Por Roberto Goldkorn
Fiquei gratificado e surpreso, com a repercussão do meu artigo anterior. Por que envelhecemos? Não esperava que fosse mexer tanto com as pessoas. Também não esperava tantos elogios, acostumado que estou a receber pauladas pelos meus artigos provocadores. Minha mãe dizia que eu tinha um prazer secreto em “cutucar a onça com vara curta”, e atrair a ira dos ferozes, para poder sacar a minha espada e lutar. Sabiamente ela sugeria que eu gostava mais da batalha do que do refrigério da paz. Amigos ao longo do caminho me diziam que eu tinha é medo do sucesso, que os elogios me constrangiam, por isso buscava a crítica, as réplicas, os ataques daqueles que sentavam a bunda farta sobre as “verdades” e não arredavam o pé, não era bem o pé) e morriam em vida esclerosados pelo próprio fel.
Mas ou eles (minha mãe e os amigos) estavam errados ou estou mudando. O fato é que diante da goleada de elogios e aplausos, parei no meio o artigo que estava escrevendo (e que me renderia cacetadas virtuais) para continuar a saga do envelhecimento, talvez em busca de mais aplausos, ou pelo menos do refrigério da paz provisória com os meus leitores.
Machado de Assis me disse uma vez, “o menino é o pai do homem”, e com isso estava explicada a máxima de “é de menino que se torce o pepino.” Quando se chega aos 50, tem-se entre outras vantagens a de poder olhar para trás e observar trajetórias, a nossa e de outras pessoas. Observando algumas trajetórias de vida, pude constatar, que muitos dos meus contemporâneos da época de juventude já conspiravam contra a sua juventude, de forma perversa, achando que na verdade estavam sendo “jovens”. Ao encontrar essas pessoas na rua, trinta anos depois muitos tem a aparência do meu pai, outro de um irmão mais velho, (bem mais velho) e acabadasso. Mas o que faziam esse jovens para envenenar a sua juventude – a mesma coisa que fazem os jovens de hoje.
O antiébrio
Lembro-me das gozações e ironias que sofri por não beber, quando a “cultura” ordenava que jovem que é jovem bebe, e não só bebe mas enche a cara. Às vezes me deleitava com a reação dos amigos e dos desconhecidos ao entrar numa boate, ou barzinho e pedir um suco de laranja ou um guaraná. Eu não entendia como podia ser prazeroso ficar bêbado, vomitar em cima da mesa, ser motivo de piada. Eles não entendiam como alguém podia não beber.
As coisas não mudaram, outro dia quando declarei a um grupo de jovens publicitários que não bebia, não comia carne vermelha e não fumava, um deles me disse em tom de galhofa: "Meu pai sempre me disse: uma pessoa que não bebe, não é confiável.” Certamente o pai dele, está mortalmente contaminado por uma cultura etílica, muito habilmente plantada nas mentes dos mais débeis por quem tem interesse nisso.
Da mesma forma, que se criou uma cultura de “defesa” do cigarro, de defesa do direito democrático do fumante de exercer o seu “prazer”. “Não vamos todos morrer?!!” perguntam exclamando numa demonstração clara do que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva. Então vamos ter prazer, vamos beber, e fumar! Claro que vamos morrer, mas enquanto isso não acontece deveríamos tentar viver bem, sem falsos cenários, sem perder tempo com as ilusões inconsistentes e maléficas que nos roubam tempo precioso, saúde, e plantam bombas relógio para o nosso futuro.
Vejo velhos amigos alquebrados, com um chapéu enegrecido de nuvens agourentas pairando sobre seus semblantes, cheirando à mais indigente solidão. O que fizeram esses meninos para os homens que são hoje? Esqueceram-se de buscar alianças duradouras, parcerias salutares, apoiadas na realidade, alianças de amor, não aquele amor romântico ficcional, mas o que gera a cumplicidade, o que nos dá a força extra para seguir adiante com confiança. Eles, buscaram os contatos breves, fugazes, apavorados em perder a “liberdade” fugiram como diabo foge da cruz(?) dos comprometimentos. Hoje perambulam por singles bar’s como fantasmas, ou então se refugiam em quartos dos fundos de alguma casa de família.
Por que os jovens odeiam tanto a sua juventude? Por que os jovens não conseguem se ver como seres em formação que um dia serão adultos e depois velhos, mas mesmo ao mudar de pele, serão as mesmas almas, e terão que ajustar contas com ela? A resposta poderia ser: porque são jovens,ora! Não sei, talvez seja uma atitude auto punitiva por ter tanta energia, tanta …juventude, uma espécie de culpa por terem o viço, o tônus, a energia aparentemente inesgotável
Própria desse estágio da vida. Talvez diante dos seus pais e avós, cheios de artrites e achaques, eles se sintam no dever moral de compensar essa gritante e petulante diferença, se envenenando, minando e auto polindo seu sangue novo, seu tesão insaciável, e carimbando seu passaporte para serem como os pais, ou talvez piores.
Dancing days
Muitas vezes, conhecidos me viam dançando numa discoteca e comentavam com amigos, que eu devia estar muito louco, numa alusão ao consumo de alguma droga, só assim justificaria dançar daquele jeito tão alucinante como se não existisse, outras pessoas ali.
Assim quando alguém me diz que não é possível “viajar” sem se drogar ou beber, eu tenho de rir, mas rio com tristeza. Essas pessoas não sabem o que é viajar com a música, viajar vendo o nascer do sol no Arpoador, e mergulhar no mar azul e salgadinho.
Essas pessoas não sabem o que é viajar, quando se tem a oportunidade de obter prazer genuíno numa relação sexual, e depois ao invés de virar as costas para a parceira, ainda ficar um tempo acariciando os seus cabelos. Essas pessoas não sabem que “viajar” é passar em frente ao hospital a caminho do clube para jogar tênis.
A verdadeira juventude é construída por toda a vida, da mesma forma que a velhice já pode ser obtida bem cedo, mas tem um custo: o exercício da inteligência, a atenção constante, o alerta contra os “inimigos” sorrateiros que nos querem “velhos” e indigentes numa conspiração misteriosa contra a vida.
A vida interira ouvia as pessoas dizerem que aparento ter 10, 15 anos a menos, – na verdade também sinto assim. Hoje, isso não me envaidece mais, mas mostra que valeu a pena, viver de forma inteligente mesmo no período em que é comum ser burro.
Além da genética além das poluições e estresses da grandes cidades, além das balas perdidas, todos nós podemos e devemos preservar o que recebemos de graça, um corpo e um planeta para vivermos plenamente.