por Nicole Witek
Você leu bem… FIB* e não PIB! Estou falando de um pequeno país, o Butão, cujo rei Jigme Singye Wangchuck, em 1972, resolveu contra-atacar as críticas de governar um país miserável.
O rei retrucou assinando e implementando medidas que iriam garantir uma economia adaptada à cultura do país e baseada nos valores espirituais budistas.
Os modelos tradicionais de desenvolvimento de um país levam em conta índices econômicos e financeiros como PIB – Produto Interno Bruto.
O rei do Butão propôs um novo índice: FIB – Felicidade Interna Bruta! Nunca se ouviu falar que desenvolvimento espiritual com desenvolvimento socioeconômico promoveria a felicidade dos cidadãos!
Porém, essa ideia está traçando seu próprio caminho. Hoje não se pensa nessa proposta como uma piada. Parece que os governos estão começando a rever seus conceitos, principalmente em tempo de crise, quando os modelos conhecidos estão explodindo um após o outro.
Quais são os alicerces principais do FIB?
1 – desenvolvimento socioeconômico sustentável e igualitário
2 – preservação e promoção dos valores culturais
3 – conservação do meio ambiente natural
4 – estabelecimento de uma boa governança
Com o apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) o reino do Butão aplicou seu programa chamando a atenção de outros países. Esse programa requer para seu sucesso nove pontos a serem medidos e revisados como:
1 – o bem-estar psicológico avaliando o grau de satisfação e o otimismo de cada indivíduo: emoções, autoestima, sensação de competência, estresse, atividades espirituais;
2 – a saúde medindo a eficácia das políticas de saúde até nos comportamentos cotidianos como o exercício físico ou no sono e nutrição;
3 – o uso do tempo como medidor da qualidade de vida promovendo o desfrutar da família, a socialização e gestão equilibrada levando em conta o tempo passado no trânsito, no trabalho, nas atividades educadoras…;
4 – a vitalidade comunitária focando as interações nas comunidades: nível de confiança, vitalidade dos relacionamentos afetivos, prática de doação e voluntariado;
5 – a educação avaliando os fatores como participação em educação formal e informal, competência, envolvimento na educação e valores ensinados aos filhos;
6 – a cultura avaliando as tradições locais, festivas, as oportunidades de desenvolver capacidades artísticas e a discriminação pela religião, raça ou gênero;
7– o meio ambiente medindo a percepção dos cidadãos em relação à qualidade da água, ar, solo, biodiversidade e muito mais como coleta de lixo, áreas verdes e etc;
8 – avaliação sobre como a população enxerga o governo e todos os sistemas de administração do país em termos de responsabilidade, honestidade e transparência envolvendo os cidadãos nas decisões e nos processos políticos;
9 – avaliação do padrão de vida por meio da renda individual e familiar, o nível de dívidas, das qualidades habitacionais.
A primeira tentativa de medição do Produto Interno Bruto apareceu nos Estados Unidos em 1934, querendo medir toda a produção econômica dos americanos.
Essa ideia do FIB apareceu em 1972. Quase 30 anos depois…
Seria o FIB uma grande revolução dos espíritos, pelo mínimo dos espíritos ocidentais? Seria o FIB uma volta ao justo equilíbrio da balança espiritual do cidadão do planeta?
Será a medição do PIB, medidor de riqueza econômica, um índice de quem se agarra ao dinheiro e só vê como fator de sucesso o "quantitativo" em detrimento do "qualitativo"? Ou seja 'destruir' esse antigo modelo e recomeçar um novo tipo de vida com mais felicidade e bem-estar.
Seria o PIB um medidor econômico de um mundo materialista, enquanto o FIB seria o índice de medição de um mundo espiritualizado?
Se almejarmos o bem-estar social e não apenas a atividade econômica do cidadão, não se deveria aproveitar a baixa do PIB no mundo todo para fazer a mudança para o FIB?
Será que o fracasso das estruturas econômicas, obsoletas e sua substituição por novas estruturas adequadas abririam um caminho para o futuro?
Deveríamos falar de destruição criativa? Shiva e Vishnu se aliando: um destruindo e o outro construindo o mundo novo?
Joseph Stiglitz – Prêmio Nobel em Economia 2001 – disse: "Se o PIB é o que pensamos ser o sucesso, as pessoas vão se esforçar pelo PIB". Assim todos os esforços serão feitos para aumentar a renda per capita, a produção e a produção de dinheiro. Assim também, os políticos irão apoiar políticas que aumentarão o PIB em detrimento da qualidade de vida.
E se o sistema fosse errôneo? A pergunta “O quanto meu país é rico?”, poderíamos retrucar: "O quanto meu país é feliz?". Isso mudaria o foco dos políticos. A conversa mundial mudaria de foco. Dessa busca de outros fatores de sobrevivência se encontraria outros parâmetros de contabilidade e outras estatísticas.
Esse minúsculo país de 700.mil almas, preso entre dois gigantes como a Índia e a China e que foi totalmente isolado durante milênios, talvez esteja mostrando um caminho, uma orientação para o futuro?
Moralizar, espiritualizar, endireitar, aplicar uma ética universal a um mundo onde a globalização parece inevitável seria interessante.
Talvez essa ideia do FIB, do Índice de Felicidade, seja um possível ponto de partida para aplicar subjetividade na economia e nas finanças mundiais e humanizar os intercâmbios e os sistemas.
Qual a relação do FIB com o yoga?
Se você se lembrar bem, o yoga é um sistema completo chamado “caminho dos oito membros”. Os primeiros ingredientes de um yoga bem compreendido são relacionados a comportamentos de respeito para consigo mesmo e para com os outros, enxergando a lei dos opostos e desejando encontrar o caminho do meio – pré-requisito indispensável à tranquilidade psíquica e ao equilíbrio.
Curiosidade
O rei Jigme Khesar Namgyal Wangchuk do Butão se casou dia 13 de outubro com a princesa Jetsun Pema
Mais informações:
• The International Conference on Gross National Happiness
• Site sobre a 5a Conferencia Internacional da Felicidade Interna Bruta www.felicidadeinternabruta.org.br
• Projeto piloto inicial ministrado na cidade de Angatuba, interior de São Paulo desde 2008
• Ver as publicações do Dr. Eric Zencey, membro do Conselho Internacional do FIB
• Interview of Joseph Stiglitz www.foratvyoutube