Por Thaís Petroff
Você não se sente merecedor do que tem na sua vida hoje? Da posição que conquistou no trabalho? As provas de sucesso que você tem, você acha que foram mera sorte ou que qualquer pessoa conseguiria atingir? Quando você é bem-sucedido em algo, sente secretamente que está enganando as pessoas? Sente-se uma fraude?
Emma Watson, uma das grandes estrelas de Harry Potter, declarou em uma entrevista: “Parece que quanto melhor eu me saio, maior é o meu sentimento de inadequação, porque penso que em algum momento, alguém vai descobrir que eu sou uma fraude e que eu não mereço nada do que conquistei”.
Assim como esse, há diversos outros relatos de famosos e de pessoas que estão em altos cargos executivos compartilhando seus pensamentos de que não se sentem merecedores do lugar que ocupam.
Em diversas pesquisas realizadas chegou-se ao resultado de que a síndrome do impostor acomete mais mulheres do que homens. Isso pode se dever tanto a educação recebida por nós (como discutirei mais abaixo), quanto pelo fato de que, de modo geral, os homens tendem a compartilhar e se abrir menos quanto aos seus temores e inseguranças do que as mulheres.
Quem sofre com a síndrome não credita seu sucesso à sua própria competência ou inteligência. Essas pessoas não se convencem de que elogios e reconhecimento em relação às suas conquistas são merecidos, atribuindo suas realizações à sorte, há alguma situação passageira, ao favorecimento por alguma indicação ou a outros fatores externos.
5 comportamentos de defesa e de enfrentamento muito comuns:
As pessoas acometidas por esse problema adotam algumas estratégias compensatórias ou mecanismos de segurança (compreenda como eles surgem e funcionam nesse texto anterior) como mecanismos de defesa e enfrentamento. Veja se você se identifica com eles:
1. Ser workaholic é “fichinha”
Você vai além de vestir a camisa da empresa; quer controlar todas as variáveis para evitar que seu trabalho possa não dar certo, deseja estar a par de todos os detalhes, se cobra por todos os resultados, mesmo que indiretos do seu trabalho, responsabilizando-se quando eles não estão caminhando tão bem quando o esperado. Além de se esforçar demais e desequilibrar sua vida mesmo que você se saia bem, você não atribui isso a você mesmo, mas sim ao seu esforço extra; reforçando sua ideia de que esse é o caminho que deve ser seguido, reforçando a síndrome.
2. Você não se arrisca a ir mais longe
Você pode também ter adotado o caminho oposto, de não se arriscar a ficar em evidência com medo de que seja desmascarado e que descubram quem você realmente é. Desse modo, se boicota, não explorando todo seu potencial, escolhendo carreiras autônomas onde possa ficar mais escondido ou então acaba se mantendo em cargos medianos (mesmo no fundo tendo a ideia de que poderia mais); no entanto prefere ficar com a possibilidade do sonho de que poderia ter chegado lá, se tentasse, do que correr o risco e colocar à prova sua capacidade e inteligência.
3. Procrastinação faz parte da sua rotina
Realizar tarefas mais complexas ou desafiadoras te gera ansiedade e por isso você tende a adiá-las o quanto pode, já que finalizar um trabalho é sempre uma chance de mostrar o quanto efetivamente você não é bom. Pode até utilizar a desculpa de que trabalha melhor sob pressão, mas sabemos que ao nos esquivar das tarefas, deixando-as para a última hora, a qualidade das mesmas pode ser prejudicada e então será mais fácil atribuir o resultado à falta de tempo do que à falta de capacidade.
4. Você muitas vezes larga as coisas sem finalizar
Você tem ideias boas, mas ou não as concretiza, ou então começa, mas não termina. Assim ninguém (e nem você mesmo) pode avaliar a qualidade dos resultados e te colocar em cheque quanto à sua competência. O medo do risco se dissipa quando você pode dizer: “ainda está em fase de processo, não terminei”.
