Vaidade e orgulho caminham juntos

por Flávio Gikovate

 

Continua após publicidade

“Não podemos aceitar com serenidade nada que não provoque olhares de admiração, nossos filhos terão que ser lindos e benquistos, terão que ser inteligentes e educados, não por que apenas isto é bom, mas para nos provocar a sensação erótica agora chamada de orgulho”

Na estreia desta coluna expliquei por que a vaidade está presente em toda ação humana – clique aqui e leia.

A sensação de prazer provocada pela vaidade sai de nós e se estende a tudo o que nos pertence; mesmo para as coisas que não são usadas sobre o nosso corpo. Um carro novo – talvez hoje o maior sinal exterior de riqueza material – nos provoca enorme prazer. Nos sentimos por algum tempo especiais, olhando para os outros de dentro dele, para ver se estão nos olhando, isto é vaidade. Gostamos que elogiem nossa casa, a comida que servimos, o vinho que oferecemos. Isto é vaidade.

O prazer que sentimos é sempre de natureza efêmera; precisamos de novas coisas para que a sensação se repita. Precisamos cada vez de mais coisas para sentirmos a mesma emoção; é como se fosse um vício no qual vamos nos afundando cada vez mais.

Continua após publicidade

A sensação que já se estendeu para as coisas que não estão no nosso corpo, aos poucos se expande para as pessoas às quais estamos ligadas. Precisamos nos orgulhar de nossos pais, de nossos filhos, de nossos cônjuges, de nossos amigos. Isto é vaidade. Não podemos aceitar com serenidade nada que não provoque olhares de admiração, nossos filhos terão que ser lindos e benquistos, terão que ser inteligentes e educados, não por que apenas isto é bom, mas para nos provocar a sensação erótica agora chamada de orgulho.

Um homem poderá preferir cobrir a sua esposa de joias e depois desfilar ao lado dela, ao invés de colocar as joias em si mesmo. Todos olharão para ela e isso provocará a sensação erótica também nele. Ele se orgulhará de “ter” uma mulher atraente e de ser rico o bastante para lhe dar presentes caros. Ela se orgulhará de ter casado com um vencedor.

Com o passar do tempo, o processo erótico da vaidade vai se extendendo para todas as direções, do mesmo modo que se expandem os tentáculos de um polvo. Nada fica excluído.

Continua após publicidade