por Carminha Levy
Esta é a quarta parte deste texto. Para ler as três primeiras (clique aqui) . Bem… vamos continuar o tema emergência espiritual/loucura.
Consciência Unitiva é um processo que tem uma acentuada qualidade sagrada. Nele ocorre a dissolução das fronteiras pessoais e surge a sensação da unidade com outras pessoas, com a natureza e com todo o universo. A qualidade sagrada é a fusão com a energia cósmica criadora, o Deus.
O tempo e espaço parecem ser transcendidos e a pessoa entra num sentido de infinito ou eternidade. As emoções que a Experiência Culminante traz variam de paz e serenidade profunda à exuberante alegria e enlevo místico e foi essa característica que levou o psicólogo americano Abraham Maslow a nomeá-la como tal. Ele criticou violentamente a psiquiatria ocidental por sua tendência a confundir essas belas experiências com doença mental. Segundo ele, devemos considerá-las fenômenos supranormais e não anormais. Sem a interferência de internações, medicações e em casos extremos choques elétricos, seu resultado típico é uma nova maneira de olhar o mundo e uma capacidade de exprimir de modo mais pleno o seu próprio potencial e autorrealização.
Ainda dentro da especificidade desses mergulhos tão comumente confundidos com loucura, temos um estudo muito interessante do analista junguiano John Weber Perry, que o denominou “processo de renovação”. Aos olhos da psiquiatria tradicional essas experiências são tão estranhas e extravagantes que são catalogadas como uma séria disfunção que afeta o funcionamento do cérebro.
A psique dessas pessoas explodem num colossal campo de batalha, onde é travado um combate cósmico entre As Forças Do Bem e As Forças Do Mal, entre Luz e Trevas. Elas se veem no centro de eventos fantásticos onde temas tais como: assassinato, ritual, o sacrifício e o pós-vida são recorrentes. Seus estados visionários remontam à própria história da humanidade, dirigindo-se para a criação do mundo e para o estado paradisíaco ideal original. Eles lutam por perfeição, tentando corrigir as coisas erradas do passado.
Após um período de profunda perturbação e confusão as experiências dirigem-se para uma solução que culmina com o “casamento sagrado”, seja com um parceiro arquetípico imaginário ou projetado numa pessoa real idealizada. Essa culminância reflete o fato e aspectos masculinos da personalidade que chegaram a um novo equilíbrio.
Percebe-se aí todo um envolvimento com os aspectos arquetípicos da personalidade envolvendo o que a psicologia junguiana vê como símbolos do Self – o centro transpessoal que reflete a nossa natureza mais verdadeira e profunda, o Átima – Brahma – O Divino Interior. Finalmente o Self manifesta-se como uma fonte de luz de beleza sobrenatural, como pedras preciosas, pérolas e jóias radiantes e o processo tão sofrido chega ao fim.
Quem passa por essa experiência ressurge como um novo ser humano e pode tornar-se um grande líder, um batalhador pela cura da mãe terra. Naturalmente ele emana um carisma e uma aura que pacifica todos aqueles que dele se aproximam. Para que esse processo tenha essa finalização urge que todos aqueles que estejam passando por esse sofrimento não sejam confundidos com um esquizofrênico ou um paranóico.
Essas emergências espirituais aqui relatadas nesses quatro textos nos apontam para o grande perigo de que preciosidades psicológicas arcaicas que chegam até os dias atuais como um furacão que irrompe na alma humana, sejam respeitadas com toda a sua sacralidade e que esses indivíduos possam ter a assistência daqueles que com o coração isento de preconceitos acompanharão esses momentos ímpares dando a quem o passa todo o tempo e proteção para que eles renasçam como um novo ser que merece todo o respeito que se deve àqueles que são diferentes.