por Lilian Graziano
“O hábito de ser negativo cria cadeias e cadeias de neurônios com essas marcas”
Assistia a um filme quando a personagem, lá por certa altura do longa, pergunta ao seu médico, já deprimida, se está à beira da morte. Teme um tumor cerebral, pois há muito não enxerga direito, vê tudo embaçado, tem tonturas, dor de cabeça.
O médico, na verdade, é um ginecologista, mas não ignora o histórico familiar da moça para a doença e vai investigar o seu caso. Pede a ela que espere o resultado dos exames sem se afligir, pois ele mesmo não ficará preocupado até que chegue um resultado ruim.
Mas a moça crê, mesmo, cheia de explicações para tanto, que vai morrer depressa, que o médico descobrirá que apenas poderá prolongar um pouco sua vida, mas que tudo o mais, proveniente de um tumor, é inevitável.
Do lado de cá da tela da TV, fiquei pensando… quantas vezes isso não acontece? Diante de um sinal que, aparentemente, é apenas um sinal, ficamos imaginando origens e consequências diversas, sofrendo por antecipação, juntando argumentos sempre para justificar que o pior acontecerá. Fazemos isso não só em relação a doenças, mas com tudo: para alguns, o fracasso ou a morte são sempre iminentes. E as histórias malsucedidas já começam assim, na imaginação.
O problema é que para o nosso cérebro, tanto faz se estamos lembrando, imaginando ou vivenciando uma situação de fato. Os sentimentos que as lembranças ou imaginações provocam ficam registrados como numa vivência real, desencadeando uma série de reações, como se o fato suposto ou rememorado tivesse realmente acontecido naquele momento. Em resumo: experiências ruins, repetidas na memória, fictícias ou não = neurônios marcados pelas sensações ruins. O hábito de ser negativo, assim, por sua vez, cria cadeias e cadeias de neurônios com essas marcas. E já não se sabe o que veio primeiro: os neurônios orientados para a negatividade ou o hábito de esperar sempre o pior das coisas.
Como sair do padrão de pensamentos negativos?
Não que pensar no pior não seja instrutivo, que não evite um monte de problemas, antecipando soluções para eles. Mas tudo tem vários lados, várias hipóteses e possibilidades. O importante é estarmos preparados para todos, sejam bons ou ruins, sem antecipar sofrimentos ou comemorações. E nem é tão difícil assim: basta praticar a objetividade diante dos fatos e ocasiões, lembrar-se de que, para cada hipótese ou possibilidade ruim, haverá sempre uma boa (ou algo de bom de que se possa tirar proveito).
Voltando à nossa aflita personagem, após esse lapso reflexivo que me ocorreu, a cena agora é de suspense. O médico vem à sala com o exame em mãos e um pequeno pacotinho. Ela, já em prantos, jura testamentos verbais, define a herança de parentes e do médico após sua passagem desta pra uma melhor (ou pior, porque nunca se sabe…). Mas o médico lhe dá o pacotinho, antes de lhe mostrar o exame. Saca dele um par de óculos. Coloca na moça. Ela não acredita que, com um simples par de óculos, todos os sintomas foram embora. Fica maravilhada.
Já o médico nunca duvidou que, mesmo sua especialidade sendo ginecologia, ajudaria a moça. Que tumor, que nada. Os exames registraram foi um problema de vista e só isso.