Da Redação
Segundo pesquisa publicada na revista científica Drug and Alcohol Dependence e recém-divulgada pelo CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool – a mistura de álcool a outras drogas tem sido tão comum, de tal forma que parece não mais existir alcoolistas (dependentes crônicos de álcool) ou abusadores “puros” de drogas.
Diante desse cenário, atualmente, tem sido reconhecida a importância do estudo do uso múltiplo de substâncias. Poucas pesquisas diferenciam o consumo simultâneo (ao mesmo tempo ou combinado) do uso paralelo (dentro de um mesmo período, mas não simultaneamente) de álcool e drogas. As correlações dessa mistura perigosa, especialmente quanto às conseqüências sociais, incidência de depressão e dependência de álcool, tampouco são devidamente analisadas.
Com base neste fato, o estudo Concurrent and simultaneous drug and alcohol use: Results of the 2000 National Alcohol Survey teve como principal propósito identificar, na população norte-americana, se “bebedores” de álcool faziam uso paralelo e/ou simultâneo de álcool a outras drogas, ressaltando a influência de variáveis sóciodemográficas e do padrão de uso de álcool sobre esse comportamento. Além disso, teve como objetivo investigar a diferença de prevalência de conseqüências sociais, dependência de álcool e depressão entre usuários de múltiplas drogas, usuários só de álcool e não-usuários de álcool.
Participaram desse estudo 4.860 adultos categorizados como “bebedores recentes”, ou seja, que tivessem consumido pelo menos uma dose de álcool, de qualquer bebida, nos últimos 12 meses. Além do uso de álcool, os participantes foram questionados sobre o consumo, nos últimos 12 meses, de outras substâncias. Se existente, investigou-se se a ingestão de álcool e outras drogas era simultânea ou não. Os indivíduos que relataram usar uma ou mais drogas no último ano, mas que nunca o fizeram ao mesmo tempo, foram classificados como usuários não-simultâneos (uso paralelo). Em função da baixa prevalência de uso de outras drogas (exceto maconha), as medidas de uso paralelo e simultâneo foram divididas em duas categorias:
(a) álcool e maconha
(b) álcool e outras drogas
As variáveis sóciodemográficas (sexo, faixa etária, etnia, renda familiar, nível de escolaridade e estado civil) foram usadas para descrever e diferenciar os grupos. Como variáveis dependentes foram adotadas as seguintes medidas:
(a) conseqüências sociais (legais/acidentes; saúde; trabalho; brigas e problemas de relacionamento)
(b) dependência de álcool
(c) depressão
Também foram verificadas as associações entre o tipo de uso (se simultâneo ou paralelo) e o padrão “binge” (beber pesado) de uso de álcool (ou seja, número de dias em que o respondente houvesse consumido cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas por ocasião).
A prevalência do uso simultâneo ou paralelo variou conforme o tipo de droga e o padrão de uso de álcool, tendo sido mais prevalentes para a maconha e, logo em seguida, a cocaína e o crack. Em comparação às demais drogas e considerando-se o consumo simultâneo, a associação foi mais prevalente entre o álcool e a maconha, tendo o seguinte perfil:
(a) ser jovem
(b) homem
(c) de baixa renda familiar
(d) nível de escolaridade inferior ao ensino médio
(e) não ter parceiro regular ou fixo.
Conforme sugestão dos autores, a alta prevalência do uso simultâneo de maconha a álcool parece refletir o contexto social de uso da maconha, geralmente em festas, onde as bebidas alcoólicas estão bastante disponíveis, comportamento que também justificaria o uso simultâneo de álcool a outras drogas
A freqüência de beber pesado associou-se fortemente ao uso simultâneo de álcool a outras drogas (inclusive maconha) que, por sua vez, apresentou forte associação à existência de conseqüências sociais, dependência de álcool e depressão entre os participantes.
Em contraposição, o uso paralelo associou-se apenas à incidência de conseqüências sociais. Dessa forma, conforme os autores, o consumo simultâneo de álcool a outras drogas parece mediar a relação entre o uso pesado de álcool e o surgimento de suas implicações, entre elas, conseqüências sociais, dependência de álcool e depressão.
Assim, ainda segundo os autores, o uso simultâneo de álcool a outras drogas tem efeitos deletérios sobre a saúde geral e saúde mental do usuário. Isso aponta a necessidade de desenvolvimento de programas voltados à prevenção e tratamento dos problemas associados ao uso de álcool e drogas, além de incluir tais itens na realização de levantamentos nacionais, dirigidos tanto à população adolescente quanto adulta.
Título: Uso paralelo e simultâneo de drogas e álcool
Título em inglês: Concurrent and simultaneous drug and alcohol use: Results of the 2000 National Alcohol Survey
Autores: Lorraine T. Midanik, Tammy W. Tam e Constance Weisner
Fonte: Revista Científica Drug and Alcohol Dependence 90, 72–80, 2007
Local da Pesquisa: Califórnia, EUA; University of Califórnia at Berkeley, School of Social Welfare