Da Redação
Esse problema afeta muitas pessoas na faixa dos 35/40 anos, com maior frequência, mulheres, que já atingiram certa estabilidade financeira. No entanto, o início do transtorno ocorre geralmente entre a metade da adolescência e, pode ser contínuo ou episódico, com períodos de remissão por alguns meses e até anos.
A compra compulsiva em geral está associada a outros distúrbios como depressão, abuso e dependência de álcool ou outras drogas, transtornos de ansiedade e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Muitas pessoas com sintomas depressivos ou depressão propriamente dita, associam compras com melhora no humor, ânimo ou disposição e desenvolvem compulsão não apenas pelo prazer ou desejo de adquirir o objeto em si, mas também, por serem bem tratadas pelos atendentes, pelo ambiente agradável das lojas e shoppings.
A sensação de bem-estar pela compra é momentânea e, não raro, imediatamente após a compra a pessoa percebe a gravidade da emissão de mais um cheque, crediário, dívida no cartão de crédito e, para evitar conflitos familiares, costumam não levar os objetos para casa, esconder da família ou não desfazer os pacotes.
A compulsão por compras nem sempre envolve o descontrole de comprar só para si, mas em presentear, comprar para filhos, marido ou mulher, amigos, comprar objetos para casa, exceder nas compras de supermercado, entre outros.
Diferenciação dos tipos de consumidores:
– consumidor eventual: compra por necessidade e só o necessário;
– consumidor impulsivo: não consegue resistir a um produto dos sonhos em promoção ou com um desconto significativo;
– consumidor compulsivo: considera importante comprar sem considerar o que e quando e, tenta compensar distúrbios emocionais através de compras.
Compra compulsiva: características do transtorno
• Falha recorrente em resistir aos impulsos para comprar objetos desnecessários, mas a pessoa acredita que sejam. Não consegue distinguir a diferença entre necessidade e vontade.
• Aumento da compulsão e impulsividade diante de objetos atraentes; pensamentos de não encontrar mais aquele objeto; senso de necessidade de aquisição e, temor de não suportar as frustrações.
• Tentativa de obter prazer, gratificação, satisfação ou alívio de emoções negativas como tristeza, frustrações, raiva, ansiedade, sentimento de vazio e angústia por meio de compras.
• Gastos desmedidos; aquisição de produtos acima de real poder aquisitivo, sem ter o dinheiro nem expectativas de poder pagar. Muitas vezes, os objetos ficam esquecidos no armário.
• Culpa e arrependimento após a compra.
• Incapacidade de avaliar os riscos ou resistir às promoções e perda do limite para aquisição de produtos promocionais (fazer estoques), mesmo quando não precisa.
• Manifestação de sintomas depressivos quando não pode gastar; quando percebe a gravidade da situação ou quando as dívidas são impagáveis.
• Exceder limites de cheque-especial, cartões de crédito e emissão de cheques pré-datados; dívidas; pedidos recorrentes de empréstimos à família, amigos, agiotas e financiadoras.
• Dificuldade em admitir a existência de um padrão patológico de consumo; não assumir a responsabilidade por seus atos; atribuir a culpa de seus comportamentos à família, ao emprego, patrão, condição social, governantes, etc. e relutância em procurar ou aceitar ajuda profissional.
• Presença de outros distúrbios emocionais, desconhecimento da gravidade da situação e sentimentos de orgulho em cada nova aquisição.
Crenças
Pessoas que não conseguem resistir aos apelos de consumo e exageram nos gastos desenvolvem, como em qualquer outro tipo de compulsão, a necessidade de repetir o comportamento sem razão aparente. O hábito vira vício e o simples ato de comprar acaba fugindo ao controle desses consumidores.
Para justificar esses comportamentos desmedidos, a pessoa alimenta padrões de pensamentos e crenças disfuncionais do tipo: “Eu mereço.” ou “Eu preciso”.
O perigo da autopremiação é que a pessoa cria desculpas para não enfrentar a realidade e aceitar o fato de a situação estar fora de controle. Julga-se merecedora de recompensas materiais por trabalhar longas jornadas, por ser boa mãe, esposa compreensiva, empresário ou executivo bem-sucedido.
Essa fragilidade emocional é bem explorada pelo mercado e pela mídia. A sociedade também é responsável pela manifestação e manutenção desse transtorno por reforçar a ideia de que o ter é mais importante que o ser; por priorizar o consumo e a posse de bens materiais e relegar as relações afetivas e o conhecimento a um plano secundário.
Influências de fatores externos
A sociedade que estimula, aceita e enaltece o consumo é a mesma que sofre as consequências dos transtornos originados por obsessões materialistas.
A mensagem amplamente difundida através de órgãos publicitários e conversas informais de que um determinado bem tornará o homem feliz, mais respeitado e melhor aceito, atinge a mentalidade de pessoas com pouca ou nenhuma compreensão dos verdadeiros valores sociais e morais levando-as ao desespero, conflitos familiares e sociais dos mais diversos níveis de gravidade.
Os apelos comerciais através do aumento do número de parcelas e prazo de entrada; ofertas e liquidações; promoções de coquetéis; frequentes abordagens (ligações, envios de catálogos, e-mails, cartões de descontos em aniversários) aumentam as vendas e os riscos de inadimplência.
Consequências negativas
A inversão de valores e o menosprezo de que toda decisão de compra envolve riscos, favorecem a contração de dívidas e, muitos portadores desse transtorno, podem chegar ao ponto de obrigarem familiares a dispor de grandes quantias financeiras, bens e até da casa própria.
Muitas pessoas recorrem a agiotas para suprir os gastos, o que só faz aumentar as dívidas e piorar ainda mais a situação; enfrentam sérios prejuízos nos relacionamentos conjugal, familiar e profissional e, não raro têm nome incluído em empresas como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e SERASA.
Muitas instituições não contratam candidatos cujos nomes estão incluídos nos cadastros do SPC e SERASA e, algumas demitem funcionários nessas condições, sem esclarecer os reais motivos para não admissão ou desligamento da empresa.
Fonte: Maria Lúcia Madureira é psicóloga cognitivo-comportamental