por Lilian Graziano
O que nos desvia dos pedregulhos e do esterco no caminho é o olhar treinado para as flores que margeiam as ruas.
A metáfora que trata da perspectiva positiva que temos de ter, quando nossa trajetória é cheia de obstáculos, pode parecer piegas, mas é real e útil. Tudo na vida é uma questão de foco, até mesmo (e principalmente) sob o viés da Psicologia Positiva (PP).
No final da década de 1990 ao fundar a PP, o psicólogo Martin Seligman empreendeu a maior mudança de foco da história da Psicologia. A pauta da doença, presente nos settings terapêuticos, deu lugar ao autoconhecimento e ao fortalecimento emocional do indivíduo sob o uso de suas próprias forças pessoais (veja aqui). Não era preciso ter patologias para passar por psicoterapia – bastava o desejo do desenvolvimento pleno e funcional.
Seligman estava corretíssimo. Ao falar em metáforas, mas tratando de nossa fisiologia — conexões neuronais desenvolvidas ao “olhar para as flores” — essas ampliam as redes de neurônios orientadas para o mesmo fim. Em outras palavras, emoções e atitudes positivas ampliam conexões positivas, modificando, de uma maneira geral, a visão de mundo do sujeito, cujo foco será flores, não o esterco do caminho. Tal implicação favorece comportamentos e relacionamentos mais saudáveis e assertivos.
Outra questão do foco envolve a compreensão da felicidade como processo e não o fim em si. Caso morra hoje, você pode dizer que foi feliz? Ou a felicidade está lá, no ponto imaginário que até então lutava para alcançar? A felicidade deve estar no caminho e não no fim dele, e alguns conceitos da PP nos ajudam a encontrá-la assim.
Quanto mais momentos de flow tivermos na vida, por exemplo, maiores nossos níveis de gratificação em relação a ela. Em geral, entramos em flow quando nos dedicamos a atividades que gostamos de fazer e que exigem o emprego de nossas habilidades num nível ótimo (nem aquém nem muito além do que somos capazes). Não é preciso ser um especialista em Psicologia Positiva para percebermos que quanto mais gratificação obtivermos na vida, maiores nossas chances de sermos felizes.
Mindfullness: momento presente
Mas, além disso, a Psicologia Positiva traz um outro conceito que se encontra relacionado a um possível aumento nos nossos índices de felicidade. Trata-se do mindfullness.
O mindfullness estado de plena atenção no momento atual, nos direciona a aproveitar o presente, quando abstrações e pensamentos negativos funcionam como “ruídos”, tirando-nos daquela situação e projetando-nos a outras que têm sua forma, tempo e lugar de serem vivenciadas/resolvidas.
Um bom exercício de mindfullness é reparar no que está à sua volta e em como você se sente diante disso, tirando o foco de passado e futuro, diminuindo a ansiedade e o estresse provenientes das projeções “ruidosas”. A prática tem fundamento na meditação oriental, da qual o médico ocidental Jon Kabat-Zinn tirou inspiração para criar a sua meditação zen, que aplica no tratamento contra o estresse.
Três razões para manter o foco
Até aqui foram três boas razões para levar a sério a questão do foco:
1ª) O desenvolvimento de atitudes positivas;
2ª) A felicidade no presente;
3ª) E a redução do estresse.
Como e quando você pode exercitar isso é uma escolha pessoal, baseada nas suas características, habilidades e talentos (e também em suas descobertas).
A decisão, agora, cabe ao leitor (a): se haverá mais flores, pedregulhos ou esterco no caminho é algo que só depende de você. O que não há dúvidas é o fato de que a Psicologia Positiva pode ajudá-lo (a) em cada passo desse trajeto, decorado com aquilo que o seu olhar permitir.