por Patricia Gebrim
Quando eu tinha 18 anos de idade, eu adorava uma batalha! Não importava muito o motivo que tivesse gerado a discussão. Bacana mesmo era lutar pelo que eu queria, testar minha força, meu poder de persuasão.
Naquela época eu me sentia invulnerável, capaz de enfrentar monstros e dragões. Eu podia me colocar em frente a uma árvore para impedir que fosse derrubada, podia lutar pelos direitos das minorias oprimidas… mas também lutava por coisas absolutamente sem importância, e em meio a tantas batalhas, lá que ia embora uma boa quantidade da minha energia em embates certamente dispensáveis.
Aos 18 anos isso faz sentido, afinal precisamos aprender a lutar, certo treino é mesmo necessário, para desespero dos pais, nossos treinadores e "oponentes" prediletos!
Mas o tempo passa, os ferimentos de batalha vão marcando nossa pele e, embora não aconteça com todos, alguns de nós vamos nos tornando mais sábios e aprendendo que nem toda batalha vale a pena ser travada. Às vezes é mais sábio recuar, às vezes é mais sábio assoviar e olhar para o lado enquanto uma batalha acontece. Às vezes é muito mais sábio abrir mão de um pouquinho daquele delicioso gosto de vitória para preservar a paz.
Mesmo porque, com o tempo, descobrimos que o gosto de vitória, apesar de ser doce na hora da conquista, depois se torna amargo. Muitas vezes sofremos ao ganhar uma batalha, quando percebemos o quanto a luta travada feriu, destruiu, machucou. (Quantas vezes, após uma briga, nos sentimos culpados por termos ferido a alguém que amamos?)
Só os mais maduros compreendem o valor contido nessa palavra: paz. Assim, não queiram explicar isso aos que estão começando seu caminho de vida. Dirão que você é covarde, ou que fica em cima do muro, ou qualquer coisa parecida. Quem entende dessas coisas são os que já se feriram e cansaram muito nos embates da vida. São os sábios que sabem que nossa energia é limitada e que o melhor é guardá-la para quando for de verdade necessário.
Relacionamento algum tem chance de sobreviver se for palco de batalhas frequentes e intermináveis. Quem suporta viver em guerra? A luta sem pausas vai cansando, exaurindo, drenando o que aquela relação tem de melhor. Pais e filhos, marido e mulher e até mesmo amigos que vivam em clima de guerra têm uma boa chance de estragar de forma irremediável o que poderia ser uma bela relação.
Claro que existem batalhas que não podem ser evitadas, e nessas batalhas devemos entrar inteiros, movidos por nossa intenção lícita de preservar a integridade, a verdade, a transparência, o respeito.
Um relacionamento onde nunca existem batalhas é tão desequilibrado como aqueles em que se briga por tudo. O conflito faz parte de uma relação saudável. Certa dose de conflito nos faz crescer e mostra nosso comprometimento em preservar a própria pele, em estabelecer limites saudáveis, em negociar soluções que possam respeitar as partes envolvidas.
O desafio é encontrar o equilíbrio, aprender a escolher as batalhas, saber quando avançar, quando parar e quando recuar. É preciso que a gente aprenda a lutar pelo que acreditamos de forma cuidadosa, causando o mínimo de ferimentos, afinal, em geral, os "oponentes" dessa luta são as pessoas que mais amamos.
Eu acredito que antes de nos tornarmos capazes de minimizar as guerras em um nível planetário, precisamos aprender a criar paz em nossos lares. Esse é o desafio de cada um de nós.