por Grupo de Aprimoramento Junguiano sobre Questões Amorosas – Clínica Psicológica PUC/SP
O peso da palavra solidão parece que a faz ecoar. O mundo dá um valor muito negativo à solidão. Tentaremos aqui ter uma compreensão um pouco mais abrangente sobre como encarar e lidar com ela.
Todos nós, em alguns momentos de nossas vidas nos sentimos sozinhos. A solidão revela a necessidade que temos do outro. Tudo na nossa vida parece ser definido a partir de nossas relações e o outro é parte fundamental nisso.
Somos definidos por papéis: pais, filhos, marido, esposa, viúvo, solteiro… e essas conceituações só existem mediante um outro. Quando nos percebemos sem o outro nos deparamos com a condição de solidão: estamos sós. Quando falamos em nos perceber sem o outro, não nos referimos a ausência concreta e material de uma pessoa, afinal ela pode estar lá e nós estarmos nos sentindo sozinhos.
Mas como lidar com esse sentimento?
Parece fundamental compreendermos que a solidão pode ser destrutiva ou criativa. Criativo é tudo que fertiliza, que traz a vida e destrutivo é tudo que leva a desagregação e a morte.
Às vezes, nos deparamos com uma solidão terrível, como se a falta do outro representasse também a ausência de nós mesmos. Ou seja, só existimos se o outro nos dá condição para tal, se não nos permite sentirmos só, como se a falta do outro fizesse presente internamente a sensação de um "buraco" que nos deixa pela metade, não estamos mais inteiros. Nesse caso a falta do outro impossibilita a percepção de que somos uma unidade, que podemos sentir a ausência de alguém, mas que isso não nos faz deixar de existir como indivíduos. Muitas vezes, as pessoas nem percebem que foram esquecendo de si mesmas aos poucos. A solidão revela aqui uma característica destrutiva.
A solidão também pode emergir e nos revelar com mais profundidade a impossibilidade de configurarmos junto com o outro uma unidade: percebemos que somos um, um sem o outro, um sem ninguém. Só nós mesmos compomos essa unidade. Nesse caso, a percepção de que "também existo a partir da consciência que o outro tem da minha existência" se faz presente, porém não nos impede de compreendermos que somos um.
Há pessoas que utilizam a solidão como meio para produzir. Sabemos de inumeráveis artistas, escritores, etc… que produzem na condição de estarem sozinhos. O que é produzido foi pensado a partir da existência do olhar do outro, seja na fantasia ou na realidade. Também podemos lembrar de momentos na nossa vida que estamos sozinhos e em paz: como se essa fosse a mais pura possibilidade de perceber, sentir a vida.
A solidão criativa assemelha-se à verdadeira solidão relatada por Thomas Merton: "A verdadeira solidão limpa a alma, abre-se completamente para os quatro ventos da generosidade.(…) A verdadeira solidão separa um homem de outros para que ele possa desenvolver o bem que está nele, e então cumprir seu verdadeiro destino a pôr-se a serviço de uma pessoa".
Faz-se fundamental portanto, entender a solidão e suas diversas possibilidades. Se buscamos uma vida amorosa rica e verdadeira, temos que admitir o risco de ficar só. Caso contrário, vamos aceitando qualquer coisa, nos acomodando, por medo de encarar a solidão. Só se sente sozinho, quem abandonou a si mesmo…