5. Você se sabota em seu trabalho
Há tanto medo em seu expor e ser desmascarado que você mina suas chances de crescimento e de sucesso. A ansiedade é tanta que você não se prepara adequadamente para a apresentação de um projeto ou deixa isso para a última hora, bebe muito na noite anterior e aparece de ressaca, “esquece” de se candidatar a vagas internas ou fica mudando de empresa com uma certa frequência procurando fugir de estímulos aversivos e do risco de descobrirem que você não é aquele que disse ser. Desse modo, quando as coisas dão errado você se alivia em culpar a memória, a bebida ou qualquer outra coisa e, quando dão certo, você fica com a ideia de que conseguiu se safar mais uma vez.
A neurose de excelência que atinge a nossa sociedade
Vivemos em uma sociedade onde não basta sermos bons, precisamos ser os melhores. Cada vez mais nas empresas são impostas metas para serem cumpridas e as pessoas são avaliadas por quanto as atingem e, desse modo, são convocadas a assumir o modus operandi da excelência. Isso muitas vezes quer dizer horas extras ou levar trabalho para casa. Não é de se esperar que a ansiedade seja presente, uma vez que não é incomum as pessoas gastarem horas e horas pensando em como podem melhorar e sentindo-se menos do que são. Dessa maneira, o grau de autoexigência só tende a subir mais e mais e receber um bom feedback passa a não se tornar mais do que sua obrigação.
E por que a síndrome atinge mais as mulheres?
No caso das mulheres isso se agrava ainda mais, uma vez que, ainda hoje homens e mulheres são educados com exigências desiguais, para cumprir papéis distintos e com valores diferentes, criando assim a cultura perfeita para que as mulheres sintam fortemente a síndrome da impostora. Nossa sociedade patriarcal nos ensina que as habilidades mais inerentes ao feminino não têm tanta importância como as masculinas. Mesmo sendo imprescindíveis à nossa sobrevivência, trabalhos ligados aos cuidados da saúde, de crianças, de idosos ou serviços domésticos são muito menos valorizados socialmente e financeiramente ficam muito atrás dos trabalhos que eram anteriormente realizados somente por homens.
Pesquisas com estudantes demonstram que mesmo as mulheres tendo boas notas nas áreas de exatas (muitas vezes melhores do que a dos homens de suas salas), ainda tendem mais a escolher as carreiras de humanas e biológicas por influência de sua educação. Desse modo vemos como a síndrome da impostora está ligada à ideia condicionada pela nossa educação, de que os homens se saem melhor na área profissional. Isso é reforçado ainda mais, pois exige-se muito mais das mulheres do que dos homens para atingir um mesmo cargo em uma empresa. Portanto, se explica a falta de autoconfiança e a baixa autoestima profissional nas mulheres, não sendo um problema individual de uma ou outra, mas o reflexo de um problema social que atinge a todos.
Como fazer para mudar esse cenário?
Não existe uma pílula mágica que possa mudar esse cenário e essa percepção de uma hora para outra, mas existem algumas dicas que podem ajudar:
– Autoconhecimento: busque conhecer-se mais, saber dos seus potenciais, praticá-los para que você desenvolva melhor seus pontos fortes, em vez de se focar em seus déficts.
– Autoconsciência: perceba quando esses pensamentos negativos e boicotadores aparecem, gerando medo ou ansiedade e, nesse momento, coloque-os em xeque frente às provas que tem de suas conquistas.
– Guarde os elogios e feedbacks positivos: recebe e aceite-os. Deixe-os anotado em algum lugar e releia sempre que precisar os elogios recebidos de seu chefe, de seus colegas, clientes ou amigos.
– Lembre-se que não foi sorte: sempre que esse pensamento vier à sua cabeça, relembre de todos os passos que você deu e de toda a sua trajetória de estudos, trabalho e esforço.
– Compartilhe os seus medos, pois conforme falamos sobre eles, estes vão perdendo a sua força e diminuímos a manutenção desse lixo mental em nossas cabeças.
– Atribua suas conquistas a você: quando se perceber creditando seu sucesso a algo externo ou passageiro reveja esse pensamento e atribua as coisas positivas a você (estilo de atribuição interna e estável e não externa e instável). (Se quiser saber mais sobre estilos de atribuição – clique aqui
– Congratule-se quando subir mais um degrau: se parabenize. Se dê um tempo para curtir sua vitória. Compartilhe isso com seus amigos e colegas, isso ajuda a reforçar sua percepção das conquistas e isso não é vaidade, é reconhecimento.
Fonte: www.thaispetroff.com.br