Alimentos ultraprocessados aceleram o envelhecimento do cérebro
Alimentos ultraprocessados incluem uma grande variedade de produtos como lanches doces ou salgados embalados, confeitaria industrializada, pão de forma, refrigerantes e bebidas açucaradas, iogurtes e bebidas lácteas, cereais matinais, nuggets de carne, frango ou peixe, produtos de carne reconstituídos, biscoitos e outras guloseimas, macarrão instantâneo, sopas de pacote, refeições prontas congeladas. Infelizmente eles se tornaram itens básicos da dieta para muitos, e podem causar danos ao no corpo e no cérebro.
Longas listas de ingredientes
Ultraprocessados são tipicamente caracterizados por longas listas de ingredientes que não se encontram na sua cozinha, como aditivos artificiais, conservantes, adoçantes e corantes. Estes produtos são hiperpalatáveis, têm longa vida útil e preço acessível, tornando-os uma escolha popular. No entanto, seu valor nutricional é comprometido, carentes de nutrientes essenciais e ricos em gorduras não saudáveis, açúcares e sódio. Estudos recentes destacaram associações alarmantes entre o consumo desses alimentos e resultados adversos para a saúde do cérebro.
Pesquisa
Pesquisadores de diversas universidades médicas analisaram dados de quase 35.000 participantes durante 5 anos, examinando os hábitos alimentares e a saúde do cérebro. Pessoas com maior consumo de alimentos ultraprocessados exibiram um declínio mais rápido nas funções cognitivas, incluindo memória, atenção e funcionamento executivo, sugerindo uma aceleraração do envelhecimento cerebral com prejuízo das habilidades cognitivas. Houve alterações na estrutura cerebral, medidas por ressonância magnética, com redução do volume de substância cinzenta. O estudo, publicado em junho de 2024 na revista Neurology, também encontrou uma forte correlação entre a alta ingestão de ultraprocessados e um risco maior de desenvolver demências e Alzheimer. Além disso, os alimentos ultraprocessados contribuem para a inflamação crônica e o estresse oxidativo, ambos prejudiciais à saúde do cérebro.
Impacto negativo no cérebro
Os efeitos nocivos dos alimentos ultraprocessados no cérebro são atribuídos a vários fatores:
- Deficiências nutricionais: geralmente estes produtos são desprovidos de nutrientes essenciais como vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, vitais para a saúde cerebral.
- Alto teor de açúcar e gordura: consumo excessivo de açúcares, xarope com alto teor de frutose, e óleos ricos em ômega-6 e gordura trans pode levar à resistência à insulina e inflamação, ambas ligadas ao declínio cognitivo.
- Corantes e conservantes: estas moléculas podem ter efeitos neurotóxicos, potencialmente alterando a função cerebral e contribuindo para problemas de saúde mental.
- Eixo intestino-cérebro: ultraprocessados afetam negativamente a saúde intestinal, o que por sua vez afeta o cérebro.
Impacto negativo no corpo
Além de afetar o cérebro, os alimentos ultraprocessados podem aumentar o risco de obesidade, diabetes, câncer, doenças cardíacas. Há vários aditivos que afetam a função de barreira intestinal e predispõem a doenças autoimunes: açúcares diversos, emulsionantes, solventes, glúten, transglutaminase microbiana (uma ‘cola’ alimentar adicionada à carne processada, peixe, laticínios), nanopartículas (melhoram sabor, cor e textura dos alimentos). Estudos recentes mostram que aditivos alimentares também podem alterar a função da tireoide e causar alergias.
Processos industriais e aditivos
Sua produção inclui processos industriais que modificam radicalmente a estrutura molecular do alimento, como hidrogenação, hidrólise, extrusão, moldagem, remodelação e pré-processamento por fritura. Aditivos cosméticos são adicionados para imitar os alimentos naturais, ou para disfarçar qualidades indesejáveis da produção final, como odor, cor, aspecto, forma.
Cosméticos alimentares
Muitos acreditam que alimentos rotulados como natural, orgânico, livre de transgênicos, baixo teor de gordura, zero açúcar, zero colesterol, glúten free, sem lactose, são escolhas saudáveis. A publicidade alimentar adora rótulos que focam no que NÃO está nos alimentos, como gordura, sódio, açúcar, glúten, colesterol, lactose. Nada disso mede o grau de processamento. Pouca atenção é dada aos cosméticos alimentares, aditivos como conservantes, saborizantes, corantes, aromatizantes, emulsificantes, espessantes, utilizados para tornar palatáveis e atraentes ingredientes baratos, como óleos processados, açúcares refinados e amidos (farinhas).
Gordos, inflamados, dementes e doentes
Pesquisas realizadas no Brasil mostram que alimentos ultraprocessados contribuem com até 50% do consumo diário de energia! Os alimentos ultraprocessados têm o pior perfil de nutrientes, no entanto, são os produtos embalados mais disponíveis nos supermercados, estrategicamente posicionados para atrair a atenção e promovidos em encartes coloridos. Por isso estamos cada vez mais gordos, inflamados, dementes e doentes.
Referências
*Neurology 2024. Associations Between Ultra-Processed Food Consumption & Adverse Brain Health Outcomes.
*Proc Nutrition Society 2024. How & why ultra-processed foods harm human health.
*Nat Rev Gastroenterology & Hepatology 2024. Ultra-processed foods & food additives in gut health & disease.
*Clinical Nutrition 2024. Ultra-processed foods & human health: An umbrella review & updated meta-analyses.
*Nutrients 2023. Low-Grade Inflammation & Ultra-Processed Foods Consumption: A Review.