por Regina Wielenska
“Certamente há quem se oponha à ideia do indivíduo gravemente enfermo poder escolher a hora do adeus…”
Li hoje uma matéria interessante sobre uma mulher casada há pouco e que, acometida por câncer de pulmão metastático, resolve partilhar num blog sua história e fazer close ups diários, documentando as mudanças de sua face. Alguns poderiam pensar que tudo isso seria um tipo de egotrip. Não é. Algumas fotos mostram efeitos colaterais dos tratamentos, como fadiga, erupção cutânea, mudança de peso e outros aspectos.
Mas o que me chamou mais a atenção foi uma lúcida frase dela sobre sua escolha de recursos médicos que possam lhe trazer mais tempo de vida. O tumor não sumiu, está com seu crescimento contido, e não se sabe por quanto tempo a coisa permanecerá desse jeito. Segundo ela, está fazendo passeios com o marido, conhecendo locais interessantes, se divertindo na medida do possível, amando e sendo amada, aproveitando seus dias sem fazer grandes planos de longo prazo. De um jeito ou outro, o espectro da morte ronda sua vida. E aí entra outra parte importante de seu discurso: ela quer fazer uso da Medicina para estender sua vida, mas não quer que essa mesma ciência acabe por prolongar desnecessariamente seu processo de morrer. Demorar pra morrer lhe parece sem sentido, lhe assusta, parece implicar em sofrimento desnecessário. Sua defesa é de que a legislação mude de forma que pacientes terminais tenham o direito de escolher o momento da partida, que tenham acesso a uma morte serena, com assistência médica, e legalmente validada.
Certamente há quem se oponha à ideia do indivíduo gravemente enfermo poder escolher a hora do adeus, geralmente os argumentos tangenciam questões jurídicas, religiosas ou de outra natureza. Mas há países, ou estados americanos, que já contemplam tal recurso e parece que isso traz mais tranquilidade aos doentes, só recorre a isso quem quiser, não se trata de assassinato.
Uma sólida relação médico-paciente é preciosa. Com base na confiança e nos princípios da bioética, um médico pode ser um ouvinte compassivo dos temores de seu paciente e desenvolver com ele um diálogo franco e cheio de esperança sobre os recursos disponíveis pra controle da dor ou de outros sintomas ruins inevitáveis por ocasião do fim da vida. Pode-se deixar claro se o paciente autoriza ou não internação em UTI, uso de respiração artificial e outras tecnologias de suporte à “vida”, ou se prefere ser mantido confortavelmente sedado em casa ou num leito normal de hospital.
Convido todos a refletirem um bocadinho sobre esse tema e recomendo procurarem outras discussões mais aprofundadas a esse respeito. Podem, talvez, começar pela leitura da obra “De frente para o sol – Como superar o terror da morte”, de Irvin Yalom, diria eu.