por Carminha Levy
Os xamãs por serem mestres em atravessar os mundos profundo (inconsciente coletivo), médio, (realidade cotidiana) e superior (sagrado) são os sonhadores por excelência. Ao ajudarem os outros a interpretarem seus sonhos, podem auxiliá-los a triunfar sobre as limitações humanas. Isso pode significar a diferença entre a cura e a doença.
A forma deles tratarem a cura é diferente, pois sempre consideram a doença como uma iniciação ou uma cura profunda. Sua grande genialidade é identificar a unidade subjacente à divindade, o fio de ligação de todas as vidas e o poder de unificá-las numa única e grande história. Você não está só no seu sofrimento, pois suas dores fazem parte das dores da humanidade.
O xamã é o sonhador também porque é um visionário, ele vê muito além da realidade externa, acredita nos seus sonhos e que tudo pode mudar, é autêntico e tem um compromisso com a verdade que precisa ser vivida em todos os seus atos. A alma humana é o seu território, o qual ele percorre com inúmeros veículos: a viagem xamânica, técnicas adivinhatórias que servem como diagnósticos, diversas técnicas de cura tais como, recuperação do poder animal, troca do papel com a doença e a medicina xamânica mais tradicional encontrada em todas as culturas, entre outras.
Em todas essas técnicas está o grande poder adivinhatório do xamã, sua intuição aguçada e a facilidade em transitar no universo do sonho – o que temos quando dormimos.
Tal como a psicologia analítica de Jung postula, também para o xamã, a realidade é a interna (como percebemos e sentimos o mundo), o mundo dos sonhos, no acesso direto ao inconsciente coletivo. Para tal, se você não estiver passando por crises agudas, não precisa de um condutor, pois o sonho é o seu terapeuta internalizado.
Quando sonhamos, conflitos internos estão querendo nossa atenção e mesmo que não saibamos seu significado profunndo a psique (mente) já fez sua cura ‘falando’ com o seu consciente. Vejam a facilidade como o ser humano comum consegue falar sobre seus sonhos e dar-lhes um significado, por mais ingênuo que este significado seja é curativo.
O xamã urbano exerce essa função com muita freqüência e há alguns cujo grande talento é ser um decifrador de sonhos, o que ele pode fazer sem sair do seu consultório.
Assembleia dos sonhos
Cotidianamente o xamã da tribo pode ouvir o sonho de um sonhador ou iniciar o dia ouvindo o sonho de todo o grupo. É a chamada assembléia dos sonhos na qual eles são interpretados como um só sonho, que é grupal e diz respeito a algum problema que a tribo esteja passando (intrigas pessoais, competições, as mesquinharias humanas).
Há também um ‘grande sonho’ que um só personagem sonhou, mas conta uma grande revelação a todos. A tribo é convocada para ouvi-lo e geralmente trata-se de um sonho premonitório que diz respeito à comunidade.
O sonho pode revelar também que o sonhador está possuído pelos ‘demônios' da doença e um exorcismo grupal é marcado. Essa técnica é viagem ‘na barca de cura’, na qual o paciente e a tribo, após preparos ritualísticos e ao som do tambor ficam numa ‘barca’ feita pelos corpos de todos os participantes – assunto para um próximo artigo. A viagem é relatada para todos e interpretada como um sonho.
O xamã faz um psicodrama. É isso mesmo, o xamã é realmente o primeiro terapeuta da história da humanidade; ‘criou’ o psicodrama; todas as peripécias da viagem são dramatizadas e personagens como ‘demônios da doença’ são exorcizados. Está feito!
Este ligeiro passeio sobre um tema fascinante e inesgotável é suficiente para que vocês já possam experimentar entender seus sonhos. Vamos à prática.
Prática
– Deixe um caderninho e uma caneta ao seu lado. Assim que acordar escreva.
Você já sabe que todos os personagens do sonho são partes suas, veja o que você tem de comum ou que detesta neles – é difícil, pois não gostamos de ver o que temos de menos‘nobre’ – no sonho você interpreta cada um de seus personagens, ou seja, todos os personagens são partes de você.
Veja o contexto do sonho e se pergunte “para quê” veio este sonho, o que ele quer me dizer? Não conclua que sonhei ‘porque’ no dia anterior aconteceu isto e aquilo. Não dê ênfase ao por que e sim ao “para quê”. O contexto é fundamental por exemplo se por acaso você sonha que um vaso de planta caiu do 10º andar e chegou inteiro no chão, isso não quer dizer que é um bom prognóstico dentro do contexto e sim que é algo que indica uma ilusão, pois o que é irreal é o vasinho se estraçalhar.
Interprete seus sonhos, mas não vá pela via de superstição. O sonho não é adivinhação e sim uma via nobre de acesso a seu inconsciente. O significado das figuras no sonho devem vir do bom senso, pois variam de pessoa para pessoa, mas darei agora alguns símbolos arquetípicos que são comuns a toda humanidade. Ah! e por favor não conte seus sonhos a ninguém, porque o sonho é o que é mais genuinamente você. Não ‘vasculhe’ os sonhos da sua esposa (o), pois é uma invasão de privacidade imperdoável. Não conte seus sonhos a ao seu cônjuge ou qualquer pessoa. “Não entregue o ouro ao bandido”.
Símbolos dos sonhos
Árvore – a árvore da sua vida se está cheia de frutos ou de flores significa que sua vida interna está plena servindo ao propósito a que você veio. Se seca, em ambiente inóspito, procure um xamã (ou terapeuta convencional), você merece ser ajudado.
Casa – seu ego – a parte térrea seu consciente, porões – inconsciente, mais voltado para o divino.
Carro – como você dirige-o, é como você está conduzindo sua vida. Você está no volante tem as rédeas da direção da sua vida (sempre dentro do contexto).
Água – emoções de todo o tipo, se escura negativas; se clara tudo vai bem.
Mar – inconsciente profundo coletivo.
Viagem – mudança de vida, se no mar, entrada no inconsciente coletivo para um grande encontro com o seu self – processo de individuação se o sonho for repetitivo.
Sonhe e sonhe – dormindo e acordado, pois o sonho pessoal é o sal da vida.