por Patrícia Gebrim
Não sei exatamente como passamos a acreditar que coisas complicadas são melhores. Talvez isso venha de uma baixa autoestima, que nos leva a valorizar aquilo que nos parece mais elaborado e rebuscado, aquilo que parece estar bem longe de nós, “insignificantes mortais”.
Assim, entregamos nosso poder a quem fala difícil, a quem escreve coisas que mal compreendemos, a quem parece executar com extrema dificuldade esta ou aquela tarefa, que não conseguimos sequer acompanhar. A partir dessa distorção, que nos diz que somos insignificantes, ou “menos”, olhamos para os eruditos, para os intelectuais, e até para os aparentemente mais espiritualizados, os senhores das religiões, e todos parecem tão melhores do que nós.
Desprezamos as crianças, como se nada soubessem. Ignoramos suas opiniões e sugestões, sem nos dar conta de que elas, mais do que os arrogantes exploradores de bibliotecas, têm algo extremamente precioso e raro a nos oferecer. Possuem um olhar inocente, ainda não viciado. Sabem enxergar o mundo de forma livre e absolutamente criativa. As crianças ainda não foram robotizadas e condicionadas a todas as cercas conceituais que nos cercam. Aos certos e errados. Ao possível e não possível. É lindo ver uma criança fluindo com absoluta liberdade pelo mundo da criação.
Pensando em tudo isso, me ocorre que, se quisermos resgatar a leveza em nossa vida e torná-la mais simples, precisaremos recuperar o contato com a criança que nos habita. É ela, a pequena semente de luz, que tem nos olhos a capacidade de enxergar o que não vemos.
A criança flui pelo mundo com uma graça que nos falta. É capaz de acreditar nas pessoas, no mundo, no bem. Encontra beleza em pequenas coisas que nós, os adultos, já nem conseguimos ver. Uma criança é capaz de passar horas entretida com partículas de poeira iluminadas por um raio de sol em uma tarde qualquer.
Você precisa da ajuda dessa criança, acredite. Da criança de luz. Permita que ela caminhe livre em sua vida. Busque por seu olhar, sua visão de mundo, suas opiniões. Permita que ela lhe inspire a reencontrar a beleza nas coisas simples da vida, pois é isso o que pode nos tornar verdadeiramente felizes.
Quando penso nos momentos mais felizes de minha vida, me dou conta que são de uma simplicidade pueril… O dia em que caminhei por uma floresta e fui tocada por um raio de sol, uma tarde cheia de paz em que me deitei sobre lençóis cheirosos com meu gatinho no colo, uma mão amada acariciando meus cabelos. Tudo tão singelo e desprovido de complicações.
Ouçam. Sem alegria, a erudição é apenas uma casca elaborada e vazia, com cheiro de mofo.
Paremos de dar tanto valor a coisas que só tornam a vida mais densa e pesada. Busquemos pela simplicidade, pela leveza, pelo novo. Aventuremo-nos.
Brinque e seja apenas quem você é. Qualquer criança sabe fazer isso. A criança em você sabe fazer isso.
É simples. Possível. E fará você feliz!