por Patricia Gebrim
Esta semana li na revista Vida Simples uma interessante entrevista do educador e escritor Eugenio Mussak, na qual ele abordava a questão da passagem do tempo e do envelhecimento.
Qual não foi minha surpresa ao me deparar com um pensamento sobre o qual eu mesma já me detive muitas vezes. Eugenio afirma que não basta a passagem dos anos para que alguém adquira maturidade. Para ele é preciso mais:
“Ter vivido simplesmente não significa ter-se tornado maduro. É preciso aprender com a vida, e isso requer mais do que simplesmente viver. Antes de qualquer coisa é necessário ter humildade, a primeira qualidade dos sábios."
Ora, não é difícil perceber que os anos vividos não trazem necessariamente sabedoria. Está cheio de gente por aí com uma boa bagagem de anos nas costas parecendo saber ainda menos do que sabiam quando eram crianças.
Isso costuma nos confundir. De certa forma gostaríamos de associar o envelhecimento à obtenção de algo especial, como uma forma de compensar as inevitáveis limitações e perdas físicas. Não que não possa acontecer. Claro que, aos que se dedicam a crescer e aprender, a riqueza de experiência de uma vida plena de lições pode fazer sim muita diferença. Mas é preciso que uma energia seja empreendida nesse sentido. O amadurecimento não acontece sozinho, como parece acontecer na natureza, a não ser no nível biológico. Para uma macieira, o processo é claro. A árvore cresce, dá flores, frutos e assim por diante. Da mesma forma, nosso corpo físico passa por etapas mais ou menos conhecidas, mesmo com todo o arsenal da medicina moderna.
Mas em nosso mundo interno, nos labirintos de nosso ser, onde mora o Minotauro, é preciso coragem, determinação e perseverança para que o tesouro da maturidade seja encontrado e resgatado. Não existem tesouros dando sopa por aí, quase sempre estão bem enterrados, ou guardados por monstros mitológicos, nos obrigando a ralar nossas mãos ao cavar a terra, ou chamuscar nosso peito ao enfrentar a fera guardiã.
Penetrar na caverna e enfrentar dragões podem ser metáforas interessantes para descrever o caminho de um envelhecimento saudável, que nos traga força interna e sabedoria. Para amadurecer de verdade precisamos desviar para dentro o nosso olhar, constantemente fisgado pelos inúmeros estímulos do mundo externo. Não é fácil. Em nosso mundo tudo nos puxa para fora, para as inúmeras solicitações do dia a dia, para que nos comparemos com as outras pessoas ou com modelos a ser atingidos. Raramente alguém nos diz para olhar para dentro, a ir para nossa caverna, ouvir a voz da intuição, ser quem de verdade somos.
Menos ainda nos estimulam a nos apropriar de nossos próprios monstros e enfrentá-los. Hoje em dia, quando algo dá errado, é muito mais fácil culpar o outro, o vizinho, o parceiro, o chefe… o mundo. Raramente nos estimulam a buscar o dragão devorador de alegria lá dentro de nós. E é lá que ele está, queimando nossas entranhas, transformando nossos sonhos em cinzas.
Envelhecer com sabedoria e dignidade nos dias de hoje é, assim, uma tarefa para heróis.
Àqueles que empreendem corajosamente essa tarefa está reservada a pedra preciosa, a tão desejada sabedoria, que lhes permite a obtenção de um estado de aceitação e paz. Paz… Esse talvez seja o precioso tesouro a ser encontrado, mas até mesmo para valorizá-lo é necessário que se tenha trilhado certa parte da estrada com consciência.
Aos que se furtam desse caminho, feito de escolhas corajosas e conscientes, resta viver o envelhecimento como uma espécie de castigo feito de perdas. Mas àqueles que escolherem o caminho da busca da sabedoria, acreditem… o processo de envelhecer será envolvido em uma suavidade luminosa que poucos imaginam existir. Pouco sabemos do que ainda não vivemos. Sábios seríamos se ouvíssemos mais àqueles que souberam envelhecer, é o recado que deixo neste final de artigo como um incentivo à reflexão, aos que quiserem levar estas palavras para suas cavernas.