7 mitos e fatos em relação ao luto

Através dos mitos e fatos em relação ao luto, pode-se observar quais regras implícitas perpetuam-se ao vivenciá-lo

Luto (do latim luctu) é um conjunto de reações a uma perda significativa, geralmente pela morte de outro ser. Segundo o psicólogo, psicanalista e psiquiatra John Bowlby (1907-1990), quanto maior o apego ao objeto perdido, maior o sofrimento do luto. O luto possui diferentes formas de expressão em culturas distintas.

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Por questões culturais, podemos observar a persistência de mitos sobre o luto. Assim, me refiro às crenças comuns que, sem fundamento objetivo ou científico, podem dificultar a maneira como se vive e se expressa uma perda.

Então, através dos mitos em torno do luto, podemos ver quais regras implícitas perpetuamos ao vivenciá-lo.
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A ideia é de que se colocarmos nossos sentimentos e sensações do luto condicionadas por crenças e regras, que imperativamente devem ser cumpridas e ritualizadas, corremos o risco de inibir a expressão de sentimentos tão importantes para processar e lidar com a dor dessa perda. E assim, perdemos a individualidade de cada processo do luto.

7 mitos e fatos em relação ao luto

1- MITO: Não chorar pela perda de alguém é sinal de força.
FATO: Ocultar a dor não faz com que ela desapareça. Pelo contrário, recordar, poder falar e sentir a dor da perda, permite ao enlutado compreender os acontecimentos, aliviar as sensações de pesar e dor e expressar suas emoções de forma espontânea.

2- MITO: Se expressar seu mal-estar, o enlutado pode causar mal a outras pessoas, contribuindo para aumentar o sofrimento.
FATO: Silenciar seu mal-estar definitivamente não contribui com o processo de luto e nem colabora com o ambiente ao redor. Diante disso, nossa indicação é que, tanto enlutados quanto as pessoas próximas a eles, conversem e exponham suas dificuldades de maneira clara e afetuosa.

3- MITO: Todas as pessoas deveriam sentir o luto da mesma forma.
FATO: Quem dera existisse uma fórmula para expressar sentimentos. O fato é que construímos nossa própria história com nossas vivências, crenças, valores e a forma como a qual nos relacionamos com o mundo. Toda relação é única carregada de significados que podem só ter sentido para mim. Sendo assim, ainda que a perda seja compartilhada, como quando atinge uma família ou grupo, cada integrante terá uma reação e um jeito de expressar sua dor.

4- MITO: Não se pode sentir raiva. É preciso apenas aceitar que a pessoa partiu ou que algo acabou.
FATO: Observa-se que a raiva é um sentimento frequente no luto e a sua presença pode causar confusão no enlutado. A raiva pode expressar a frustração diante da ideia de que poderia ter feito algo diferente, como também uma indignação pela perda.

5- MITO: O luto torna as famílias mais unidas.
Pode ser que sim, ou não, depende! O luto tende a potencializar afetos e formas de se colocar no mundo. Quando as famílias são integradas e têm boa relação, é natural que a união ocorra. Caso contrário, pode haver a separação, pois, após a perda, talvez faça sentido na vida dessas famílias que o melhor para todos seja o afastamento.

6- MITO: Que se deve seguir adiante imediatamente e se deve se livrar das memórias da pessoa ou relação para não sofrermos.
FATO: É saudável sentir as emoções causadas pelo luto, assim não se deve tentar evitar esses sentimentos, já que eles fazem parte desse processo. Nessa medida, é preciso aceitar o tempo de cada um para seguir adiante.

7- MITO: O tempo por si só cura tudo.
FATO: É possível que o tempo possa curar tudo. No entanto, falar sobre a perda, dividir sentimentos, buscar apoio são atitudes que podem potencializar a força do tempo e tornar menos solitária a intransferível tarefa de lidar com a dor da perda.

É comum alternar sentimentos ambivalentes no luto, como por exemplo, aceitação e a dificuldade de se ajustar a essa nova realidade na vida da pessoa

De forma geral, o indivíduo vivencia sentimentos ambivalentes entre a aceitação e o ajuste vivencial prático. Ou seja, o mundo sem a pessoa perdida. O luto, porém, pode tornar-se patológico quando não cumpre esse ciclo de forma adequada. Assim, uma das possíveis causas, é que ele possa estar relacionado com a intensidade da ligação e dependência afetiva em relação à pessoa perdida e/ou com a personalidade de quem vivencia o luto.

Em momentos delicados como como os acima citados, é pertinente buscar ajuda de um psicólogo e/ou psiquiatra de modo a amenizar os impactos e concluir o ciclo de forma completa e ir, sobretudo, em frente.

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Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA