por Regina Wielenska
O desenhista Farini publica regularmente no Jornal Metro, edição paulistana, um quadrinho chamado Os Invasores, com dois expressivos extraterrestres como protagonistas.
Dias atrás li o seguinte diálogo entre eles e um terráqueo:
Invasores: “Qual tua filosofia de vida?”
Terráqueo: “Um dia de cada vez.”
Invasores: “Vocês não sabem de nada! Muito melhor um ano-luz de cada vez!”
Agora outra breve prosa, nela eu conversava com meu amigo chileno. Ele relatava não entender como brasileiros curtem o doce creme de abacate, ora comido em potes ou batido como vitamina ao leite! Para ele, uma colherada ou fatia fina de abacate substituiria a manteiga no pão, por exemplo, mas nunca seria comido com açúcar. Eu, por outro lado, afirmava adorar o mexicano guacamole, um dos usos salgados do abacate, mas também o jeito brasileiro de comer a fruta. Na Colômbia. tive a chance de provar el ajiaco, sopa que leva abacate, mas faltou-me disposição…
Quem tem razão nisso tudo, os ETs ou o terráqueo, eu ou o meu amigo chileno e todos os colombianos?
Na verdade, a vida está inevitavelmente recheada de situações em que pessoas se deparam com a diversidade de preferências. Tenho testemunhado conflitos de toda sorte, por razões políticas, religiosas, étnicas, de gênero etc. Muitas dessas brigas talvez fossem consideravelmente reduzidas se as partes envolvidas partissem do suposto de que a unanimidade é muitas vezes desnecessária, e talvez limitadora do desenvolvimento das culturas. Sinto que se as famílias e as escolas ajudassem as crianças a pensarem de modo flexível, buscando entender, compreender o outro, se colocando na posição dele, um pouco que fosse, começaríamos a plantar as sementes de um mundo melhor.
Ficar amarrado num contexto de vida em que temos que estar certos para preservar nossa autoimagem estática, engessada, um discurso mofado sobre quem somos, não me parece existencialmente vantajoso.
A flexibilidade, a empatia, entre outras habilidades sociais, são críticas para o desenvolvimento individual e coletivo. O discurso de ódio que floresce por aí parece ser derivado de visões estanques de mundo, desprovidas de questionamentos e tolerância. Vejo tempos difíceis à nossa frente. Seria eu uma pessimista de carteirinha? Será ótimo se eu estiver equivocada!