por Nicole Witek
O yoga trata do autoconhecimento, da autorrealização…
O que tem a ver a autorrealização com a gestação de nove meses? Que interesse há em praticar yoga nesse período durante o qual, não vai dar para colocar o pé por cima do ombro e nem plantar bananeira?
Se você se deparar só com o lado externo do yoga essas serão as primeiras objeções. Mas se você for um pouco além da superfície, você vai entender a proposta quase mágica do yoga para ter uma gestação feliz.
A medicina de hoje tem essa tendência de ‘medicalizar’ todos os momentos da vida, principalmente da vida da mulher: primeiras menstruações, gestação, menopausa. A mulher se torna ‘objeto’ de cuidados constantes.
Esses cuidados são ótimos, eles permitem uma prevenção melhor, com segurança da saúde da mulher, nesses períodos de grandes mutações. Ao mesmo tempo, essas precauções permitem uma prevenção fantástica da saúde do bebê: dá para saber os riscos desde o início (e às vezes antes) da gestação e prevenir adequadamente.
Tantos cuidados afastam muitas vezes a mulher do seu papel ativo na gestação. Todas as modificações tanto físicas como comportamentais são entregues ao médico. De novo, a gestante se torna ‘objeto’ da atenção dos médicos.
As modificações físicas: aumento de peso, a preparação da musculatura, dos ligamentos para o parto, as mudanças hormonais, que também modificam o astral e o comportamento e fazem parte do processo de “dar à luz”.
Imagine da maneira mais simples, que você tenha que carregar na frente do corpo, uma mochila que vai crescendo a cada dia. Normalmente o peso dessa mochila terá o máximo de 10kg, na melhor hipótese, mas é muito comum que o peso seja maior: entre 15 e 20 kg.
Essas adaptações só podem ser acompanhadas com uma atenção para dentro: o que eu sinto? Do que preciso? O que seria bom para mim? Essa consciência voltada ‘para dentro’ é uma fase importantíssima do processo onde a mulher se torna ativa.
Medicalizar a gestante é um ato delicado: o yoga permite o acompanhamento das modificações de uma maneira natural.
A gestante vai durante as aulas de yoga, levar a atenção dela para:
– Estática diferente do corpo: seu eixo de gravidade modificado e a possibilidade de alívio das dores da região lombar.
– Aumento dos líquidos tanto do sistema sanguíneo, como do sistema linfático (que leva a sensação de pernas pesadas, vasos dilatados e varizes) e as possibilidades de prevenção, graças a posturas que aliviam as veias e ampliam a respiração para bombear os líquidos das pernas para os pulmões e o coração.
– Sensação de sufoco pode ser reduzida pelo trabalho de ‘amaciamento’ da musculatura; e a dor entre as costelas, com a flexibilidade da coluna vertebral.
– Dores ligamentares: é como ter uma musculatura tônica, mas ao mesmo tempo flexível. Por exemplo: não basta trabalhar a musculatura abdominal para ter um bom suporte para as costas, e necessário, em conjunto, favorecer o crescimento do ventre para frente com um mínimo de estrias e o máximo de participação da musculatura abdominal para alongamento.
– Aumento da pressão arterial: relaxando conscientemente a musculatura e propiciando o relaxamento dos vasos.
– Ansiedade e estresse: participando também do relaxamento dos vasos, o sistema nervoso autônomo pode ser trabalhado. As técnicas exclusivas de yoga usando em conjunto alongamento, contração, atenção, relaxamento e visualização permitem 'entrar em contato' com o sistema nervoso autonomo ou vegetativo, que vão abaixar os ritmos cardíacos e os ritmos em geral, levando ao relaxamento mais facilmente.
As práticas físicas, as posturas que serão adaptadas a cada mês ao aumento do volume da mãe e o trabalho sobre a respiração, modificarão o clima interno. As aulas de yoga ajudarão a mãe a sentir confiança na inteligência magnífica que jaz por traz de cada uma das células, levando embora a ansiedade, o medo e o estresse decorrentes dos questionamentos.
Ainda mais, a mãe entrará em contato com o relaxamento profundo, colocando seus pensamentos de dúvidas, suas emoções muitas vezes perturbadoras, de lado. Esse treino será útil não só na hora do parto, mas também depois, e para a vida toda.
Além da proteção da sua saúde física e da do bebê, há um clima interno para melhorar. Da mesma forma que o estresse gera a produção de adrenalina e cortisol, modificando o comportamento da mãe para nervosismo – que o bebê compartilha – tem como reverter essa produção hormonal para “criar” de verdade um clima hormonal que favorece a serenidade e a paz do bebê.
É importantíssimo que a mãe esteja consciente da sua responsabilidade durante a gestação. Favorecer uma ambiente hormonal que seja mensageiro já do amor, da ternura para o seu bebê, e imprescindível para que o bebê já se sinta acolhido e amado.
O sentir dessa mágica, o bem-estar que vem dessa confiança só pode ser sentido quando a mãe pára suas atividades cotidianas, voltadas para fora: trabalho, vida para a família… para levar sua atenção para as mudanças internas.
Essa completude da gestação é uma das formas de autorrealização da mulher. O yoga, além de propiciar uma gestação saudável e leve, conecta a mulher com sua feminilidade profunda, sua essência de mulher e de mãe.