por Renato Miranda
O envolvimento de jovens com o esporte conduz, na maioria das vezes, à participação em competições. Em muitos casos desde a fase infantil, por volta dos nove anos. Principalmente nos esportes individuais nos quais cada ação pode corresponder imediatamente ao sucesso ou fracasso em termos de resultado como é o caso do judô, natação, tênis e outros. Pode-se especular que o impacto da experiência esportiva pode gerar consequências inoportunas como ansiedade excessiva, decepção e tristeza.
Isso decorre principalmente onde o ambiente esportivo é muito exigente no que se refere ao desempenho. Nesse ambiente, pais, treinadores e demais adultos envolvidos transmitem às crianças, quase que naturalmente e muitas vezes, sem perceberem, uma atmosfera de tensão além daquilo que a própria competição sugere e, por conseguinte, há uma exacerbação das emoções como se cada experiência competitiva fosse o acontecimento mais importante da vida.
Para evitar que isso ocorra ou ao menos amenizar tais reações negativas frente ao desempenho, é primordial que o desenvolvimento da saúde física, mental e emocional do jovem aprendiz (lembre-se: as crianças-atletas, na verdade são aprendizes, por melhor que pareçam ser!), seja o grande objetivo. Satisfação em melhorar e ter a percepção de desenvolvimento próprio, independentemente de resultados é mais significante do que o próprio resultado esportivo de uma competição entre crianças.
Não obstante, a discussão sobre se jovens deveriam ou não competir é oportuno considerar que há uma forte tendência da prática esportiva desembocar em competições. Portanto, acredito ser oportuno encarar a competição como uma experiência de divertimento. E quando o jovem compete maior é a tendência do mesmo se adaptar, adquirir tranquilidade e naturalidade diante de disputas esportivas.
Maturidade e consciência
Maturidade e consciência é a dica que dou aos adultos (pais e treinadores especialmente) envolvidos com o esporte infanto-juvenil, particularmente entre 12 e 18 anos. Nessa faixa etária, que corresponde à adolescência, há uma natural instabilidade psicofísica dos jovens.
Nesse sentido, os mesmos necessitam de muito apoio e orientação. Portanto, é fundamental ter consciência que nesse período da vida, aprendizado técnico para executar bem os movimentos do esporte, aprendizado tático para tomada de decisões, desenvolvimento físico e psicológico e, acima de tudo, divertimento podem perfeitamente conduzir a prática esportiva dos jovens.
Ademais os adultos podem refletir que em tenra idade resultados esportivos não implicam necessariamente em sucesso futuro. Muitos iniciantes que são “vencedores” não carregam consigo a garantia que os mesmos serão atletas de sucesso. Podem ter no máximo indicativos que o serão, principalmente quando são muito talentosos. Mas ao considerar em última análise, que um desgosto ou uma grave lesão pode impedir o prosseguimento da prática esportiva, vale a pena amenizar o comportamento altamente exigente por resultados e sucesso.
Em algumas competições infantis observo pais e treinadores ansiosos e nervosos. O interessante é que na maioria das vezes os jovens que estavam calmos e se divertindo começam a ficar tensos em função do comportamento dos pais e/ou treinadores. Quando instado sobre o que fazer diante desse cenário, eu costumo afirmar que nós (pais e treinadores) não devemos levar os resultados das competições a sério.
Jovens de um modo geral, ao usufruírem do esporte com intensidade e entusiasmo já atingem um dos principais objetivos do esporte. E isso é o suficiente para os adultos se contentarem. Os jovens por si mesmos aprenderão que a tensão é característica primordial do esporte e é ela, a tensão, que fascina as pessoas e sem a mesma o esporte competitivo não teria graça.
Aquele jovem (criança e adolescente) que tiver talento e aceitar a tradição do esporte (rotina de treinamento, intensidade, certo isolamento etc.), com o passar do tempo se harmonizará com o ambiente competitivo. No entanto, os adultos podem facilitar esse processo, ao deixar as crianças descobrirem suas próprias forças e limitações. Cedo ou mais tarde elas irão aprender a comparar seus esforços e resultados com os concorrentes.
Especialistas em esportes sabem que desenvolvimento técnico e bons desempenhos são importantes para o atleta, mas estes são consequências das experiências emocionais, cognitivas, sociais e físicas que formam a vida interior do ser humano atleta. Em outras palavras, o compromisso com a competição entre jovens está em ajudá-los a descobrirem sua harmonia e força interior. Só assim aprenderão competir!