por Nicole Witek
Segundo o IBGE, em 2000, 30% dos brasileiros tinham menos de 14 anos e 5% da população estava acima de 65 anos.
Em 2050, o retrato do Brasil será esse: 18% com menos de 14 anos e 18% acima de 65 anos.
Pensando nesses dados, fica evidente que as políticas voltadas para a terceira idade se tornam importantes e urgentes. Se em 2000 o Brasil tinha 1,8 milhão de pessoas com 80 anos ou mais, em 2050 esse contingente poderá ser de 13,7 milhões.*
Como uma doença, a velhice pode levar à decadência. O velho paga pelos erros do passado de sua vida pessoal: erros alimentares, sedentarismo, falta de higiene mental, desgaste profissional. Todos os erros que se cometem por causa da atividade profissional: falta de oxigenação, postura errada, atmosfera confinada.
A velhice também revela os erros da civilização: ar poluído, uso e abuso do tabaco, do álcool, erros (por ignorância) das regras mais básicas de higiene. O exemplo mais gritante é a respiração errônea da maioria da população. Até agora não entendo porque não se ensina a importância da respiração na escola.
Terceira idade
Daqui a pouco nós também entraremos na terceira idade com a pesada responsabilidade de “continuar jovem”, com saúde e dignidade, apesar do avanço da idade e talvez ainda com a tarefa de ajudar e dar respaldo aos nossos filhos, cuja vida se torna cada ano mais difícil: longos anos de estudos, netinhos que nascem mais tarde, competição econômica e profissional. Com certeza nossos jovens não terão a possibilidade de ajudar os avós deles. Cabe a nós manter a saúde e a disposição com o passar do tempo.
Não gosto de usar a palavra envelhecer porque essa palavra – principalmente no Brasil – tem uma conotação de senilidade.
Existem preconceitos gritantes com relação às pessoas acima de 65 anos, você pode pensar que estou exagerando, mas vou listar as provas de nosso preconceito a respeito da idade:
– Você nunca se pegou falando mais alto com uma pessoa acima de 65 anos, só porque em algum lugar de seu cérebro você acha que ela não ouve?
– Você nunca se pegou falando para uma pessoa acima de 65 anos como se ela fosse uma criança?
– Você não se pegou, poupando uma pessoa acima de 65 anos, pensando que ela simplesmente não pode atravessar a rua, dirigir seu carro, ir ao mercado?
Veja bem a carga desses preconceitos e o quanto eles são prejudiciais.
Eu sou fã do David Servan-Schreiber – psiquiatra e autor do livro “Curar”.
Costumo citá-lo muito porque como médico, tem acesso a estudos interessantíssimos como esse abaixo:
Estudo
Na universidade de Yale, a professora Becca Levy estuda a influência dos estereótipos culturais sobre o funcionamento intelectual e físico durante o ultimo período da vida.
Esse estudo levou a constatação que quando se tem uma visão positiva da velhice, como na China ou no Oriente onde quem envelhecer se torna uma pessoa de experiência valiosa e de sabedoria, essas pessoas têm menos distúrbios.
Eu por ter morado na Ásia durante quase uma década, posso prestar este depoimento: nos parques de manhã, os idosos praticam tai chi chuan, aos domingos os jardins da cidade são freqüentados com todas as gerações da família, nas sendas das florestas e dos parques se encontram idosos robustos, alegres com o pé firme.
O estudo do Dr. Becca Levy consiste em avaliar a memória de pessoas de mais de 65 anos e mostrar numa tela palavras que elas não têm tempo de ver, mas que inconscientemente são registradas. Testadas novamente depois da sessão, aparece uma conclusão que deveria mudar nossos comportamentos na hora. Palavras como “sábio”, “culto” ou “guia” melhoravam a memória e as pessoas andavam mais rapidamente. Ao contrário, palavras como ”declínio”, “senilidade”, “envelhecimento”, “perdido” abaixavam as performances: a memória enfraquecia e elas andavam mais lentamente.
Dona Marcela na estrada
Dona Marcela (80 anos), dirige seu Clio Renault nas estradas da França, quase 1000 km num mesmo dia, na maior tranqüilidade, pára de vez em quando, usa o celular para avisar os filhos de que eles não devem se preocupar porque a estrada é boa e o tempo ensolarado, que atravessar o país é uma maravilha. Além disso, Dona Marcela anda todos os dias, respira com entusiasmo e cultiva o jardim. Ela mantém uma felicidade “à prova de balas” para todos os eventos bonitos do dia: encontro com o cachorro do vizinho, cheiro de flores na estrada, telefona para os filhos. Ah! Esqueci! Dona Marcela é crack na Internet, manda fotos para a família inteira, e sempre manda uma palavrazinha de encorajamento para cada um de seus filhos e netos. Isso ela faz todos os dias.
Dona Jaqueline em forma
Dona Jacqueline (87 anos), anda diariamente um mínimo de 5 km, bate qualquer um nos jogos de palavras-cruzadas, gosta de se deslocar de trem e ônibus. Compete com a Dona Marcela para definir se 14 de julho, aniversário da Revolução Francesa de 1942, caiu na quinta ou sexta-feira. Além disso, se desloca na árvore genealógica da família com mais habilidade que qualquer um de seus filhos e netos.
Posso já ouvir as objeções: “Mas é na França, onde as condições de vida são diferentes”. É mesmo, mas para chegar nesse nível é necessário pensar agora no futuro do País, e prever as estruturas para que a chamada terceira idade tenha conforto e dignidade.
Antecipem percebendo que os avanços da medicina e a melhoria nas condições gerais de vida da população vão elevar a expectativa de vida dos brasileiros, que chegou a 70,4 anos em 2000 e que atingirá 81,3 anos em 2050.
E necessário prever um quadro de vida que reconheça a experiência e sabedoria dessas pessoas acima de 65 anos. E necessário dar espaço e “futuro” para que essa geração possa nos ensinar sabedoria e filosofia de vida, que elas possam nos ensinar a força, a coragem, nos mostrar sua capacidade a ouvir nossos filhos, a dar ternura e colo, compartilhar vivência e aprendizagem.
Sedentarismo
O grande vilão é o sedentarismo. Atribuímos nossas limitações à idade, mas isso é um erro. Nunca é tarde demais para praticar uma atividade física. Conheço uma pessoa maravilhosa, a Maria Alice Corazza que faz um trabalho de vanguarda, com educação física para terceira idade*. Insisto também para que você inicie a prática do yoga, pois lhe ajudará a manter as articulações sadias, a digestão feliz, a coluna vertebral flexível, o astral elevado, uma filosofia de vida elevada. Não acredite que porque sua saúde não está boa, você não pode praticar. Pelo contrário, comece agora para que os distúrbios desapareçam gradativamente e que você conquiste uma boa qualidade de vida. Pense já em você com “palavras” que ecoam sabedoria e saúde!
• Fonte IBGE
• Maria Alice Corazza “Terceira Idade em Ação”