por Renato Miranda
É corriqueiro escutar que a vida das pessoas se tornou uma espécie de exigência de desempenho constante e busca cotidiana por uma pretensa perfeição em tudo que se faça. Em pressuposto temos como consequência uma vida cheia de ansiedade e desilusões. Seja no esporte ou em qualquer outra atividade, desde tenra idade, a exigência por desempenhos sempre elevados se tornou regra para se ter o que se convencionou denominar… qualidade de vida.
Nesse cenário é perfeitamente compreensível, que os efeitos de uma vida excessivamente ansiosa produzem um impacto devastador nas emoções. Ou seja, tensões exacerbadas, angústia, tristeza, frustrações e outros fenômenos que repercutem negativamente na saúde das pessoas.
Melhorar constantemente as habilidades, tanto físicas, cognitivas e emocionais para sucessivas e novas adaptações é um caminho com possibilidades de enfrentamento de suportar pressões constantes por resultados ótimos. Afinal, o resumo da vida é resolver problemas.
Como nossas ações são induzidas especialmente pelas emoções, recordo as palavras do amigo Olavo Feijó; um dos grandes intelectuais da psicologia do Brasil e que tive a felicidade de tê-lo como professor e orientador. Por meio de suas aulas e palestras edificantes em psicologia funcional e do esporte, me lembrei de suas palavras, que por excelência, são sempre atualizadas, pois ele parece estar em um tempo à frente.
Quando no início dos anos 90 organizei um simpósio em psicologia do esporte, Olavo Feijó disse: Ao se aceitar a hipótese de que o ser humano é uma estrutura em constante processo de equacionamento com a complexidade do seu meio ambiente e de que o ser humano é um sistema com o objetivo de eficácia, de dar certo, a partir dessa hipótese fluem as definições das três principais funções do psiquismo: as emoções, a inteligência e a vontade.
As emoções podem ser consideradas como a função que a pessoa ocupa ao atribuir valores e significados às vivências humanas. Valores e significados permeiam o desenrolar de nossa vida diária e eles desempenham o papel de prognóstico do nosso comportamento (…).
A inteligência é a função que busca resolver problemas novos nas vivências humanas. Em outras palavras, quando nos defrontamos com problemas conhecidos ou já enfrentados, nós não precisamos usar a inteligência, basta usar os costumes, os hábitos, as repetições (…). A função intelectual é metodológica, é a de operacionalização das tentativas humanas de resolver bem seus problemas.
A vontade é a função que estabelece o nível de necessidade e de urgência, no processo de solução de problemas. A atividade voluntária (da vontade) é aquela que se expressa pelo processo decisório – ela mobiliza todos os recursos equacionadores do organismo, visando a resolver eficazmente os problemas.
Portanto, acrescenta Feijó: A emoção é inteligente quando ela estabelece valores e significados que favorecem a pesquisa de soluções, abrindo a mente para alternativas de "ensaio e erro". A emoção inteligente não tem medo do problema novo: ao invés de considera-lo "dificultoso", ela encara o novo como "desafiador". A emoção inteligente contribui para a boa resolução dos problemas.
Para Feijó, Conseguir qualidade de vida, então, é um problema que tem a ver com o cultivo das emoções inteligentes. Isto é: se a qualidade de vida é resolver problemas com eficácia (com o máximo de resultado e o mínimo de desgaste), se a inteligência é a função de resolver problemas novos e se a natureza dos valores significados propiciada pelas emoções pode bloquear o processo equacionador, qualidade de vida só poderá advir quando a pessoa cultivar valores construtivos e positivos no seu mundo interior.
Vida com qualidade é aquela que resolve bem os problemas no contexto do ambiente. Para que isso aconteça, nossas emoções devem optar por valores e significados que propiciem a realização de nossos objetivos existenciais, abrindo caminho para a busca de solução dos problemas, criando a urgência necessária para as ações produtivas do equacionamento. Isto é, em última análise, o resultado das emoções inteligentes.
Neste "recorte" das palavras de Olavo Feijó, fica claro que o desenvolvimento pleno para a adaptação às novas e sucessivas exigências, passa necessariamente pela compreensão de como inteligência, emoção e vontade podem nos auxiliar a viver menos ansiosos e com qualidade e, portanto, com mais funcionalidade.