por Samanta Obadia
O avião da Air France, voo 447, que partiu do Rio de Janeiro, no domingo, 31 de maio, em direção a Paris, desapareceu e movimentou o mundo em mais uma tragédia. Rapidamente, a imprensa sedenta de novidades, ‘incendiou’ os meios de comunicação de massa, com especulações e informações paradoxais.
Consciente ou não, a mesma provocou na população mundial conectada, uma oportunidade para experimentar uma catarse . Movimento positivo, segundo Aristóteles , esta última, estimula o fluxo de questionamentos das verdades estabelecidas.
No entanto, o cotidiano humano percorre o seu caminho sem grandes indagações, e quando algum acontecimento interrompe o curso natural da vida, ansiamos por respostas prontas, que satisfaçam nossa necessidade de controle do tempo e do espaço.
Parece que perdemos, com a mídia e seu volume ininterrupto de informações contraditórias, a oportunidade de concretizarmos a catarse, que este acontecimento nos propõe.
O ser humano deixou de buscar a verdade, e espera que os meios de comunicação cumpram essa tarefa. Há uma crescente preguiça no ato de pensar por si mesmo, no exercício radical de nossa humanidade.
Há uma resistência clara ao testemunho que podemos dar ao acontecimento, que supera nossa capacidade de entendimento. E isso nos afasta da possibilidade de transcendência, capacidade estritamente humana.
Ser radicalmente humano significa conhecer a si mesmo, não apenas como indivíduo, mas como espécie. E alcançar, através do pensamento, coerência nas ações que atualizam a nossa essência, sem receio de assumir nossos erros, para reconhecer a necessidade de percorrer novos caminhos.
Saber-se humano é aceitar nossos limites e continuar buscando nossa transcendência, sem invalidar a nenhuma das duas.
Este espaço, antes em branco, e agora preenchido por palavras que organizo, vem propor uma visão integral do ser humano: frágil, físico, pensador, místico e poético, que deve caminhar na direção de si e do outro, como uma mesma medida, para jamais perder-se.