por Elisandra Villela Gasparetto Sé
O processo de envelhecimento e a longevidade da população são fenômenos que se destacam na globalização por causar diferentes transformações no mundo atual trazendo consequências biológicas, socioculturais, políticas e econômicas para vários países. Portanto, o envelhecimento da população tem implicações mundiais incontestáveis.
Uma das consequências relevantes que têm se discutido por todas as áreas de conhecimento é o cuidado que o idoso recebe e irá receber no futuro.
Os desafios do cuidado formal (cuidado realizado por profissionais da saúde) ou informal (familiar e domiciliar) são imensos.
O cuidador de idosos é uma categoria de trabalho que ainda não está definida e estabilizada na nossa sociedade. É uma categoria emergente, multifacetada e carregada de muitos significados. Pois, como já dissemos em muitos outros textos (veja aqui), em 2050 o número de idosos será triplicado. E se não houver uma educação em saúde efetiva por parte das políticas públicas e de toda a sociedade, seremos um país que envelhece com fragilidade, com grandes riscos de tornar-se dependente devido o acometimento de doenças crônicas e consequentemente com doenças neurodegeneraivas, o que causa limitações e sobrecarga para as famílias e um sofrimento para o idoso.
Quando se trata de idosos com doenças crônicas, como o caso das demências, — doenças neurológicas degenerativas e incapacitantes — estas causam perda da autonomia e da independência tornando o indivíduo dependente de um tratamento complexo, multidisciplinar, multifacetado e com cuidados de profissionais/familiares. E esta configuração da saúde no envelhecimento pode trazer muitos desafios e preocupações no âmbito do cuidado com as pessoas idosas.
Cuidado: care
O cuidado ou care, significa cura em latim e se escrevia coera. Esta palavra sempre foi usada em um contexto de relações com afeto e de amizade. Segundo os filósofos, expressava-se a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação pela pessoa amada.
O cuidado surge quando o outro tem importância para mim, passando a fazer parte de minhas buscas, meu destino, sucessos e sofrimentos. O cuidado então significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção, interesse pelo bem-estar, bom trato para com o outro. A atitude de cuidado revela um senso de responsabilidade.
Na literatura, as considerações sobre o cuidado com pessoas idosas e com deficiência datam da década de 80, marcada por um cuidado como uma relação unidirecional e de parentesco, em que uma pessoa da família cuida do outro parente por uma obrigação parental e troca afetiva. E muitas vezes o cuidador é eleito pela própria família. O papel de cuidador surge na dinâmica familiar e na sua disponibilidade.
Hoje são várias as razões que levam um familiar a cuidar. Existe o cuidado genérico e o profissional. O primeiro envolve práticas e valores encontrados em todas as culturas e compreende formas naturais ou caseiras de proteger e amparar.
O cuidado profissional (assistência) compreende os diferentes modos pelos quais, nos sistemas institucionalizados de saúde, tais como ambulatórios, clínicas, hospitais, casas de repouso, centros-dias, as pessoas são expostas à ação dos profissionais de saúde ou cuidador contratado.
Com base em muitos relatos de experiências de cuidadores e de dados de literatura sobre o cuidado de idosos, o cuidador familiar que realiza a função de cuidador primário, dando conta das atividades diretas e prioritárias com o parente idoso quando toma consciência da gravidade da doença, dos sintomas, do estresse e da sua função de cuidador – e sem ter ajuda de outros membros da família-, toma consciência que muitas das suas atividades pessoais foram adiadas ou canceladas, elimina outros papéis sociais, adiando projetos de vida que antes havia planejado.
Em casos de doença de longa duração, os recursos físicos e emocionais se esgotam e o cuidador familiar precisará de ajuda, de autocuidado para manter sua qualidade de vida e bem-estar mental, físico e emocional.
Grupos de apoio
Atualmente existem os grupos de apoio aos cuidadores que ajudam as famílias a enfrentar as dificuldades e estresse advindo do cuidado e recebem assim acolhimento e amparo.
Todo familiar cuidador de uma pessoa idosa, assim que recebe o diagnóstico de uma doença crônica, precisa procurar ajuda, procurar se informar, ter conhecimento dos sintomas da doença, as limitações e a gravidade para que possa se programar para se adaptar à mudança de uma nova rotina, no que tange ao cuidado da pessoa idosa. A informação, o acolhimento e o amparo dos grupos de apoio ajudam a aliviar as dores emocionais e a enfrentar as dificuldades impostas pelas limitações da doença.
Atualmente, a preocupação com o cuidado do idoso vai além deste cuidado familiar. Esta preocupação tem gerado muitas pesquisas e discussões sobre as questões que envolvem a assistência do cuidado formal com pessoas idosas. A substituição do cuidado familiar, a qualidade do cuidado, as demandas do cuidado na esfera privada e o investimento emocional nas relações entre quem cuida e de quem recebe o cuidado.
A partir dos anos 2000, o cuidado passou a ter várias dimensões e expandiu a noção de cuidado. Trata-se de uma tendência nas configurações do cuidado e do cuidador devido ao aumento da longevidade.
A imigração, os rearranjos familiares, a dependência, o surgimento de centros de reabilitação, a profissionalização do cuidador etc serão desafios a serem encarados e que requer atenção e ética, zelo em relação ao lado afetivo do cuidado, para que possamos falar de qualidade nessa ajuda prestada.
Um cuidado de qualidade é aquele que não se perde a sensibilidade, a amorosidade, o respeito, ou seja, a essência humana.