Por Anette Lewin
Depoimento de uma leitora:
“Estou vivendo com um homem que nunca foi ligado à relação e nunca se preocupou com meus sentimentos ou necessidades, mas que se diz muito apaixonado e é um tanto dependente. Ele vem de uma família equilibrada, porém, com o pai alcoólatra e teve em sua vida somente um relacionamento que durou 15 anos, no qual sempre foi fiel e sofreu muito com o término. Ele não faz críticas à ex esposa e nem ela faz a ele, mas me parece que ele era também muito desligado dos sentimentos da parceira. Não sei o que fazer, pois concentro toda energia nessa relação e recebo dele muitas críticas verbais, sem nenhuma agressão física. Como conviver com esse homem? E como preservar essa relação?”
Resposta: Ninguém tem bola de cristal para, num primeiro encontro, entender o funcionamento de uma pessoa.
A descrição que você faz de seu companheiro não caracteriza exatamente um misógino. Parece mais que você esperava dele um tipo de afeto que ele não é capaz de dar a você; esperava um homem que soubesse identificar seus sentimentos e supri-los; um homem diferente do que o homem com quem você se relaciona no momento.
Seu companheiro provoca em você um sentimento de frustração. Mas não parece ser misógino. Misógino é um homem que, inconscientemente, não gosta das mulheres e tenta destruir a autoestima de qualquer parceira que esteja ao seu lado. Para isso, é capaz de simular comportamentos que agradem no início para depois tornar-se grosseiro e inconveniente; humilhar sua parceira em público enquanto trata bem seus amigos homens; fazer exatamente o contrário do que percebe que agrada; e por aí vai.
Você começa seu e-mail dizendo que esse homem nunca foi ligado à relação. Será? Um homem que ficou 15 anos num casamento anterior, que sofreu quando o casamento terminou, que está com você já há algum tempo não parece desligado. Talvez ele seja uma pessoa que não foi treinado para expressar seus sentimentos ou perceber sentimentos dos outros. E uma pessoa de quem é cobrado algo que ela não sabe expressar, em geral torna-se agressiva.
Parece que você tem vontade de preservar essa relação apesar de tudo, não é? Vamos então aos pontos que devem ser trabalhados.
Como preservar a relação
1º) Em primeiro lugar: concentrar toda sua energia na relação amorosa vai fazer com que você espere algo parecido de seu parceiro. E, apesar de ele ser uma pessoa que fica no relacionamento, não parece uma pessoa que se joga com tudo na relação. Assim, tente encontrar um equilíbrio e não faça do relacionamento o centro de sua vida. Ele deve ser apenas um dos aspectos a serem considerados como fonte de mobilização . O resto você tem que descobrir em outras fontes: trabalho, amizades, família, lazer, por exemplo.
2º) Tente descobrir também a melhor forma de expressar aquilo que você quer dele. De nada adianta ficar esperando passivamente que ele descubra seus sentimentos ou atenda seus desejos. Se a forma que você usa para se expressar não o atinge, tente outra. E depois outra, e mais outra até chegar a uma forma de expressão que o atinja mais. Por exemplo: se você ficou chateada com algo que ele fez, nem sempre a explicitude resolve. Quando você reclama explicitamente para alguém, esse alguém tende a se defender agredindo. Às vezes, se você demonstrar seu descontentamento ficando calada, por exemplo, a pessoa pode perceber que há algo estranho no ar e, na tentativa de entender o que está acontecendo, tomar consciência de como você funciona.
3º) Tente encontrar também interesses em comum do casal. Você menciona muito sua frustração por não ser entendida, mas não sabemos se ele se sente entendido por você. Afinal, quando um casal planeja algo junto ou conversa sobre temas do interesse dos dois as coisas fluem melhor do que quando um tenta fazer do outro a fonte de satisfação dos próprios desejos.
4º) Por fim, tente decidir se ainda quer continuar casada com esta pessoa. Casamento não é e nem deve ser uma prisão, é uma escolha. Se a escolha foi boa por um tempo, mas não é mais, saia dela. Muitas vezes é melhor sair de uma situação amorosa inconveniente e arriscar na procura de outra melhor enquanto ainda dá tempo, do que ficar lamentando e se vitimizando depois pela péssima vida amorosa que viveu. É uma solução mais digna.
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.