por Danilo Baltieri
Depoimento de um leitor
"Tenho 60 anos e usei por quase três décadas com abuso de doses elevadas nos últimos quatro anos. Estou sem a medicação há dois meses e espero nunca mais usar essa medicação. Mas agora estou em pânico com a relação desse uso e a eminência de ter Alzheimer como amplamente vem sendo divulgado em pesquisas recentes. Estou alarmada. É como um decreto. Venho sofrendo muito com essa possibilidade e é como se eu tivesse apenas alguns anos de lucidez. Não tenho sentido nenhuma falta do medicamento; apenas essas pesquisas têm povoado meu universo."
Resposta: Os benzodiazepínicos têm sido primariamente indicados para o tratamento de alguns transtornos mentais e doenças neurológicas, como Transtornos de Ansiedade, Transtornos do Sono, Síndromes Epilépticas, Síndromes de Abstinência de algumas substâncias psicoativas, dentre outros problemas. Em toda e qualquer situação, a utilização dessas medicações deve sempre ser supervisionada por médico especialista no problema primário a fim de proporcionar a melhora da qualidade de vida daqueles que padecem desses problemas, bem como minimizar a incidência de efeitos indesejáveis.
Seguramente, o uso dessas medicações para outras propostas que não médicas, ou mesmo o uso delas sem adequado respaldo médico, deve ser evitado categoricamente, devido à maior chance de desenvolver sintomas de síndrome de dependência aos benzodiazepínicos e efeitos indesejáveis.
Em países europeus, cerca de 20% das pessoas com mais de 65 anos fazem uso de benzodiazepínicos e, nos Estados Unidos, essa taxa gira em torno dos 10%. Infelizmente, pessoas acabam fazendo uso dessas medicações por anos, sem qualquer indicação médica formal e sem supervisão por especialista treinado. Efeitos indesejáveis como confusão mental, quedas frequentes da própria altura, acidentes de tráfego são consistentemente registrados na literatura.
Prejuízos cognitivos (principalmente em memória e atenção) são notavelmente percebidos na vigência do uso de benzodiazepínicos. Entretanto, apesar de alguns estudos bem conduzidos apontarem para a associação entre o uso crônico dessas medicações e o aparecimento de quadros demenciais, esse relacionamento não está plenamente estabelecido.
De fato, estabelecer essa associação "uso de benzodiazepínicos – Demência" é vastamente desafiador, visto que quadros demenciais podem ser precedidos por sintomas de depressão, insônia e ansiedade, os quais, muitas vezes, demandam a prescrição de benzodiazepínicos, mesmo que por curto período. Mesmo estudos que controlaram esses efeitos dos sintomas predecessores (pródromos) sobre os Transtornos Neurocognitivos apresentaram resultados conflitantes. Alguns estudos têm falhado ao controlar a dose utilizada bem como o tempo de uso.
Altas doses de benzodiazepínicos e consumo prolongado dessas substâncias podem aumentar a chance para vários problemas médicos, incluindo os cognitivos. Entretanto, associar o uso dessas medicações com a doença de Alzheimer, ainda é pouco consistente, mesmo porque existe uma miríade de outros fatores de risco para o surgimento da doença.
Dada a sua história de abuso dessas medicações, a senhora tomou uma conduta bastante feliz ao interromper o uso. Estando preocupada com a possibilidade de prejuízos cognitivos, procure um especialista médico para avaliá-la e, sendo necessário, realizar um tratamento adequado. Boa sorte!
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.