por Patricia Gebrim
Um dos presentes mais belos que podemos dar a alguém é a nossa confiança. Quando confiamos, podemos de verdade estar lá, com o outro, num espaço de abertura, entrega, vulnerabilidade. Podemos abrir mão das armas e armaduras, defesas que costumamos usar em nosso dia a dia cheio de arestas e perigos. Quando confiamos podemos relaxar e abrir as portas que levam ao nosso coração. Não existe nada mais poderoso do que essa abertura.
No entanto, seria ingenuidade acreditarmos que podemos confiar em todas as pessoas. Alguns ainda não têm luz suficiente em si para respeitar o outro. Muitos ainda estão sintonizados com o medo, com a busca desenfreada de poder, controlados por seus egos, tentando dominar outras pessoas para atingir seus objetivos. Ou ainda, são tão inconscientes que agem como crianças inconsequentes, causando o mal sem nem se dar conta disso. Não podemos ainda confiar nessas pessoas.
A dor de ofertar a confiança a quem não a mereça é grande. Quando isso acontece, nos sentimos traídos, injustiçados e profundamente feridos. É triste quando alguém usa esse estado de vulnerabilidade para nos lesar de alguma maneira. Quem de nós já não passou por isso?
Se isso nos ocorrer, a solução não está em nos vitimizarmos e culparmos outro. Temos algo a aprender. Precisamos compreender a nossa participação nessa dor. Se convidamos qualquer pessoa a adentrar nosso espaço mais íntimo, somos parcialmente responsáveis pelo que possa acontecer. Assim, precisamos aprender a avaliar melhor as pessoas antes de abrir as portas de nosso templo sagrado. Precisamos aprender a ouvir nossa intuição, a observar um pouco mais, a tatear com cuidado o terreno, antes de sair correndo no escuro à beira de precipícios. Somos responsáveis por cuidar de nós mesmos.
Precisamos ser nossos guias e protetores, confiar sim, mas antes de confiar no outro é preciso que confiemos em nós mesmos. Nada de sairmos por aí, ansiosamente, montados em nossas carências, esperando que qualquer bicho peludo seja um carneirinho à espera de afagos. Isso é ingenuidade, e causa o mal.
Relacionamentos confiáveis são um maravilhoso espaço de cura e proteção. Todos precisamos de um lugar assim para repousar nosso rosto cansado das batalhas diárias. Assim sendo, devemos escolher com muito cuidado as pessoas que estarão perto de nós, as mais próximas, as mais queridas, e é imprescindível que, ao menos nessas pessoas, possamos confiar.
Claro que ninguém é perfeito, e mesmo as pessoas mais amadas nos ferirão vez ou outra, e vice-versa, mas é fundamental que exista um desejo real, profundo e comprometido de dar o melhor de si. Todos podemos perceber essa intenção no outro. Confie em sua capacidade de escolher as pessoas que merecem estar ao seu lado. Não é difícil perceber se somos verdadeiramente queridos, desde que estejamos verdadeiramente dispostos a enxergar. Procure enxergar com os olhos fechados. Quando fechamos os olhos, enxergamos com os olhos da alma, e a alma é muito mais sábia do que o ego. A alma não é tão afetada pelas máscaras e falsas aparências e é capaz de escolher em quem podemos de verdade confiar.
Afaste-se das relações onde a confiança não pode acontecer. A confiança é a base do amor. Não há como amar por trás de muros e armaduras.
Acredite, não há como amar verdadeiramente se não nos pudermos entregar.