por Patricia Gebrim
É ainda quando somos crianças que as influências externas têm maior impacto sobre a formação de nosso EU. Impactos esses que carregaremos conosco até nos descobrirmos capazes de questionar tudo, até sermos capazes de renascermos para a vida, dessa vez de acordo com nossas próprias crenças.
Ouçam, pais. Amar o igual é fácil, é algo que simplesmente acontece, flui.
Amar o diferente, isso sim podemos chamar de amor. Amar o que não compreendemos, amar o que não conhecemos, amar aquele com o qual muitas vezes não concordamos.
Uma mãe que sempre tenha sonhado em ter uma filha bailarina não terá dificuldades em amar a filha enquanto a mesma ajusta os lindos laços cor de rosa de suas sapatilhas de balé. Difícil é ter sonhado com uma filha bailarina e deparar-se com uma adolescente com jeito de moleque, rosto sujo de terra e boné enterrado na cabeça, uma menina que gosta mesmo é de jogar futebol.
Idealizações são inevitáveis. Qual é o pai ou mãe que nunca sonhou algo para seus filhos? Na melhor das intenções?
O desafio é compreender que deve existir uma distância saudável e protetora entre os sonhos dos pais e as escolhas dos filhos, que precisarão de algo muito precioso para tornarem-se quem de verdade são: precisarão de respeito. Muito! Respeito por sua individualidade. Por sua existência. Por sua forma única de ser.
Filhos não são cópias ou criações dos pais. Eles têm vida própria e precisam de espaço. Não é preciso que os pais concordem com todas as escolhas de seus filhos, é importantíssimo que os pais compreendam que os filhos não são extensões suas. Por mais difícil que seja, os pais precisam ser amorosos o suficiente para permitir que seus filhos existam, precisam ser capazes de suportar certa dose de frustração, afinal muitos dos sonhos que tiveram para seus filhos não se realizarão.
A menina não gosta de balé. O menino odeia velejar. A menina não quer ser escoteira. E por aí vai.
Não é fácil, afinal muitas vezes os pais têm plena convicção de que sabem o que é melhor para seus filhos e suas intenções são as melhores. Eles mesmos, enquanto filhos, foram de certa forma moldados aos sonhos de um outro alguém.
Cabe aos pais a tarefa de proteger seus filhos, isso sim!
E a cada idade a palavra proteção ganha um significado diferente. Aos 3 protegemos nossos filhos de queimarem as mãozinhas na porta quente do forno. Aos 7 tomamos cuidado para que não sejam atropelados ao atravessar descuidadamente uma rua. Aos 14 avaliamos quais são as baladas que eles ainda devem evitar, e por aí vai.
Mas, cumprida a tarefa protetora, precisamos permitir que eles vivenciem suas próprias experiências, que abram as asas e arrisquem seus voos, mesmo que caiam de vez em quando, mesmo que errem, que se firam. Com certeza isso acontecerá, e estaremos lá, ao seu lado, prontos a incentivá-los a seguir adiante, ajudando-os a avaliar e aprender com o que lhes ocorre.
Assim, pais, libertem seus filhos. Deixe que cresçam, deixe que aprendam, deixem que experimentem a vida. Só assim poderão tornar-se adultos, independentes e autosuficientes.