por Patricia Gebrim
É incrível o quanto perdemos de tempo e energia tentando acertar, tentando encontrar o caminho certo, a atitude correta. Deixamos de ser quem de verdade somos e assumimos máscaras e papéis tentando fazer o que acreditamos ser o que esperam de nós.
Nos esquecemos que a única maneira de evoluir precisa passar pela aceitação de nós mesmos, não importa em que etapa do caminho estejamos. Precisamos das experiências, do aprendizado. Melhor cometer seus próprios erros do que os acertos de outros.
O que a vida quer de nós?
Ah, se soubéssemos… Se soubéssemos que a vida não nos quer santos, nem pecadores, nem reclusos, nem expostos, nem mundanos, tampouco luminosos. A vida só nos quer reais.
A vida quer a coragem de nos virarmos do avesso, sem medo de mostrar o que adormece em nosso íntimo.
A vida quer a inteireza daquele que se apropria do pesadelo que habita sua caverna. Quer a sutil delicadeza daquele que floresce as sementes que tem no peito. Todos temos no peito um jardim, caso ainda não saibam.
No exato instante em que acontece o casamento sagrado entre o ser e o estar, a separação se dissolve em um sentimento de profunda inteireza. É quando vem a paz.
Outro dia, caminhando por uma trilha na natureza, de um instante para o outro senti tudo ficar sagrado. Me veio a sensação plena e contundente de que tudo estava vivo, e esse foi um dos momentos mais intensos da minha existência. Como explicar algo assim? A fotografia é sempre um reflexo, e por mais bela que seja, lhe escapa a alma, que não se deixa aprisionar.
A beleza não está no momento em si, no nascer do Sol, no sorriso da criança, no salto do golfinho… A beleza está na intensidade do todo que se manifesta naquele momento. No fato de que, por um instante, tudo se conectou, nessa teia indestrutível que é a vida. O momento é a porta, mas é a profunda conexão da vida que nos arrebata. A beleza transformadora está na súbita consciência de que já está tudo aqui. Agora. Sempre esteve. Sempre estará. Nada falta. Nada morre. Tudo é.
Por isso, talvez, naquele dia enquanto caminhava eu senti que estava tão plena que poderia até morrer. Linda forma de morrer. Morrer de beleza.