por Patricia Gebrim
É incrível como as mesas nos restaurantes parecem estar cada vez mais próximas… Ao menos nesses restaurantes mais comerciais que servem refeições self-service na hora do almoço.
Ontem, no meio da correria de meu dia, estava eu em um desses restaurantes, tão grudada à mesa ao lado que seria impossível deixar de ouvir a conversa de meus vizinhos de mesa.
O assunto era delicado. Três rapazes discutiam fervorosamente qual era o melhor lugar para se comprar um DVD pirata “de boa qualidade”. Depois de meia hora, saí do restaurante com uma sensação incômoda, como se tivesse uma espinha de peixe entalada na garganta. Por sorte posso escrever, assim faço circular essa energia, a transformo em algo que dê sentido àquelas palavras que escutei, sem querer, no meio de meu dia.
Não estou aqui para fazer mais um discurso contra a pirataria, mas aquela conversa me fez pensar nas escolhas que fazemos, e no que move essas escolhas.
Seja comprar um DVD pirata, estacionar em uma vaga de idoso, furar uma fila, o que percebi é que as pessoas que escolhem agir assim têm a sensação de que não estão prejudicando ninguém.
– Ora, se existem tantas vagas para deficientes livres, que problema existe em eu usar umazinha só? – é o pensamento que lhes ocorre para justificar a sua atitude. Claro que essa forma de pensar está fundamentada em uma visão individualista. Essas pessoas olham para si mesmas como se fossem entidades separadas do todo que as cerca.
A meu ver essa é a raiz de muitos problemas que enfrentamos coletivamente.
Ora, se fôssemos a única pessoa do mundo, claro que não haveria problema algum!
Mas agora pense… E se TODAS AS PESSOAS que estavam no shopping naquele momento pensassem o mesmo. Haveria vagas de idosos suficientes?
Só existiam aquelas vagas livres porque muitas pessoas PENSARAM COLETIVAMENTE e compreenderam que seria melhor PARA O TODO que as vagas fossem respeitadas.
Assim, acredito que para que tenhamos uma convivência mais justa e respeitosa, precisamos mudar nossa forma de pensar. Antes de fazer uma escolha, ou tomar uma atitude, precisamos nos perguntar:
– Como seria se TODAS AS PESSOAS fizessem isso?
Jogar um pedaço de papel pela janela do carro pode não parecer nenhuma falta grave, mas como seria se TODAS AS PESSOAS fizessem isso? Como seria se TODAS AS PESSOAS passeassem com seus cães e não recolhessem a sujeira das ruas? Como seria se TODAS AS PESSOAS comprassem DVDs piratas, parassem em vagas de idosos, estacionassem em locais proibidos “só por um minutinho”?
Quando pensamos assim fica fácil compreender as consequências de nossas escolhas e ações.
De nada adianta reclamarmos da falta de ética e respeito se não nos dermos conta de que, sem perceber, fazemos parte daquilo que sentimos nos incomodar.
Cada um de nós é um fio desse tecido que envolve a todos.
Façamos, o melhor que pudermos, a nossa parte. Só assim poderemos, aos poucos, construir uma realidade mais justa e respeitosa.