Para responder a pergunta proposta no título deste post, peço desculpas ao leitor por esta breve introdução, que servirá como um dos alicerces para a resposta.
O filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), defendia a tese das relações líquidas no sentido de que as relações estão ficando cada vez mais superficiais, passageiras, virtuais e o contato entre as pessoas é cada vez menor. Uma de suas frases mais famosas é que “as relações escorrem entre os dedos”.
Essa mudança de valores, porém, não se traduz na necessidade de recuperar aspectos dos relacionamentos do passado, mas sim em uma necessidade de reinventar e redefinir os valores dos relacionamentos na atualidade.
Estas relações líquidas estão muito no estilo fast-food. Muitos jovens adultos de até 35-40 anos nem aprenderam a viver relacionamentos mais intensos e duradouros ou temem esses envolvimentos por medo de perderem a individualidade, de não se sentirem valorizados ou de serem traídos afetivamente e em sua vaidade! Geração pós-moderna, sexo fácil, agendamento de encontros no aplicativo, primeiro interesse no corpo, depois a voz, a história e afinidades a maioria só vai se interessar em conhecer, se o sexo for bom!
E aí começamos a falar de alguns perigos do encantamento. Neste estado alimentamos uma visão baseada em ilusão, no desejo de encontrar o que sonhamos; projetamos nossos desejos no outro e damos uma burlada na nossa inteligência. O outro, em grande parte das vezes, não é como estamos vendo, mas é aquilo que queremos enxergar, e alimentamos muitos sapos vestidos de príncipes e princesas no nosso imaginário carente.
Quantos homens e mulheres passam a vida alimentando o desejo de reencontrar a figura principesca idealizada?
Viver de esperança pode se comparar à morte
Às vezes foi o amor-descoberta de adolescência, ou um ‘caso caliente’ vivido intensamente por um período com ingredientes de aventura e safadeza, há também o ideal de “amor” que gerou um sonho de castelos e confortos que foram proporcionados e alimentaram esse encantamento. Muitas possibilidades de paixão, onde a ilusão de viver ou reviver uma determinada relação pode trazer um estado de esperança quase doente. Aqui vale a leitura que faço de ideias do filósofo alemão Nietzsche (1844-1900), que comparava a vivência da esperança à morte, pois esperar tem o sentido da paralização da busca, de morrer em conquistas, de morrer em vida.
Quantas pessoas passam uma vida e não se permitem viver outros relacionamentos à espera de que aquela pessoa termine a faculdade, volte do emprego em outra cidade ou país, ou pior, que o outro decida separar-se para viver esse “grande amor ilusório”. Há também mulheres que esperam para viver o desejo de serem mães quando o outro terminar suas conquistas financeiras, ou quando o outro achar que estará pronto para parar de viajar o mundo, ou quando puder ter aquele homem junto dela para ser o pai de um(a) filho(a).
Frases que afirmamos enquanto esperamos
Muitas vezes existem seduções que alimentam essa insana espera, frases conhecidas como:
– Estou esperando meu filho(a) crescer para me separar;
– Vou criar condições para dar estrutura para a outra pessoa ficar bem e aí me separo para viver nosso amor;
– Me espere para viajarmos o mundo comemorando nosso amor;
– Vou esperar a doença da mãe dela curar para ela estar forte;
– Espere eu emagrecer para nossa vida sexual melhorar;
– Espere eu juntar dinheiro para marcamos o casamento…
Mas na maioria das vezes são os desejos e ilusões que ficam boicotando muitas pessoas a viverem a vida verdadeiramente, a irem atrás de seus sonhos e prazeres.
Por que se espera tanto tempo? Por-que se coloca um sonho em stand-by?
Muitas vezes criamos um ideal tão bonito que cegamos para a realidade que mostra a fragilidade dessa realização. Observe, essa pessoa trabalha? Junta dinheiro ou só gasta? Gosta de criança? Gosta do convívio familiar? Ela dá dicas reais para você alimentar essa expectativa ou tudo não passa de uma ilusão sua?
Viver exige coragem, autoestima, confiança no seu poder de conquista e no seu merecimento! Ficar nessa infindável espera é não valorizar de verdade suas metas ou sonhos, talvez mostre uma fragilidade de confiança que deposita no outro a expectativa de realização: “me faça feliz, me traga boa vida, me leve, faça por mim…”
A verdade é que daqui a pouco o hoje virou passado, e esse tempo e essas oportunidades não voltarão. Aproveitar para se conhecer, crescer, experimentar sempre trará um sentido vívido para o existir. A vida pede ação, enfrentamentos e prazeres! Não deixe a vida na mornidão do banho-maria, não a deixe escorrer pelos dedos. Não se contente com a superficialidade de ilusões, nas promessas dessas relações.
Vá atrás de realizar por você. Se esse outro alguém realmente desejar estar com você, ele(a) sairá dessa letargia ou indecisão e virá. E se não vier, você saberá que esse lindo encantamento é todo seu, e só você poderá dar esse brilho a sua vida e conquistas.