por Tatiana Ades
O medo de amar se reflete em diversos casos, o medo de sofrer e até mesmo de fazer o outro sofrer.
Darei exemplos de dois casos de consultório, onde esses medos ficam evidentes.
O primeiro é da paciente Fabiana (nome fictício) que logo na primeira conversa se coloca em posição de vítima frente ao noivado que vive, dizendo que o noivo é a última pessoa com quem quer estar; esse não supre suas necessidades de sexo, não tem um bom papo e não é inteligente o suficiente para ela.
Quando questiono o porquê de ter aceitado o pedido de casamento, ela me diz que foi por pressão social e da família.
Comecei então a trabalhar com ela a necessidade de separação e de aceitar-se sozinha até que encontrasse realmente a pessoa certa para ela.
Mas durante esse processo, percebi que ela estava cheia de defesas, dizendo que nenhum homem homem seria bom o suficiente e que ficaria sozinha para sempre.
A questão principal então mudou o foco, o problema não era o atual noivo e sim a imagem masculina em geral.
Trabalhando o foco principal, percebi que Fabiana tinha um medo gigantesco de se relacionar, pois além de ter passado por uma situação traumática na infância, na qual o pai traia a mãe sem esconder e ela ouvia as brigas, ela havia tido um grande amor que se separara dela para ficar com outra.
O não-conseguir-confiar estava fazendo com que ela sofresse o tempo todo, imaginando que o noivo não poderia ser perfeito e dando desculpas, quando na verdade, a imperfeição que ela sentia era uma mensagem guardada em seu inconsciente "todo homem traí e isso dói muito".
Após um tempo, ela conseguiu aceitar esse medo e confidenciou que o noivo era tudo o que ela queria, mas se a traísse não aguentaria tamanha dor.
Hoje Fabiana está casada e feliz, ainda trabalhamos o seu medo, o seu passado e a certeza de que as pessoas são diferentes e a falta de sofrimento não pode ser garantia para ninguém. Nessa vida precisamos arriscar e estar cientes de nossos medos, fazendo escolhas saudáveis e lutando contra esses medos, senão estaremos sempre aprisionados.
Outro caso
Um outro caso é de Joao que descreve o pavor em ter relacionamentos; diz que esses o fazem sentir-se aprisionado e sufocado e que não consegue lidar com tamanha pressão.
Mas joão tem um passado e esse é investigado por nós em consultório. Esse passado mostra uma mãe dominadora que fazia o pai submisso e melancólico. Ele lembra-se bem das brigas constantes onde o pai abaixava a cabeça e suplicava à mãe para que ela não o deixasse.
Esse conflito se fez presente para João na vida adulta e ele iniciou um processo de relacionamentos doentio, no qual fazia a mulher sofrer para que o inverso não acontecesse; é como se ele recebesse uma mensagem de "eu nunca deixarei que elas me machuquem" e dessa forma o ideal era machucar para sentir-se no poder.
Quando ele me diz que não quer relacionamentos e deciframos seu passado, fica claro que ele não quer mais sofrer e nem fazer sofrer outras pessoas. Num processo inconsciente segue machucando e ferindo propositalmente como escape da dor.
João não está namorando ainda, mas estamos trabalhando a sua autoestima e a percepção de que uma vida a dois não precisa ser uma réplica de seu passado e que pode sim existir harmonia e não um jogo patológico, onde um é dominador e o outro submisso.
Reflita
Avalie o seu passado e pense sobre ele, o que você está repetindo?
O seu medo de se relacionar está realmente ligado às desculpas que você dá a si mesmo?
A autorreflexão é o primeiro passo para a libertação de medos inconscientes.
Busque ajuda psicoterapêutica se necessário for!