por Gilberto Coutinho
O Yoga, ciência e filosofia de vida que floresceu na antiga Índia, influenciou milhões de pessoas, filósofos e cientistas de todas as partes do planeta, ainda hoje inspira e beneficia a humanidade com os seus conhecimentos e técnicas.
É uma das seis escolas clássicas de filosofia ou Dárshanas (do Sânscrito, darshana: visão, ponto de vista, escola, sistema), mais importantes da antiga Índia, assim como o Samkhya e o Vedanta, por serem constituídas de saberes e pontos de vistas com bases sólidas de raciocínio e prática.
Por não ser uma religião e não estar relacionada a nenhuma religião em particular, o Yoga pode ser praticado por pessoas de todos os credos. Na história da humanidade, o Yoga é também a primeira medicina física de que se tem registro e que inspirou não apenas a nação indiana, como também a Àsia e o Ocidente.
Benefícios do yoga
De grande potencial terapêutico, sua prática regular favorece o fortalecimento físico e o funcionamento do organismo, a saúde integral, o bem-estar, a concentração, a prática de meditação, também a prevenção e o combate do sedentarismo, da ansiedade, do estresse, da depressão, de problemas ortopédicos, da osteoporose e de diversas outras enfermidades. O seu estudo e prática ininterruptos contribuem para o aperfeiçoamento pessoal e o apuro da consciência.
Segundo uma antiga tradição, Shiva, o Pai da Ciência Yoga, nasceu na Índia há cerca de sete mil anos, no final da Era Pré-Védica (6500 – 4500 a.C.) – saiba mais. Antes de surgir a escrita na Índia, o Yoga, como os demais conhecimentos sistematizados da época, era transmitido oralmente na forma de sutras ou aforismos (frases concisas), de mestre (guru) para discípulo (shíshya), obedecendo a uma tradição milenar de transmissão do conhecimento.
A palavra Yoga deriva da raiz verbal sânscrita "Yuj" que significa "to comtemplete", "to maditate", ou seja: contemplar, meditar. Segundo Vacaspati Misra (900 – 980 d.C.), renomado filósofo indiano que escreveu comentários a respeito das seis grandes escolas hindus de pensamento, a palavra Yoga deriva da raiz verbal "Yuj", "to comtemplate", e não da raiz "Yujir", "to join", ou unir. Segundo The Yoga Sutras, um dos mais antigos e importantes tratados clássicos da ciência Yoga, codificado por Patañjali provavelmente no século III a.C., Yoga é a supressão da instabilidade da mente ou consciência. Quando tal estado é alcançado, se experimenta a verdadeira natureza humana e de tudo que existe. Shrii Patañjali sistematizou, codificou e compilou de forma concisa os ensinamentos filosóficos e técnicos do Yoga; é, portanto, considerado o grande "Codificador do Yoga". Em sânscrito, a palavra Yoga é masculina, escreve-se com "Y" e pronuncia-se com o "ô" fechado.
Dois outros importantes tratados clássicos da ciência Yoga são:
(1) The Hatha Yoga Pradipika, de autoria do sábio Svatmarama, escrito provavelmente no século XV, dedica-se ao estudo e à prática do Hatha Yoga (ramo que enfatiza o cuidado com a saúde e o domínio do corpo físico, através de exercícios físicos – ásanas -, respiratórios – pránáyámas – e de técnicas de purificação orgânica – kriyas -).
(2) The Gheranda Samhita, considerada uma obra tântrica e um dos três maiores tratados do Hatha Yoga, composto pelo sábio Gheranda por volta do século XVII.
A ciência Yoga é dividida em alguns ramos ou escolas – Yoga Samhitá (Coleções do Yoga) -, algumas consideradas mais clássicas do que outras. A priori, essas escolas visam a conduzir a uma meta comum, através de diferentes abordagens (filosóficas e comportamentais) e metodologias; tais ramos se complementam.
No contexto histórico e social da Índia, as escolas clássicas e que também alcançaram grande popularidade no mundo, são:
(1) Raja Yoga ou Ashtanga Yoga: escola representada por Shrii Patañjali, autor do Yoga Sutras, ressalta a prática de concentração (Dharana) e meditação (Dhyana), divide-se em oito partes: Yama e Niyama (constituem o Código de Ética do Yoga), Ásana (posições psicofísicas), Pránáyámá (exercícios respiratórios), Prathyahara (Abstração ou controle dos sentidos), Dhárana (Concentração), Dhyana (Meditação) e Samádhi (Supressão da instabilidade da mente, "iluminação").
(2) Hatha Yoga: escola representada pelos mestres Matsyendra, Gorakshanatha, Svatmarama, etc, e os contemporâneos T. Krishnamacharya e Iyengar. Enfatiza a disciplina física com o intuito de se obter o controle do corpo e da mente para se alcançarem as metas do Raja Yoga.
(3) Jñana Yoga: fundamenta-se no estudo e na reflexão, na aquisição do conhecimento apurado e da sabedoria, no cuidadoso discernimento entre o Real – o Si Mesmo – e o ilusório e efêmero – o ego e a natureza -.
(4) Karma Yoga: dedica-se ao entendimento de que o universo e a natureza advêm de um processo, de uma contínua ação e transformação; toda atividade resulta da predeterminação da natureza (prakriti), a partir de sua mais sutil manifestação; tudo e todos são obrigados a agir o tempo todo, mesmo sem o saber, pelas qualidades primárias da natureza (gunas). Tal ramo ensina que a pessoa deve cumprir com as ações que lhe cabem, pois a ação é superior à inação, e que a ação apropriada realizada com desapego conduz à sabedoria transcendente. Outros importantes ramos também se tornaram conhecidos mundialmente: Tantra Yoga, Kriya Yoga, Kundalini Yoga, Mantra Yoga e Bhakti Yoga.
O Yoga e o Hinduísmo foram introduzidos nos Estados Unidos, em 1893, por Shrii Swami Vivekananda, no Parlamento das Religiões realizado em Chicago. No Brasil, o Yoga foi introduzido por volta de 1943. Cada vez mais a popularização do Yoga cresce não apenas nos Estados Unidos e um número maior de pessoas no mundo passa a incorporar seus ensinamentos e práticas no dia a dia, com o intuito de obter bem-estar, saúde, consciência mais apurada e tranquila, prevenir e combater o estresse e diversas outras enfermidades.
Segundo um estudo realizado em 2012, nos Estados Unidos, pela Sports Marketing Surveys USA, empresa de pesquisa de mercado relacionada a esportes e seus respectivos produtos, cerca de 20,4 milhões de americanos praticam Yoga, em comparação aos 15,8 milhões do anterior estudo realizado em 2008, e que os americanos gastam cerca de 10,3 bilhões de dólares por ano com aulas, cursos e produtos relacionados ao Yoga. Segundo o mesmo estudo, os 44,4% dos americanos não praticantes disseram ser simpatizantes e estar interessados na prática do Yoga.