O estilo de vida sedentário e o consumo de dietas hipercalóricas contribuem para o risco aumentado de obesidade, mas há outros fatores; saiba
Nas últimas décadas, as taxas de obesidade e diabetes tipo 2 aumentaram expressivamente em todo o mundo. A obesidade é um contribuinte estabelecido para diabetes, bem como um componente central da síndrome metabólica, caracterizada por acúmulo de gordura abdominal, hipertensão arterial, resistência à insulina ou diabetes, níveis elevados de glicose e colesterol no sangue. O estilo de vida sedentário e o consumo de dietas hipercalóricas contribuem para os riscos aumentados de obesidade e síndrome metabólica. Somando-se a isso temos fatores genéticos, ambientais e alterações na microbiota intestinal (disbiose).
Estresse físico e mental
Um ponto agravante é o estresse. Nesse sentido, vários estudos têm mostrado que o sofrimento psicológico está associado à inatividade física e ao alto consumo de alimentos não saudáveis, como comidas com alto índice glicêmico, produtos ultraprocessados, doces e salgadinhos, além de baixo consumo de alimentos ‘limpos’, como carne, peixe, frutas e vegetais. Muitas pessoas desenvolvem hábitos alimentares ligados ao estresse, ansiedade ou depressão, o que pode resultar em “alimentação emocional” (comfort food).
Alimentação industrializada e ultraprocessada
Os alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, sódio, gorduras trans e aditivos, tornaram-se cada vez mais acessíveis e populares. Eles são mais baratos e convenientes, pobres em nutrientes e ricos em calorias vazias. Esse tipo de alimentação promove um aumento no consumo calórico, além de provocar uma resposta metabólica negativa no organismo, afetando principalmente a microbiota intestinal.
Sedentarismo
Com o avanço da tecnologia, as atividades físicas diárias diminuíram drasticamente. Muitas pessoas passam longas horas sentadas, seja no trabalho, no transporte ou em casa, assistindo TV, jogando games ou imersas em redes sociais. A falta de movimento reduz o gasto energético e contribui diretamente para o ganho de peso e o desenvolvimento de doenças metabólicas, como diabetes.
Distúrbios do sono
A privação do sono tem sido associada ao ganho de peso e a desequilíbrios metabólicos. O sono insuficiente altera hormônios reguladores da fome, como a grelina e a leptina, levando a um aumento no apetite, principalmente por alimentos ricos em carboidratos e gorduras. Situações de estresse e falta de sono também afetam a produção de hormônios, como o cortisol, que está conectado ao aumento da vontade de comer e ao ganho de peso.
Genética e epigenética
Embora a genética possa influenciar a predisposição ao ganho de peso, o ambiente tem um impacto muito maior. No entanto, a interação entre genes e ambiente, conhecida como epigenética, pode fazer com que certas condições hereditárias sejam exacerbadas por fatores ambientais, como dieta e estilo de vida. A globalização tem influenciado os hábitos alimentares de muitas sociedades, substituindo dietas tradicionais ricas em alimentos naturais por dietas ocidentalizadas, que são ricas em açúcares, sal e gorduras não saudáveis, os famigerados alimentos ultraprocessados.
Ambiente obesogênico e propaganda massiva
Hoje, o ambiente ao nosso redor favorece o ganho de peso. Em muitas cidades, há falta de espaços públicos adequados para atividades físicas, e a disponibilidade de ‘fast food’ é muito maior do que a de opções saudáveis. Indústrias alimentícias investem pesado em propaganda, muitas vezes focando em públicos vulneráveis, como crianças e adolescentes. Isso cria um ambiente que promove o consumo excessivo de alimentos pouco nutritivos. Além disso, praticar o hábito alimentar saudável é menos atrativo ou difícil (dá mais trabalho para preparar), se comparado aos alimentos rápidos e processados, de consumo instantâneo.
O desconhecimento geral sobre nutrição acaba levando a erros alimentares. Muitas populações têm acesso limitado a cuidados médicos de qualidade e a educação sobre alimentação saudável e atividade física. A falta de políticas públicas que incentivem hábitos saudáveis, principalmente nas classes mais baixas, agrava a situação. Curiosamente, este problema não afeta apenas as populações mais carentes. Em populações de alta renda, espera-se que a obesidade grave dobre sua prevalência de 10 para 20% até 2035, representando uma enorme ameaça para os sistemas de saúde.
Consequências
Esses fatores de risco do estilo de vida aumentam fortemente as chances de obesidade e doenças associadas. O resultado dessas combinações é um aumento preocupante na incidência de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, esteatose hepática e vários tipos de câncer, além de problemas psicológicos ligados à imagem corporal e autoestima. A obesidade, em geral, causa uma grande redução na expectativa de vida.
O que fazer?
Precisamos de uma abordagem integrada, que inclui políticas públicas eficazes, conscientização sobre alimentação, incentivo à prática de atividades físicas e uma mudança cultural em relação ao modo como nos alimentamos e cuidamos do corpo. Em vez de pizza ou hambúrguer com fritas, muito melhor é um prato de arroz, feijão, bife e salada. Ou seja, para emagrecer, desinflamar e ter saúde, as modificações no estilo de vida são essenciais.
Referências
*Adv Exp Med Biology 2024. The Definition and Prevalence of Obesity & Metabolic Syndrome: Correlative Clinical Evaluation Based on Phenotypes.
*PLoS One 2024. Microevolutionary hypothesis of the obesity epidemic.
*Current Obesity Reports 2023. Update on the Obesity Epidemic: After the Sudden Rise, Is the Upward Trajectory Beginning to Flatten?
*Science Advances 2023. Emergence of the obesity epidemic preceding the presumed obesogenic transformation of the society.