por Edson Toledo
Atualmente crianças e adolescentes vivem em dois mundos: o real (presencial) e o digital (virtual). Aos olhos deles, o digital parece ser muito mais interessante, já que oferece aventuras, oportunidades e busca pela autonomia, mas também, como recentes estudos apontam, é mais perigoso e oferece risco à saúde – explicarei mais adiante.
O ciberespaço, o mundo da internet e a rapidez da comunicação se tornaram o lugar onde todos se encontram, aprendem, jogam, brincam, brigam, trocam fotos, ganham dinheiro, começam e terminam amizades e namoros.
O assunto é tão sério que a Academia Americana de Pediatria (AAP) e a Sociedade Canadense de Pediatria (CPS) afirmam que crianças de 0 a 2 anos não devem ter nenhuma exposição à tecnologia digital e virtual; crianças de 3 a 5 anos devem ser limitadas a uma hora de exposição por dia e crianças e adolescentes de 6 a 18 anos devem ser restritas a duas horas por dia.
Segundo estudos, crianças e jovens usam de quatro a cinco vezes a quantidade de tecnologia recomendada, provocando consequências graves e em muitos casos, colocando suas vidas em risco (Fundação Kaiser 2010, Active Healthy Kids Canada 2012). Aparelhos eletrônicos móveis (telefones celulares, tablets, jogos eletrônicos) aumentaram muito o acesso e uso de tecnologia, especialmente por crianças muito pequenas (Common Sense Media, 2013).
Outros estudos afirmam que o uso de tecnologia restringe os movimentos, o que pode resultar em atraso no desenvolvimento. Um desses estudos diz que uma em cada três crianças ingressa na escola com atraso no desenvolvimento, o que provoca impacto negativo sobre a alfabetização e o aproveitamento escolar (HELP EDI Maps 2013). A movimentação reforça a capacidade de atenção e aprendizado (Ratey 2008). O uso de tecnologia por menores de 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento e aprendizado infantis (Rowan 2010).
Muitas crianças e bebês se divertem brincando com tablets ou celulares touch-screen, a explicação é a de que a tela de toque oferece gratificação instantânea com suas imagens, movimentos e sons que estimulam os sentidos dos pequenos e fornece uma momentânea folga aos pais. Para os mais velhos, a interatividade permite-lhes aprender conceitos como causa e efeito, mas para os bebês, ainda em desenvolvimento cerebral, pode ser prejudicial.
Essa condição é tão séria que a Academia Americana de Pediatria aconselha não expor crianças com menos de dois anos a nenhum tipo de tela, relacionando-a com atrasos de aprendizagem da fala. Estudos têm mostrado que as crianças aprendem melhor a partir de experiências da vida real, especialmente nas atividades que envolvem movimento. É fundamental que os bebês aprendam novos conceitos ao interagir com pessoas reais e objetos.
Conclusão semelhante chegou um estudo realizado pela Faculdade de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp) com 21 meninos e meninas de 8 a 12 anos de idade, região de Campinas, que ficam de quatro a seis horas usando aparelhos eletrônicos.
Segundo o estudo, crianças que usam aparelhos eletrônicos (computadores, tablets, celulares e videogames) sem controle, e não brincam ou brincam pouco, podem apresentar atraso no desenvolvimento no “mundo real”.
Nessa realidade virtual, todos os adolescentes podem disfarçar melhor a ansiedade, a confusão, os medos e a alegria da passagem à vida adulta. Podem até superar os pais e muitos professores que nem conseguem ficar conectados ou "plugados". Aliás, o idioma agora é o "internetês" com abreviaturas, emoticons e maneiras diferentes de se expressar e comunicar. Muitos nem conseguem mais escrever no papel e nem sabem o que é caligrafia ou gramática.
Por fim, para que cada um tire suas próprias conclusões, reproduzo abaixo as Diretrizes de Uso de Tecnologia para crianças e adolescentes, que foram desenvolvidas por Cris Rowan, terapeuta ocupacional pediátrica e autora de Virtual Child; pelo Dr. Andrew Doan, neurocientista e autor de Hooked on Games; e a Dra. Hilarie Cash, diretora do Programa reSTART de Recuperação da Dependência da Internet e autora de Video Games and Your Kids – com contribuições da Academia Americana de Pediatria e da Sociedade Pediátrica Canadense: