Tudo pode: os efeitos da educação mimimi

Por Dr. Bayard Galvão

Ano de 1997. Os alunos de psicologia da PUC-SP foram chamados (eu, inclusive) para assistir à palestra de uma das mais renomadas pedagogas da época. Em determinado momento, ela exclama: "As crianças sabem o que é melhor para elas. Precisamos apenas criar o contexto para descobrirem o que é realmente bom para si".

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Ao mesmo tempo, nas salas de aula, a pergunta de diferentes professores era "Como educar sem frustrar e sem exigir muito das crianças?".

Para diminuir a frustração e aversão, foi adicionado o "passar de ano sem ter notas o suficiente". Afinal, o certo seria "avaliar o aluno globalmente". Então, rodar por notas ruins começou a ser mal visto por algumas escolas e pais.

Ainda foi colocada a ideia de "qualidade é mais importante do que quantidade". Ou seja, que duas horas de “boa educação” à noite eram mais que suficientes entre pais e filhos. Este conceito caiu como uma luva para pais e mães que passavam o dia trabalhando enquanto seus filhos ficavam durante o dia com babás ou escolas.

Soma-se a essas ideias o conceito de melhoria da autoestima, associada ao aumento de elogios e diminuição de críticas.

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Efeitos da bomba implementadas em várias escolas

Aí estão os ingredientes da bomba implementada em várias escolas no final do século XX: pouca orientação + pouca exigência + muitos elogios + diminuição de punição (como rodar de ano ou ir para a diretoria e ser suspenso) + poucas críticas.

Resultado gritante

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Entrar na vida adulta e estar completamente despreparado para lidar com exigências; bullying; profissionais normais (que não passam a mão na cabeça); tornar estudo e trabalho uma tarefa dificílima (que era comum há 20 anos); ficar facilmente incomodado com colegas e chefes; desenvolver insônia com facilidade; medo de ir trabalhar ou estudar por ter que lidar com situações aversivas comuns; desenvolver tendência a quadros de ansiedade e/ou depressão, desânimo em relação à vida e pensamentos suicidas.

Eis o efeito da educação "mimimi". E se as coisas não começarem a mudar, isso só tende a piorar.
 

Fonte: Bayard Galvão é psicólogo clínico formado pela PUC-SP.  Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros.