por Renato Miranda
Eventualmente assistimos ou sabemos de atos violentos de torcidas de futebol, neste caso escrevo particularmente sobre o Brasil. Como minha especialidade é psicologia do esporte, me detenho a falar a respeito do comportamento do atleta.
Nesse sentido, poderia se questionar que tipo de colaboração os atletas dariam a fim de demonstrar que a disputa esportiva não é confronto ou mesmo uma "guerra" como algumas pessoas arriscam dizer.
Assim sendo, me detenho a falar sobre a violência entre os atletas, que de certa forma reverbera para os torcedores. Muito embora, verifica-se atualmente que nos campos de futebol profissional a violência venha diminuindo.
Acredito que a matriz da cultura da violência entre atletas se dá a partir da iniciação esportiva, ou seja, na tenra idade. É a alta ansiedade gerada pelo desejo de vencer a qualquer preço que fomenta desde cedo o comportamento agressivo que desencadeia em violência.
Quem é ou são os incentivadores dessa alta ansiedade?
Resposta objetiva: os adultos envolvidos no processo iniciatório da vida esportiva dos jovens, principalmente profissionais e pais.
Frases do tipo: "O segundo lugar é o primeiro dos últimos"; "Vencer é o que interessa"; "Só os vencedores são reconhecidos"; "Não seja um loser (perdedor!)"; "Vencer a qualquer preço" e outras tantas quando ditas no ambiente frequentado por adultos são relativizadas e são fomentadas pelo contexto e a cultura de cada um.
Todavia, há uma tendência desse, digamos estilo, ser repetido no ambiente infanto-juvenil e que, portanto, tem um impacto emocional mais intenso e menos "filtrado". Com isso, a expectativa e a tensão natural da disputa esportiva passa a ter um caráter exacerbado que impacta nos níveis de ansiedade dos jovens.
Ambiente de alta tensão, apreensão, preocupações e aflições exageradas repercutem em um comportamento inseguro e susceptível a atitudes indesejáveis. É como a pessoa (no caso o jovem) participasse de uma competição pronta para "explodir".
A competição esportiva é um extenso campo de ação e vivências em que frustração, sucesso, tristeza, alegria entre outras experiências são influenciadoras no comportamento e na construção da personalidade do jovem. Em consequência, ao considerar a formação da experiência esportiva em um ambiente cujos profissionais e adultos envolvidos de um modo geral, promovem muitas exigências pela vitória e não equacionam a compatibilidade das habilidades psicofísicas com as demandas do desempenho esperado, ai então, está o cenário para o início do comportamento violento.
Não canso de dizer e escrever que o esporte existe para fazer bem à alma das pessoas, no sentido de oportunizar alegria e divertimento. Portanto, mesmo com o desejo de fazer o melhor, vencer e estar sob fortes emoções, é preciso exercitar a nobreza.
Observe como os atletas de futebol, quando depois de várias temporadas e experiências diversas, se tornam mais compreensíveis em relação às demandas emocionais de disputas e às consequências do resultado.
Por outro lado, observe que o jogador que não aceita as decepções se torna violento e rapidamente é descartado pelas grandes equipes.
Mostremos aos jovens jogadores, que com o passar do tempo, adversários se tornam amigos, ex-jogadores participam de eventos e relembram fatos marcantes como adolescentes empolgados. Enfim, "lá na frente" sabem perfeitamente que há algo mais importante na competição esportiva, difícil de definir, porque está associado a valores intrínsecos e, portanto, inconscientes, mas que são tão valiosos como as vitórias memoráveis.
Enfim, tratemos de ensinar as crianças que atletas não são soldados em guerra e adversário não é inimigo.