por Regina Wielenska
“… variar comportamentos e os contextos que nos cercam, manter-se curioso, interessado em aprender, curtindo a segurança do que nos é familiar e também aproveitando territórios novos, esse parece ser o caminho do desenvolvimento pessoal”
Eu adoro camarão. Mas consigo imaginar como eu me sentiria se todas as minhas refeições, ao longo de dois meses, fossem constituídas exclusivamente por diferentes preparos do crustáceo. Espetinho, na moranga, bobó, estrogonofe, à moda provençal, em caldeirada, torta, com macarrão, no risoto, croquete, empada, escondidinho, suflê…
Muito provável que, a despeito da enorme gama de preparos possíveis, chegaria a hora do basta. Eu teria um enorme fastio de camarão e ansiaria por frango, ovo, peixe, porco, carne de vaca, muitos vegetais e frutas; sei lá mais o quê.
Animais em excessivo confinamento em zoos, casa de famílias ou outros locais com instalações ruins e pouco convívio com seus pares ou com humanos (no caso de animais domésticos) tendem a apresentar comportamentos autolesivos e estereotipias comportamentais. Arrancam as próprias penas, lambem sem parar as patas (que chegam a ficar feridas), matam a própria cria, rejeitam filhotes, mudam o apetite, destroem em fúria objetos da casa, apresentam esses ou outros sinais vários de que algo não vai nada bem.
Crianças em férias, trancadas em casa, sem opções do que fazer, podem desenvolver uma gana por comer bobagens fora de hora, uma tonelada de guloseimas que parecem nunca aplacar aquele apetite.
Como se certos comportamentos brotassem do nada, as crianças começam a brigar entre si, provocar umas às outras, ou ficam ranzinzas, caladas, agressivas. Isso é fruto da falta de opções e da restrição física.
O que parece ajudar, tanto adultos como crianças, ou até bichos variados, é haver, por um lado, a vivência de familiaridade e conforto doméstico, condição essa caracterizada por uma certa possibilidade de predição e controle dos eventos que nos afetam, desde que isso se mescle a novidades que funcionem como desafios, que tornem a vida mais interessante, e nos obriguem a sair da nossa tão habitual zona de conforto.
Cabe a nós caminhar nesta direção, exercitar a criatividade, testar alternativas, ousar um pouco, ter curiosidade, prazer em explorar o mundo com sua maravilhosa diversidade. Estagnar nos deprime, e nos conduz a uma morte em vida, determinada pela ausência ou escassez de gratificações. Reflita, que escolhas você tem feito nos últimos tempos?
Alguns caminhos nos aproximam da sensação de que nossa vida tem um propósito, e ao trilharmos tal estrada nos deparamos com sentimentos de bem-estar e realização que decorreram diretamente das consequências relevantes de nossos atos. Por outro lado, há alternativas mecânicas, que geralmente nos parecem as mais fáceis e simples em curto prazo, mas que ao longo do tempo se revelarão uma fonte de arrependimentos, iremos nos sentir vazios, como se a vida estivesse sempre a nos dever algo que geralmente não sabemos definir o que seja.
Comprar desvairadamente, beber a não mais poder, comer como se não houvesse amanhã, usar de substâncias abusivamente, malhar por horas a fio, esses excessos comportamentais podem, em vários casos, surgir a partir do vazio qualitativo, do viver sem compromisso com valores maiores.
Resumindo, variar comportamentos e os contextos que nos cercam, manter-se curioso, interessado em aprender, curtindo a segurança do que nos é familiar e também aproveitando territórios novos, esse parece ser o caminho do desenvolvimento pessoal.