por Elisandra Vilella G. Sé
Depressão no idoso também pode fazer parte de um quadro clínico de demência "A associação entre depressão e déficits cognitivos é estabelecida na literatura como “pseudodemência”, precisando a família, o cuidador e a equipe de saúde observar os sintomas e se algo muda no decorrer de uns seis meses. É preciso ficar atento se a situação melhora com o tratamento com antidepressivos ou se existe um alto risco de desenvolver demência em um período relativamente curto" A depressão é um transtorno comum em idosos e muitas vezes é considerada como uma ocorrência normal, natural do envelhecimento e frequentemente subestimada por pacientes, equipes de saúde e familiares.
O curso clínico da depressão em pessoas idosas apresenta um número amplo de sintomas clínicos e queixas somáticas, interferindo negativamente na qualidade de vida e é uma das causas de dependência funcional (depender de outras pessoas para afazeres do dia a dia como ir ao banheiro, tomar medicamentos, fazer refeições). Além disso a depressão em idosos pode vir acompanhada de prejuízos *cognitivos, o que dificulta o diagnóstico diferencial de depressão e demência. Muitos sintomas clínicos da depressão, como desmotivação, desinteresse, apatia, embotamento afetivo, irritabilidade, falta de atenção concentrada, distúrbio psicomotor, frases curtas, também são sintomas típicos de um quadro demencial. Então não é surpreendende encontrar pessoas com queixas de memória que podem estar associadas ao processo natural do envelhecimento ou aos sintomas depressivos.
É importante esclarecer que pessoas com depressão queixam-se de dificuldade de memória, mas seu desempenho objetivo por meio de testes e tarefas é normal. Pessoas deprimidas podem ir mal em testes de memória, mas isso acontece não porque a memória esteja realmente alterada, mas sim porque elas não têm motivação para apresentar desempenho real.
No entanto, devemos lembrar que a depressão também pode fazer parte de um quadro clínico de demência. E as alterações de memória de um quadro de demência podem estar presente na depressão. Pessoas com depressão podem perceber suas falhas de memória como piores do que realmente são. É esse o grupo de pessoas cujas queixas são desproporcionalmente maiores do que as falhas nos testes de memória. Devido à falta de motivação ou prejuízos na autoconfiança e autoestima, os resultados em testes neuropsicológicos pode não ser o esperado, mas isso não significa que explica as falhas de memória na depressão.
Pessoas com depressão apresentam mais falhas de memória de longo prazo, o que pode ser confirmado por meio de avaliação cognitiva com diferentes testes que avaliam diferentes aspectos da memória. Enquanto que por exemplo as falhas de memória na Doença de Alzheimer são dificuldades de memória recente, de memória de curto prazo. Na demêmcia do tipo Alzheimer a capacidade de aprender coisas novas está mais prejudicada e a memória de reconhecimento e memória com pistas (precisar de ajuda para memorizar algo) estão preservadas numa fase inicial.
No diagnóstico diferencial de depressão e demência é muito importante que o clínico observe as ideias de desvalia, desesperança, tristeza, choro frequente, insatisfação, medos, ansiedade, desmotivação, apatia, sintomas somáticos, sintomas que sugerem um quadro de depressão. Por outro lado é importante saber que a depressão em idosos tem uma sintomatologia muito pobre, sem uma configuração dos sintomas bem definidos, o que dificulta o diagnóstico.
A associação de depressão e déficits cognitivos é estabelecida na literatura como “pseudodemência”, precisando a família, o cuidador e a equipe de saúde observar os sintomas e se algo muda no decorrer de uns seis meses. É preciso ficar atento se a situação melhora com o tratamento com antidepressivos ou se existe um alto risco de desenvolver demência em um período relativamente curto.
Como a depressão é frequente em diferentes formas de demência, a melhora da cognição com o uso de antidepressivos, seguida por piora do quadro, pode sugerir que desde o início se tratava de uma demência. Esses casos devem ser acompanhados por especialistas e com cuidado. É fundamental verificar se as dificuldades de memória se instalou de forma gradual ou súbita, se a pessoa já tem história familiar de depressão e antecedentes familiares de doenças neurodegenerativas.
A maior parte das demências decorre de degeneração do sistema nervoso central, e tem uma história de dificuldades na funcionalidade do indivíduo; dificuldades cognitivas que não apresentava antes e que interferem atualmente de forma significativa no seu cotidiano, com diagnóstico diferencial muito difícil algumas vezes.
O diagnóstico preciso das síndromes demenciais é importante no sentido de detectar as possíveis causas e estabelecer o melhor tratamento, facilitando o planejamento da família para saber atuar com o paciente no curso e evolução da doença.
*Cognição: capacidade de assimilar e aprender; usar os conhecimentos adquiridos na vida prática e social