por Roberto Goldkorn
Recentemente passei por duas experiências tão marcantes quanto antagônicas, mas ambas muito educativas. A primeira com uma cliente cujo filho estava se preparando para fazer uma cirurgia de redução de estômago.
Ao analisar o período em que ele se encontrava vi que estava num ano absolutamente impróprio para cirurgia (a não ser as inevitáveis). Pedi-lhe, ou melhor, implorei à mãe que impedisse o rapaz (27anos) que esperasse mais quatro meses até seu aniversário quando mudaria de período.
Chamei inclusive a filha dela e mais duas pessoas para que testemunhassem a minha advertência. Ela sumiu. Semana passada um parente dela me ligou pedindo que fizesse qualquer coisa para ajudá-la, pois o seu filho estava entre a vida e a morte numa UTI (CTI para os cariocas).
Resumindo ele não acreditou no meu prognóstico e não obedeceu a mãe, ouvindo apenas o médico que lhe prometeu uma recuperação relâmpago. Fui vê-lo na UTI, triste cena, pobre rapaz, pobre de mim, impotente diante do "destino" que não consegui mudar.
Cada vez que acontece uma coisa dessas questiono seriamente a validade do meu trabalho e fico pensando em abrir um bar.
Em outro caso minha participação foi como espectador. Uma cliente me contratou como último recurso para salvar o seu "barco" do naufrágio. A história dela seria cômica se não fosse trágica.
Diante de muitas dificuldades, muito mística, ela começou a recorrer aos serviços de "especialistas" de numerologia, radiestesia, Feng Shui, e outros de áreas menos demarcadas.
Observando o resultado e o procedimento dos profissionais, posso dizer que ela foi seguidamente vítima de estelionato, charlatanismo, incompetência (o menor dos crimes), irresponsabilidade, exploração da boa fé, e por aí vai.
Por vezes durante o relato dela tive de segurar o queixo para evitar que ele batesse na mesa. Ao perceberem tratar-se de uma pessoa desesperada e crédula, os "profissionais" deitaram e rolaram, e ao invés de ajudar contribuíram para afundá-la de forma quase irreversível.
É claro que ela contribuiu muito para isso, a sua ingenuidade e extrema credulidade não podem ser desculpas suficientes para eximi-la de responsabilidade.
Esses dois episódios refletem muito bem o dilema vivido por muitas pessoas atualmente. Crer ou não crer? Como saber qual o caminho correto a seguir? Em que médico acreditar, no homeopata ou no alopata? No mais jovem e antenado com a modernidade ou no mais idoso e experiente?
Num mundo de tantos "gurus", qual escolher para seguir? Difícil questão, pois envolve a emoção e muitas vezes o desespero e a urgência. O rapaz tinha pressa de emagrecer, afinal não suportaria outro verão escondido e auto exilado.
A minha cliente sentia o seu grande sonho lhe fugir por entre os dedos, perdida, era levada de cá para lá, ao sabor dos "achismos" e opiniões abalizadas dos palpiteiros de plantão.
Esse é um desafio de esfinge, moderno e mais perverso. Na minha opinião (mais uma) é preciso cultivar o discernimento. Mais que isso é preciso ter humildade racional, ter sempre uma porta aberta para aquilo que desconhecemos, mas saber que o mundo está cheio de malandragens.
Pessoas que vivem só o mundo de fora, o mundo tridimensional, ficam impotentes diante de questões que envolvam aspectos mais sutis, espirituais e transcendentais. Elas simplesmente não sabem avaliar o que tem diante de si.
Em geral oriento as pessoas a sentir com a mente e pensar com o coração, sei que é difícil, mas é um aprendizado possível e transformador. Enquanto isso não acontece, a dica é ORAI E VIGIAI.