Por Oscar D’Ambrosio
Montar quebra-cabeças pode ser um passatempo, mas também uma forma de construir uma metáfora sobre a existência. É o que mostra o filme ‘O Quebra-Cabeça’ (‘Puzzle’, EUA, 2018), baseado no filme ‘Rompecabezas’, dirigido pela cineasta argentina Natalia Smirnoff em 2009. Em ambos, a ideia de que é possível organizar o caos interno predomina.
Dirigido por Marc Turtletaub, o filme conta a vida cotidiana de uma típica dona de casa americana que se dedica integralmente ao marido e aos dois filhos adolescentes sem ter uma vida própria. Quando recebe um quebra-cabeças de presente de aniversário, percebe ter um talento incomum para organizar aquelas peças.
Respondendo a um anúncio de um participante de competições do gênero, passa a reconstruir a sua vida. Não se trata apenas de treinar e de participar, mas de reestruturar a família e seus próprios passos. Realizar o sonho dos jovens e os dela mesma recoloca a vida em perspectiva.
Tudo ocorre com extrema delicadeza, sem sobressaltos. As transformações não são do dia para a noite. Mesmo quando ocorrem num arroubo, são resultado de um processo em que detalhes se somam para chegar a um momento de quase epifania, em que não há divindade, mas uma percepção mais precisa do que se deseja e daquilo que precisa ser feito para atingir o que se almeja.
Mudar não é fácil… E o filme trata do tema com sutileza, usando quebra-cabeças como símbolo das mudanças internas e externas pelas quais passamos a todo momento.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.