, hoje há alimentos específicos que podem ser utilizados para proporcionar mais saciedade e manter o organismo nutrido, mesmo reduzindo as calorias diárias. Com base em toda minha experiência de mais de 20 anos na área de Nutrição e Alimentos, principalmente sobrepeso e obesidade, a nossa equipe desenvolveu recentemente um programa alimentar para redução e controle do peso. Trata-se de um programa contendo cardápios balanceados e hipocalóricos, apoiados por alimentos ricos em fibras e nutricionalmente completos, que funcionam como coadjuvantes da perda de peso. Esses alimentos foram desenvolvidos com base no conceito mais atual que existe em termos de Nutrição, ou seja, o de alimentação funcional. Um estudo clínico com 30 pessoas utilizando o programa foi concluído com sucesso em São Paulo. As pessoas perderam em média mais de 1 kg por semana.
9. Quais as principais dicas que a senhora dá para aquelas pessoas que querem reduzir o risco de câncer? A alimentação pode ajudar?
Resposta: Sim, com certeza. Aqui vão as dicas:
– Reduza o consumo de alimentos gordurosos: os estudos mostram uma associação do consumo de gorduras com certos tipos de câncer, principalmente de mama, colo e próstata.
– Coma mais cereais integrais, frutas frescas e vegetais variados. Enfatize o consumo de soja, frutas cítricas, frutas vermelho/roxas, crucíferas, chá verde, tomate, goiaba.
– Inclua generosas quantidades de alimentos ricos em substâncias fibrosas na alimentação. As fibras estão presentes nos cereais integrais, nas frutas e nos vegetais de um modo geral. Leguminosas como feijões, ervilhas, lentilhas e grão de bico também são ricas em fibras.
– É aconselhável reduzir a proporção de alimentos salgados, em conserva ou defumados. Isso inclui salsichas, bacon, cachorro-quente, peixe defumado, presunto.
– O álcool deve ser consumido com moderação. Existe uma forte ligação entre o álcool e o câncer de boca, do esôfago e do estômago.
– Devem-se evitar altas doses adicionais de vitaminas, bem acima das doses diárias recomendadas. Altas doses de determinadas vitaminas, podem levar a uma toxicidade, principalmente das vitaminas A, C e E. Somente tomar vitaminas complementares se sua dieta for pobre em vitaminas A, C e E (vitaminas importantes para reduzir o risco de câncer).
– Não comer demais. A obesidade está ligada a uma alta incidência de certos cânceres, principalmente do útero e dos rins.
– Evitar o excesso de café, chá quente e refrigerante. O câncer do estômago, no Japão está sendo associado ao excesso de chá quente (além do consumo de alimentos salgados demais). O chá, café, chocolate e refrigerante são ricos em substâncias chamadas metilxantinas, suspeitas de causar câncer.
– Evite carnes e peixes grelhados em carvão, ou qualquer outro alimento queimado. Já ficou plenamente demonstrado que grelhar sobre o carvão vegetal, produz substâncias cancerígenas.
– Cuidado com alimentos mofados ou passados (contém toxinas cancerígenas).
10. Quais os principais estudos que a senhora tem desenvolvido na área de alimentos funcionais? Existe algum site ou livro onde as pessoas possam ter acesso às suas pesquisas?
Resposta: Por favor, para essas e outras informações entre no e-mail logo abaixo ao lado da minha foto.