por Flávio Gikovate
“… agir de acordo com o papel que lhe é atribuído significa ser uma pessoa “correta”, virtuosa. Transgredir as normas, será crime, pecado, sujeito a represálias”
Parece-me extremamente difícil reconstituir, a partir de nossa maneira de ser e de pensar hoje em dia, as origens da reflexão moral.
Creio que a hipótese da existência de forças divinas sobrevoando o nosso planeta, tenham estado sempre presente na mente de nossos antepassados. Não é improvável que em tempos ancestrais tenham atribuído a vontades superiores uma dada forma de resolução de dilemas em suas relações em grupo.
Assim, as primeiras normas de conduta devem ter surgido em relação à necessidade de se construir regras práticas capazes de garantir a estabilidade da vida em grupo. Devem ter sido construídas de acordo com o interesse de todos, mas é muito provável que o ponto de “justiça” tenha sido colocado mais próximo de interesses dos mais fortes. Esses, em virtude de sua “superioridade”, devem ter garantido para si alguns privilégios. Os outros aceitaram porque não tinham escolha. E os deuses abençoaram essa regulamentação, que se tornou norma cultural e foi transmitida de geração para geração.
Assim, as crianças que nascem numa dada comunidade vão se familiarizando com as regras e as aceitam de modo irrefletido; as incorporam como fatos divinos, as seguem e as transmitem posteriormente.
Periodicamente, nascem alguns com espírito mais sofisticado e, num dado momento de suas vidas, se revoltam com aquilo que encontraram pronto. Se tiverem força, encontrarão adeptos. Aí se estabelece um desequilíbrio dentro do sistema, de tal forma que o novo equilíbrio de forças se dará em ponto diferente do anterior.
Esse novo ponto será mais próximo da perpetuação de privilégios dos mais fortes ou de condições mais satisfatórias para os mais fracos, dependendo de para onde se dirigirão as intenções dos revoltosos. O novo ponto de equilíbrio perdurará até que outras revoluções surjam com força suficiente para alterá-lo. Creio que é assim até hoje: as manifestações que ocorrem por todo o Brasil, de certa forma, seriam um exemplo.
Vaidade + moral = politicamente correto
Assim, agir de acordo com o papel que lhe é atribuído significa ser uma pessoa “correta”, virtuosa. Transgredir as normas, será crime, pecado, sujeito a represálias. O medo das represálias será o primeiro e mais importante freio às condutas indevidas.
Como podem constatar, o politicamente correto, o medo e a culpa surgiram juntos.