por Regina Wielenska
Noutro dia li a história de uma garota com cerca de seis anos que organizou uma barraca de venda de refrescos de forma a juntar recursos que ajudassem a descobrir a cura da doença grave que acometia seu irmão mais novo. Mais gente se sensibilizou e em tempo curto uma quantia expressiva foi arrecadada para a causa.
Você pode dizer: coisa de americano, um povo que tem o ativismo social como um valor na cultura.
Mas perto de mim, no Café Jasmim Rosa, que frequento algumas vezes na semana, pequenas grandes coisas também acontecem. Todo muito sabe quão dura é a vida dos pequenos empreendedores no Brasil. Muitas taxas a pagar, desafios em profusão, custos crescentes, fornecedores que somem do mercado sem avisar, tudo parece (e é mesmo!) nebuloso e cansativo. Fazer o café funcionar dá bastante trabalho à proprietária e sua azeitada equipe. Mas eles não param por aí.
De vez em quando uma caixa grande de papelão atravanca o já reduzido espaço. Pra quê? Numa ocasião foi pra coletar brinquedos para as crianças da creche localizada a poucos metros na mesma rua. Na semana das crianças, o Café ofereceu um lanche reforçado pros pequenos, e os brinquedos chegaram juntos. Aquele ato representou um tanto de encantamento num cotidiano nem sempre de abundância para as crianças. A creche não pediu nada. A dona do café não foi convocada pela creche. Ao contrário, esta foi consultada pela empreendedora, e os clientes foram instados a embarcarem na proposta de ajudar doando bonecas, triciclos, carrinhos, sabonete infantil, giz de cera e tantos outros itens, à ONG do quarteirão. O esforço de muitos, liderado pela jovem Fabiana, deu certo.
Noutro dia a caixa voltou. Mudara a causa. Na frente do café há um centro kardecista, que tem um pequeno bazar cuja renda cobre parte das despesas e ajuda o centro a socorrer a quem precisa. Repetiu-se a história: eles foram consultados pela empreendedora, "no que posso lhes ajudar?". E assim a caixa foi ficando pequena pras muitas doações de roupas, objetos de utilidades várias, itens potencialmente capazes de gerar renda no bazar.
Outra história. Meu amigo é membro de uma loja maçônica. Quase todos os amigos dele, e dos outros membros também, se engajaram na tarefa de coletar tampinhas de garrafas PET e argolas de latas de alumínio. Pra que isso? Quem compra recicláveis paga pelas argolas e tampas um valor razoavelmente superior ao alumínio das latas ou ao PET em si. Para fazer 100 reais precisa juntar um monte quase infinito de unidades. Mas com o esforço de uma corrente de colaboradores, eles estão conseguindo adquirir cadeiras de roda para uma instituição de idosos carentes. Trabalho de formiga. E funciona. Pouca gente poria a mão no bolso pra doar x ou y reais. Mas todo mundo acha simples recolher tampinhas e argolas. Tanta gente consome refrigerantes por dia…
Minha narrativa descreve em poucas linhas tentativas aparentemente singelas e certamente bem-sucedidas. Você seria capaz de protagonizar outras histórias assim? Não precisa ir longe nem complicar as coisas, seja simples, objetivo e organizado. Algo haverá de dar certo. A quem ajudar? Teu quarteirão contém a resposta. Como ajudar? Pergunte a quem precise ou observe o mundo ao seu redor. A resposta virá. Desejo bom trabalho a todos.