por Valéria Meirelles
Dentre as inúmeras mudanças que vêm ocorrendo nas famílias nas últimas décadas, uma das mais evidentes é o aumento do número de pessoas que moram sozinhas – as chamadas famílias unipessoais.
Dados do Dieese mostram que 7,5% da família paulistana é unipessoal – é o segundo tipo de composição mais frequente, após a tradicional.
Vários fatores provocaram todo esse crescimento: aumento da expectativa de vida; maior número de divórcios; avanço na urbanização, que proporcionou melhoria na infraestrutura e na qualidade de vida; a crescente escolaridade das mulheres, que trouxe melhores condições para a disputa do mercado de trabalho e também a autonomia financeira.
Muitas mulheres vão morar sozinhas após o divórcio ou depois de adquirirem certa estabilidade na carreira. Em termos etários, isso está por volta, em média, dos 30 anos, o que não exclui as viúvas ou divorciadas cujos filhos já saíram de casa.
Mas há outras razões que mobilizam uma mulher a buscar seu próprio espaço, que vão desde a necessidade de diferenciação da família de origem (pais e irmãos), projetos pessoais, desejo de mais liberdade e de um espaço só seu, até a mudança de cidade para estudar ou trabalhar.
Vantagens e desvantagens
Existem vantagens e desvantagens para as mulheres que optam por viver sozinhas. As principais vantagens devem-se à independência e autonomia para fazer o que tiver vontade, a hora que quiser, sem se preocupar em atrapalhar a irmã, a mãe ou o pai, sem se sentir "vigiada" pela família, e não ter que dar satisfação de sua vida. A mulher também se torna mais "dona de tudo", inclusive da própria vida. Por um lado, é maravilhoso, por outro, isso traz mais responsabilidade para a mulher, pois ela deve fazer um pouco o papel de seus próprios pais.
Prós e contras
As desvantagens estão nos aspectos financeiros, pois ao morar sozinha, não há com quem dividir despesas – o que pode se tornar um ônus elevado, dependendo da área de atuação profissional da mulher – e dinheiro pode se tornar uma preocupação constante. Questões relativas à saúde também preocupam, pois caso ela venha a adoecer, não há alguém diretamente ligado ao seu cotidiano para o seu cuidado e então é hora de pedir ajuda. Por isso, quem mora sozinha costuma dar atenção especial à sua saúde.
Às vezes, morar sozinha pode assustar, por causa da solidão e da melancolia. Esses sentimentos inoportunos surgem quando menos se espera. Se por um lado é ótimo viver longe dos pais, da rotina e do olhar de uma família, por outro, também dá saudades (inclusive do irmão chato que sempre pegava seus CDs sem avisar) e é nesse momento que a mulher precisa se conhecer bem, para evitar maiores sofrimentos e até envolvimentos amorosos que não contribuem para seu crescimento.
Muitas mulheres sem um relacionamento se queixam de que não é fácil encontrar alguém idôneo e que não queira se aproveitar da situação, do conforto de seu apartamento, por exemplo, e que muitos imaginam que terão uma relação sem envolvimento sério com elas, pois não precisarão conhecer suas famílias. Ou seja, as mulheres se percebem mais expostas aos "oportunistas de plantão", portanto, não devem abrir mão de seus valores. Elas devem deixar claro seus pontos de vista, devem se respeitar, sem medo da solidão.
O principal antídoto para enfrentar essa situação e ter uma vida agradável e com qualidade, é manter uma sólida e diversificada rede social. Ter muitos amigos, praticar esportes, um hobby, desenvolver multiplicidade de interesses, ir a exposições, festas, viajar, reunir pessoas em casa para tomar um bom vinho, seguir uma fé, realizar trabalho voluntário, enfim, não ficar parada dentro de casa – o que é bom de vez em quando. Tudo isso é fundamental para se manter o bom humor e ter apoio em momentos críticos da vida.
Diz a psicóloga Noely Moraes que "O risco de quem está só é, na verdade, o encontro e o apaixonamento", frase com a qual concordo e amplio para: um encontro verdadeiro consigo mesma e um apaixonamento por tudo que a vida oferece de bom.
Certa vez ouvi algo muito bonito, para se pensar: "Viver sozinha ajuda você a conhecer mais sobre o seu ritmo de vida, seus rituais e seus gostos, pois é um ambiente totalmente construído por você, enquanto que a convivência com os outros acaba influenciando no ritmo de uma casa e não se tem certeza do que é seu, o que é do outro e qual o acordo da relação."
É importante saber que morar sozinha não significa ser sozinha. A solidão hoje em dia já tem novo sentido, e não se aplica a alguém só por morar sem companhia. Felicidades a todos os unipessoais.
Fonte: Valéria Meirelles é psicóloga com mestrado em Psicologia Clínica