por Carlos Hilsdorf
Todos nós já nos sentimos incompreendidos algumas vezes em nossas vidas – até aí, tudo bem. O problema começa quando somos (ou nos sentimos) frequentemente incompreendidos. Nesses casos, muitas coisas podem estar acontecendo, nas diferentes fases e situações de nossas vidas.
O Escritor Antoine de Saint-Exupery (1900-1944), autor do famosíssimo “O Pequeno Príncipe” disse: “a linguagem é a fonte de mal-entendidos”. Esta é a causa mais comum da incompreensão – mesmo quando falamos o mesmo idioma, cada um de nós reage emocionalmente, e não apenas racionalmente, às palavras.
Nossa história de vida, nossas crenças e valores dão “peso” diferente às palavras que dizemos e ouvimos.
Dizer: – E aí mano? Pode ser entendido como uma saudação ou como uma ofensa, dependendo de quem diz, de quem ouve e sob que circunstâncias a frase foi dita. Assim acontece com tudo o que dizemos. Amor não significa a mesma coisa para todas as pessoas, embora todos tenham uma noção do significado geral da palavra amor. Mas dizer amor quando se está amando é diferente de dizer “amor” quando não se está. Usamos as mesmas palavras para coisas muito diferentes. As pessoas dizem “eu amo sorvete” e logo depois dizem “eu amo você”. No primeiro caso a palavra expressa uma sensação, na segunda “deve” expressar um sentimento.
É muito frequente que as pessoas pensem estar se fazendo entender e sendo entendidas, quando, na verdade, não estão. Especialmente quando você está falando sobre uma experiência muito particular que você viveu e o outro não. Embora a outra pessoa diga entender o que você está sentindo, ela está apenas fazendo o exercício de imaginar-se no seu lugar. O simples fato de imaginar a si mesma em seu lugar, já causa interpretações diferentes: ela não é você.
Como disse Charles Baudelaire (1821-1867), poeta francês precursor do Simbolismo, “Somente por causa de más interpretações generalizadas é que todos se entendem; por isso as pessoas se entendem, mas nunca concordam”.
Porém, a maior dificuldade está no nível de consciência. Compreender é um ato de respeito, se as pessoas não te respeitam e/ou você não respeita as pessoas, a compreensão será impossível.
Ninguém pode compreender outra pessoa se somente ouve, mas não escuta. Ouvir e escutar são coisas totalmente diferentes. Ouvir está ligado à capacidade da audição, escutar está ligado à capacidade e à dedicação em prestar atenção e procurar entender.
Quem te ouve, mas não te escuta, jamais irá te entender.
Um dia você está em uma festa, onde reencontra muitos dos seus amigos, alguns de infância, outros de adolescência, amigos com os quais você tinha profunda afinidade, e dos quais sentia uma grande saudade. Porém, uma coisa estranha acontece: vocês não conseguem mais estabelecer um diálogo prazeroso e duradouro. É como se você não se reconhecesse mais no cenário, é como se aquela pessoa não fosse “aquele” seu amigo, de quem você sentia tanta saudade…
O que houve?
Por que essas pessoas não te entendem mais?
Por que você não entende mais essas pessoas?
A “pessoa” de quem você sentia saudades não existe mais, ela mudou, você mudou. A afinidade que havia naquela fase da vida não se transfere automaticamente para o dia de hoje. Se vocês estiverem em níveis de consciência muito diferentes, aquele que cresceu, amadureceu e evoluiu mais, se sente incomodada com as futilidades dos imaturos. E, os imaturos, por sua vez, vão achar que a pessoa mais amadurecida ficou chata, velha, sem assunto…
São dois universos tão distintos que não se compreendem mais. Podem conviver educadamente, mas já não buscam mais o convívio, um do outro.
Quando as pessoas não se admiram e não se respeitam, passam a se desentender com extrema facilidade.
Talvez, analisando seus relacionamentos com sua família, amigos, colegas de trabalho e com a pessoa a quem você ama, você possa pensar:
– Que droga, ninguém me entende por inteiro! Algumas pessoas me entendem em algumas coisas, mas não entendem em outras… Não encontro a identidade que preciso para me relacionar…
Bem-vindo ao mundo real!
E, uma pergunta:
Você entende alguém por inteiro?
Francisco de Assis dizia que devemos buscar mais compreender que ser compreendidos. Este é um ótimo começo, afinal na vida, é dando que se recebe…
A admiração e o respeito criam um “lugar comum” onde podemos vencer as barreiras da comunicação, ouvindo com o coração e escutando com toda a nossa alma. Nesse lugar, o amor e a amizade são plenamente possíveis.