por Regina Wielenska
Um amigo dirigiu-se na semana passada aos Correios para dar uma ajuda a alguém que escrevera ao “Papai Noel” da ECT para pedir algo. Ao menos na agência que visitou, os pedidos eram de celulares de modelos avançados, games eletrônicos e coisas desse naipe. Ele disse à atendente que nesse ano muitos colaboradores sairiam frustrados, não poderiam atender a pedidos assim, e mesmo que tivessem posses para tal, achavam que essa verba deveria ser dirigida a coisas mais prioritárias. Não se sabe quem escreveu os pedidos, se adulto ou criança, seu nível socioeconômico etc.
Uma coisa sabemos, quase todos desejam o que não conseguem adquirir. A publicidade seduz pessoas generalizadamente. Quem possui o mais novo modelo de celular, carro ou peça de grife ganha, ao menos no seu ambiente imediato, um certo olhar de inveja ou admiração de quem está ao seu lado. O ato de ter (carro, joia, roupas etc) tornou-se valorizado em demasia, obscurecendo o ser (dedicado, honesto, competente, carinhoso, compassivo, gentil, estudioso, esforçado etc).
Meu amigo ficou sabendo que nos anos iniciais da campanha de Natal dos Correios, eram mais usuais pedidos de material escolar, remédios, cadeira de rodas, cesta de alimentos, par de óculos, roupa para frio, calçados, ajuda para tratar dos dentes, coisas que pareciam mais emergenciais e básicas, caracterizando uma privação de recursos sem tamanho.
Não há como afirmar que a mudança do perfil dos pedidos ocorreu no Brasil todo, acho pouco provável. Mas é sintomática a mudança: quais valores prevalecem na sociedade atual? Uma matéria jornalística que li descrevia que jovens de classe média no Japão tornavam-se acompanhantes e prostitutas ocasionais de homens ricos para financiarem a compra de objetos de grife, e muitas famílias fechavam os olhos para isso.
Aqui no Brasil, jovens roubam ou assaltam pessoas para trocar o resultado da ação criminosa por drogas ou revender o bem a preço de banana por aí. Nem sempre os criminosos são pessoas em situação de privação, eles simplesmente aprenderam como é “fácil” e relativamente pouco arriscado fazer dinheiro lesando terceiros.
Recomendo a leitura do livro “Comportamento Moral – Uma Proposta para o Desenvolvimento das Virtudes”, obra organizada pela professora universitária e psicóloga Paula Gomide. A discussão que norteia os capítulos é basicamente a seguinte: quais práticas, exercidas pelas famílias e demais instâncias reguladoras da sociedade produzirão crianças, adolescentes e adultos honestos, compassivos, dignos? O Brasil perdeu a mão, ao menos no que tange a boa parte dos detentores de cargos eletivos na política brasileira e de grupos empresariais. Aonde vamos parar?