por Patricia Gebrim
Algumas pessoas parecem possuir uma flexibilidade tão grande que parecem verdadeiros elásticos. É verdade que um pouco de flexibilidade nos cai bem e não faz mal a ninguém, mas quando uma pessoa começa a se esticar para ambos os lados até o infinito, em algum momento acabará por se partir em duas, o que não pode ser bom para ninguém.
Pessoas-elástico são aquelas que sempre perdoam.
Perdoar pode ser bom, mas até o perdão precisa seguir seu próprio ciclo.
Pense na seguinte situação: uma pessoa pisa fortemente no seu pé no meio da pista de dança. O saudável é que, antes de perdoar, você sinta a dor, ou corre o risco de deixar de cuidar do ferimento. Depois, você tem o direito de ficar bravo, afinal sofreu uma agressão e seu dedo está mais vermelho do que uma pimenta malagueta no meio da brasa! Depois, e somente depois, com o pé cuidado e o sentimento raivoso acolhido, talvez você possa então respirar, ouvir o pedido de desculpas da pessoa descuidada que quase arrancou fora seu dedo, e aí sim, de braços dados com a sua generosidade, perdoar. Mas se você é daquelas pessoas que, ao levar uma pisada no pé, logo se apressa em dizer:
– Não foi nada! – antes mesmo de avaliar o estrago, então precisa prestar mais atenção à forma como vem tratando a si mesmo. Provavelmente não está cuidando de si com o zelo com que deveria.
Outra coisa que as pessoas-elástico fazem mais do que seria saudável é: ceder à vontade alheia.
Vivem fazendo o que os outros querem e passam por cima de si mesmas repetidas vezes.
Em um relacionamento saudável os envolvidos deveriam se alternar no que se refere a ceder. Ou seja: às vezes eu cedo, outras vezes faço valer minha vontade. Existe um equilíbrio, um senso de justiça, que mantém o relacionamento vivo e respeitoso. Mas as pessoas-elástico, muito preocupadas em agradar, muitas vezes abrem ao outro mais espaço do que deveriam. Vão deixando de lutar por aquilo que acreditam. Muitas vezes nem dizem o que desejam. Um dia você está louco de vontade de comer um delicioso prato de macarrão, mas se cala e acaba comendo peixe cru no japonês da esquina. O pior é que o outro sequer suspeita que aquela sua cara estranha, uma mistura de enjoo com sorriso embalsamado, não se deve ao cansaço do dia e sim ao fato de que você simplesmente NÃO SUPORTA COMER PEIXE CRÚ!
Ora, se pisam no seu pé e você não reclama, se você faz tudo o que os outros querem, fatalmente acabará sendo desrespeitado. As pessoas o acharão uma espécie de super-homem ou supermulher invulnerável à dor, e acreditarão que a sua felicidade está em servir a todo tipo de caprichos, que serão impiedosamente despejados sobre você. Outras perceberão que você tem uma fragilidade em impor sua opinião e simplesmente se aproveitarão disso.
Não ache que, ao se mostrar tão abnegado e atencioso, acabará por ser assim tratado pelas pessoas, que terão a maravilhosa sensibilidade de adivinhar que sob seu sorriso se esconde um dedo ardendo como pimenta e a vontade de cuspir fora o tão cobiçado sashimi. Não é assim que acontece! No final você será cada vez mais sobrecarregado, tratado sem cuidados, afinal é assim que anda tratando a si mesmo!
Se você quer ser cuidado, respeitado, valorizado… Precisa aprender a dar a si mesmo essa forma de tratamento.
Não importa de onde venha essa sua elasticidade distorcida. Talvez tenha sido aprendida em uma família onde você só seria aceito se agisse conforme o esperado. Talvez você tenha nascido de uma seringueira, aquelas maravilhosas árvores de onde a borracha é extraída. Você acha impossível? Ora, quando eu era criança alguém me disse que eu tinha nascido de um repolho, assim, por que você não poderia ter nascido de uma seringueira?
Bem, o que importa é que você precisa mudar. Precisa "desemborrachar".
Talvez você tenha se calado por tanto tempo que já nem se lembre do som da sua voz. Talvez já não saiba do que gosta, do que não gosta. Se esse for o caso… “CHUTE”! Diga qualquer coisa. Tire "no palitinho". Mas saia desse lugar de eterna aceitação. Você descobrirá a si mesmo no caminho, acredite no que digo.
Na próxima vez que alguém lhe fizer uma pergunta, expresse seu desejo. Diga o que quer.
Acredite, você fica muito mais interessante quando age assim.
(Aproveitando a oportunidade e o fato deste texto ser público, aviso a todos que convivem ou que um dia venham a conviver comigo que, apesar de achar super saudável e charmoso, NUNCA CONSEGUI GOSTAR DE COMER PEIXE CRÚ! )