por Luiz Alberto Py
Timidez não é doença, mas sintoma. Sintoma é aquilo que permite que uma pessoa perceba que está doente. Por exemplo, febre é um sintoma que, aliás, pode corresponder a centenas de diferentes doenças. Trata-se de uma condição que nos permite saber da existência de uma doença em atividade, que pode ser desde uma gripe comum até graves infecções.
Dor de cabeça também é sintoma de doença e não doença propriamente dita. Da mesma forma, a timidez consiste na manifestação de uma dificuldade emocional, mas não é a própria dificuldade em si, apesar dos problemas sofridos por quem é tímido.
O que está por detrás da timidez é o excesso de importância que o tímido se atribui – ele se sente como se estivesse sendo alvo da atenção das pessoas, quando – na maioria das vezes – ninguém está sequer o percebendo. O caso mais intenso de timidez de que tive notícia foi o de uma jovem que não conseguia tocar a campainha para o ônibus parar. Ela sentia-se como se estivesse incomodando todos os passageiros ao obrigar o ônibus a parar só para ela. Por isso, tinha que esperar que alguém quisesse descer e só então ela podia saltar junto com a outra pessoa. Seu receio consistia em ser alvo da irritação, e mesmo do ódio, dos outros passageiros e do motorista.
Uma interessante descrição do processo mental dos tímidos encontra-se no poema "The Love Song of J. Alfred Prufrock" (A canção de amor de J Alfred Prufrock) de T.S.Elliot, a longa fala de uma personagem que chega a dizer: "Ousarei comer um pêssego? Ousarei perturbar o universo?" Mostrando que para algumas pessoas pequenos gestos são sentidos como possivelmente catastróficos, o que as leva a terem uma atitude tímida e receosa.
A timidez pode ser enfrentada com sucesso quando sua causa está relacionada a problemas neuróticos, ou seja, a mal-entendidos desenvolvidos a partir da infância do indivíduo. A diminuição da timidez depende de um esforço do indivíduo no sentido de melhor compreender sua dinâmica emocional, em outras palavras: como funciona sua mente.
Depende também da pessoa se habituar a novas situações, que tendem a ser intimidantes. Situações desconhecidas geralmente assustam, amedrontam. Para melhor entender a dinâmica da timidez, vale a pena notar que o verbo intimidar, mostra uma íntima relação que existe entre timidez e medo. O tímido é um atemorizado. Seu medo é, principalmente, dos sentimentos negativos, especialmente o ódio, que outras pessoas possam manifestar contra sua pessoa. Compreender que tais situações existem na imaginação e não na realidade ajuda o tímido da superar sua dificuldade. Familiarizar-se com situações novas ou pouco comuns na vida também ajuda na superação da timidez.
Uma psicoterapia conduzida por profissional competente pode surtir bons resultados, o que não exclui que o tímido possa melhorar com a ajuda de algum livro de boa qualidade e por seu próprio esforço. Mas convém lembrar que tudo pode ser aprendido com menos desgaste quando se tem a ajuda de um professor qualificado. Isto serve não apenas para combater a timidez, mas também para aprender a nadar, fazer ginástica, aprender uma língua estrangeira, e assim por diante.